sexta-feira, 21 de dezembro de 2007
sábado, 15 de dezembro de 2007
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
Vamos, entretanto evitar mal-entendidos.
"...A excessiva, grave e mórbida atenção, assim excitada por objetos absolutamente frívolos, não deve ser confundida em sua natureza com a tendência à meditação comum a todos os seres humanos, a que se entregam, em especial, as pessoas de imaginação ardente. Nem mesmo era, como a princípio se poderia supor, uma condição extrema, exagerada, dessa tendência, mas uma situação fundamental e nitidamente diversa. Naquele caso, o sonhador, ou cismático, ao interessar-se por um objeto usualmente não-trivial, imperceptivelmente vai perdendo de vista esse objeto, enredando-se num emaranhado de deduções e sugestões resultantes daí, até que, ao final de um dia não raro pleno de voluptuosidade, desaparece o incitamentum ou causa primeira de seus devaneios, inteiramente afundado no esquecimento."
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quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
A Metamorfose
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sábado, 17 de novembro de 2007
Nada nos humilha mais do que a coragem alheia.
Esse primeiro palpitar da seiva, essa revelação da consciência a si própria, nunca mais me esqueceu, nem achei que lhe fosse comparável qualquer outra sensação da mesma espécie. Naturalmente por ser minha. Naturalmente também por ser a primeira.
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quarta-feira, 14 de novembro de 2007
.a tenção.
- Vou namorar."
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segunda-feira, 29 de outubro de 2007
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Bertold Brecht
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
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sexta-feira, 5 de outubro de 2007
Minha Menina e a Menina Dela.
Pois o amor sempre vem daquele outro lugar, da outra metade. A irremediável necessidade de um dia ser alguém em totalidade veio agora bater-lhe a porta, não chegou de forma brusca, não apanhou apenas de toalha e não trouxe cobranças, veio na figura de alguém feliz, travou um discurso lírico e comprovou todos os laços afetivos. Afinal para ela ser mãe não é simplesmente existir, é ser um emaranhado de sentimentos tão profundos e sinceros que não tolera limites.
Conte comigo.
lg
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quarta-feira, 3 de outubro de 2007
O mesmo Deus que dá, tudo toma.
Quando chegar o momento esse meu sofrimento vou cobrar com juros, JURO!
Todo esse amor reprimido, esse grito contido, este samba no escuro
Você que inventou a tristeza ora, tenha a fineza de desinventar
Você vai pagar e é dobrado cada lágrima rolada nesse meu penar.
Ainda pago pra ver o jardim florescer qual você não queria
Você vai se amargar vendo o dia raiar sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir que esse dia há de vir antes do que você pensa
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sábado, 29 de setembro de 2007
Escuta aqui, terráqueo, deixa de ser débil mental.
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sexta-feira, 21 de setembro de 2007
.o homem é a cloaca do universo.
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quarta-feira, 19 de setembro de 2007
Deu-lhe um belo nome: a inquietante estranheza
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domingo, 16 de setembro de 2007
Apêndice vivo de um mecanismo morto.
De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
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Infelizmente a aparência é um dado imediato diferente da essência.
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto o mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E a mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes
E foste um difícil começo, afasto o que não conheço
E quem vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso
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segunda-feira, 10 de setembro de 2007
terça-feira, 4 de setembro de 2007
Penso em tudo o que me disseste
A Cartola do afeiçoado senhor trepidou sutilmente cumprimentando a formosa donzela. Logo pela manhã o dia fazia-se agradável. De sol calmo. Uma parada no requintado café ORLEANS. A visita à loja de vinil era indispensável, porém, apenas desta vez, para evitar o atraso, rumou ao encontro de Sofia. Alguém em todo aquele vilarejo pensava nos prazeres da carne.
lg
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segunda-feira, 3 de setembro de 2007
Uma perfeita forma de dominação autoritária: o trabalho.
Se todo mundo gosta tanto de trabalhar porque não desistimos da felicidade preguiçosa e importamos de uma vez por todas a civilização européia? Só que daí teríamos que trazer também o que provavelmente faríamos questão de esquecer por lá: os movimentos revolucionários, as guerrilhas, o terrorismo, a anarquia.
Lembrado por Lg. às 23:15 1 ...plebiscito...
SULISTAS
É claro que o Brasil sempre teve governos autoritários com alguns breves momentos de democracia. Então não adianta achar que ser democrático é dar o mesmo peso para a opinião de todos os cidadãos, sendo que só o Sul é industrializado o suficiente para segurar o resto do país. O Primeiro Mundo já provou que o trabalho, o desenvolvimento são os únicos caminhos de se chegar realmente à liberdade democrática, então para que perder tempo com as questões que não levam o lugar algum? Pessoas que trabalham dezesseis horas por dia ainda têm que ficar ouvindo essas discussões sobre formas de dominação, ficar divagando sobre quem domina quem. Só dá para divagar, se tiver gente trabalhando para segurar o país.
Se todos tivessem trabalho, os problemas com a liberdade ficam bem mais simples. A liberdade de consumo foi a única que deu certo até hoje, é por isso que os sulistas que compreendem esse espírito progressista brasileiro, é que têm o papel de gerar a identidade nacional. Esse nosso comportamento baseado no trabalho é o único capaz de preservar o país unido atualmente.
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Uma perfeita forma de dominação autoritária: a felicidade.
Se todo mundo prefere ficar feliz, por que não desistimos de vez da bandeira “ordem e progresso” e assumimos definitivamente essa ficção barata da felicidade moribunda, podre, mijada, essa imagem aprimorada da brasilidade enlatada que é boa pra todo mundo? Eu já estou calejada demais pra faturar com isso.
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domingo, 2 de setembro de 2007
Andréa Dória
E o mundo então seria um livro aberto,
Até chegar o dia em que tentamos ter demais,
Vendendo fácil o que não tinha preço.
Eu sei - é tudo sem sentido.
Quero ter alguém com quem conversar,
Alguém que depois não use o que eu disse
Contra mim.
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sexta-feira, 31 de agosto de 2007
Vinicius de Moraes
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Será que ela mexe o chocalho ou o chocalho é que mexe com ela
O povo é que é sempre o sacrificado. Enquanto o condutor corria o guarda começou a apitar, que o bonde tinha parado no meio da luz verde aberta para os carros em direção contrária; parecia o dia de juízo, o bonde parado, os automóveis buzinando, o guarda apitando e sacudindo os braços, o pessoal do bonde rindo que era ver uns demônios. Afinal o bonde partiu, e que isso tudo acontecia porque o Governo promete mas não cumpre o dispositivo constitucional — sim, meus senhores, constitucional! — da mudança da capital da República. Imagine que delícia o Rio ficar livre de toda a laia dos burocratas, pelo menos um milhão de pessoas iria embora, e que maravilha o Rio com um milhão de vagas nos transportes, um milhão de vagas nas residências, um milhão de bocas a menos, para comer o nosso mísero abastecimento!
E aí o bonde inteiro aplaudiu, cada qual só pensava na vaga a seu lado. E, se aquele bonde fosse maior, talvez nesse dia, no Rio de Janeiro, houvesse uma revolução.
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quinta-feira, 30 de agosto de 2007
Em sentir sua frescura delicada, alegrezinha e cega, aqueles pedaços timidamente vivos, o coração da pessoa se enternecia úmido quase ridículo.
Então, a gente resolve que não pode dar um tapinha na bunda nem obrigar a criança a comer verdura, isso também então já é um ponto pacífico, a gente nunca pode obrigar a criança a comer verdura, ela tem que comer o que quiser, porque o corpo sente necessidade das coisas, então quando a criança sentir necessidade de verdura, ela vai pedir verdura, não é para obrigar a criança a comer nada. Aliás, não é para obrigar a criança a nada, onde já se viu? veja aí os índios, que criam as crianças soltas e deixam elas fazerem o que querem. Então a gente cria os filhos sem tapinha na bunda, não obriga a comer verdura, não fica bravo quando eles xingam uma pessoa mais velha, e o que acontece? O filho vira um tarado sexual, um delinqüente, e a sobrinha que estuda Psicologia na USP diz que nosso filho ficou assim porque não teve pais que mostrassem as regras sociais, que as crianças precisam e até gostam que a gente demonstre autoridade, que isso dá mais segurança pra elas.
Qualquer coisa mesmo que você faça, se você bater ou não bater, se você obrigar os filhos a comer verduras, ou não obrigar, se você ensinar os filhos a respeitarem os mais velhos, ou não ensinar, tanto faz como tanto fez, o que acontece é que todos os nossos filhos vão acabar uns tarados sexuais e uns delinqüentes, essa é que é a verdade, uns tarados e uns delinqüentes que....
— Bilu, bilu, fala papai, fala, pa-pai...
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Dizia que homem covarde não é cabra, é percevejo.
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segunda-feira, 27 de agosto de 2007
O vento vai dizer lento o que virá...
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quinta-feira, 23 de agosto de 2007
Ao modo de Woolf
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As vozes do Morto
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terça-feira, 21 de agosto de 2007
E UMAS PITADAS DE ROTINA
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quinta-feira, 16 de agosto de 2007
Fase boa
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quarta-feira, 15 de agosto de 2007
parabéns...
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terça-feira, 14 de agosto de 2007
O Auto-Retrato
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domingo, 5 de agosto de 2007
sábado, 28 de julho de 2007
Exijo respeito, não sou mais um sonhador.
E se esse frio não chegasse ao coração simplesmente não notaria os arrepios. Mas ele chega. Se pelo menos com essa velhice viesse às rugas, mas elas não vêm. Meramente uma velhice psicológica, a mesma que tranca pessoas
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sábado, 21 de julho de 2007
Saudade
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terça-feira, 17 de julho de 2007
Bugio Moqueado
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segunda-feira, 16 de julho de 2007
ALEGRIA DE ESTAR COM VOCÊ
Hollywood fica ali bem perto,
só não vê quem tem um olho aberto
Ói nós aqui, Ói nós aqui,
Hollywood é um sonho de cenário,
Vi um pau-de-arara milionário
E eu que nem sonhava conhecer o tal Recife,
Pobre saltimbanco trapalhão.
Hoje sou mocinho, sou vizinho do xerife,
dou rabo-de-arraia em tubarão
Ói nós aqui, Ói nós aqui,
Tem de tudo nessa Hollywood,
Vi um índio cheio de saúde
Ói nós aqui, Ói nós aqui,
How do you do?
Caruaru, I wanna see piripipi. Ói nós aqui
Ói nós aqui, Ói nós aqui,
Camelôs, malucos e engraxates,
Aproveitem enquanto o sonho é grátis
Quem há de negar que é bom dançar, que a vida é bela,
neste fabuloso Xanadu.
Eu só tenho medo de amanhã cair da tela
e acordar na casa do Bubu
Ói nós aqui, Ói nós aqui,
How do you do?
Banabuiú, I wanna buy o Paraguai.
Hollywood and me
Ói nós aqui (vixe!)
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quinta-feira, 12 de julho de 2007
O SOLDADO JACOB
O Hospital da "Charité" é dirigido pelo célebre psiquiatra Dr. Luys, cujos estudos recentes sobre o magnetismo, tanta discussão têm provocado. De fato, o ilustre médico tem ressuscitado, com o patrocínio do seu alto valor científico, teorias que pareciam definitivamente sepultadas. Não é delas, porém, que lhes quero falar.
Havia no hospital, há vinte e três anos, um velho soldado maníaco, que eu, como todos os médicos que freqüentam o estabelecimento, conhecia bastante. Era um tipo alto, moreno, anguloso, de longos cabelos brancos. O que tornava extraordinária a sua fisionomia era o contraste entre a tez carregada, os dentes e os cabelos alvíssimos, de um branco de neve imaculada, e os indescritíveis olhos em fogo, ardentes, e profundos. A neve daqueles fios alvos derramados sobre os ombros e o calor daqueles olhos que porejavam brasas atraíam, invencíveis, a atenção para o rosto do velho.
Havia, porém, outra cousa para prendê-la mais. Constantemente, um gesto brusco e mecânico, andando ou parado, os seus braços encolhiam-se e estendiam-se, nervosos, repetindo alguma cousa que parecia constantemente querer cair para cima dele. Era um movimento de máquina, um solavanco rítmico de pistão, contraindo-se e distendendo-se, regular e automaticamente. Sentia-se bem, à mais simples inspeção, que o velho tinha diante de si um fantasma qualquer, qualquer, alucinação do seu cérebro demente - e forcejava por afastá-la. Às vezes quando os seus gestos eram mais bruscos, o rosto assumia um paroxismo tal de pavor, que ninguém se furtava à impressão terrificante de tal cena. Os cabelos ouriçavam-se sobre a sua cabeça (era um fenômeno tão francamente visível, que nós o seguíamos com os olhos) e de todas as rugas daquele rosto amorenado desprendia-se um tal influxo de pavor e a face lhe tremia de tal sorte, que, na sua passagem, bruscamente, fazia-se um silêncio de morte.
Os que entram pela primeira vez em uma clínica de moléstias mentais têm a pergunta fácil. Vendo fisionomias estranhas e curiosas, tiques e manias que julgam raras, multiplicam as interrogações, querendo tudo saber, tudo indagar. Geralmente as explicações são simples e parecem desarrazoadas. Uma mulher que se expande em longas frases de paixão e arrulha e geme soluços de amor, com grandes atitudes dramáticas, - todos calculam, ao vê-la, que houve talvez, como causa de sua loucura, algum drama pungentíssimo.
Indagado, vem-se a saber que o motivo da sua demência foi alguma queda que interessou o cérebro. E esse simples traumatismo teve a faculdade de desarranjar de um modo tão estranho a máquina intelectual, imprimindo-lhe a mais bizarra das direções.
Assim, os que freqüentam clínicas psiquiátricas por simples necessidade de ofício, esquecem freqüentemente este lado pitoresco das cenas a que assistem e, desde que o doente não lhes toca em estudo, desinteressam-se de multiplicar interrogações a seu respeito. Era isto o que me tinha sucedido, acerca do velho maníaco.
Ele tinha livre trânsito em todo o edifício; era visto a todo instante, ora aqui, ora ali, e ninguém lhe prestava grande atenção. Da sua história nunca me ocorrera indagar cousa alguma.
Uma vez, porém, eu vim a sabê-la involuntariamente.
Nós estávamos no curso. O professor Luys dissertava sobre a conveniência das intervenções cirúrgicas na idiotia e na epilepsia. Na sala estavam três idiotas: dois homens e uma mulher e cinco casos femininos de epilepsia. O ilustre médico discorria com a sua clareza e elevação habituais, prendendo-nos todos à sua palavra.
Nisto, entretanto, o velho maníaco, conseguindo iludir a atenção do porteiro, entrou. No seu gesto habitual de repulsa, cruzou a aula, afastando sempre o imaginário vulto do espectro, que a cada passo lhe parecia embargar o caminho. Houve, porém, um momento em que a sua fisionomia revelou um horror tão profundo, tão medonho, tão pavoroso, que de um arranco as cinco epiléticas ergueram-se do banco, uivando de terror, uivando lugubremente como cães, e logo após atiraram-se por terra, babando, escabujando, entremordendo-se com as bocas brancas de espuma, enquanto os membros, em espasmos, agitavam-se furiosamente.
Foi de uma dificuldade extrema separar aquele grupo demoníaco, de que, sem tê-lo visto, ninguém poderá fazer uma idéia exata.
Só, entretanto, os idiotas, de olhos serenos, acompanhavam tudo, fitando sem expressão o que se passava diante deles.
Um companheiro, ao sairmos nesse dia do curso, contou-me a história do maníaco, chamado em todo o hospital o "soldado Jacob". A história era simplíssima.
Em 1870, por ocasião da guerra franco-prussiana, sucedera-lhe, em uma das pelejas em que entrara, rolar, gravemente ferido, no fundo de um barranco. Caiu sem sentidos, com as pernas dilaceradas e todo o corpo chagado da queda. Caiu, deitado de costas, de frente para o alto, sem poder mover-se. Ao voltar a si, viu, porém, que tinha sobre si um cadáver, que, pela pior das circunstâncias, estava deitado justamente sobre seu corpo, rosto a rosto, frente a frente.
Era a vinte metros ou mais abaixo do nível da estrada. O barranco constituía um extremo afunilado, do qual não havia meio de fugir. Não se podia afastar o defunto. Por força ele havia de descansar ali. Demais, o soldado Jacob, semimorto, não conservava senão o movimento dos braços e esse mesmo muito fraco. O corpo - uma chaga imensa - não lhe obedecia à vontade: jazia inerte.
Como deve ter sido medonha aquela irremissível situação!
Ao princípio, cobrando um pouco de esperança, ele procurou ver se o outro não estaria apenas desmaiado; e sacudiu-o vigorosamente - com o fraco vigor dos seus pobres braços tão feridos. Depois, cansado, não os podendo mais mover, tentou ainda novo esforço, mordendo o soldado caído em plena face. Sentiu, com uma repugnância de nojo sem nome, a carne fria e viscosa do morto - e ficou com a boca cheia de fios grossos da barba do defunto, que se haviam desprendido. Um pânico enorme gelou-lhe então o corpo, ao passo que uma náusea terrível revolvia-lhe o estômago..
Desde esse instante, foi um suplício que não se escreve - nem mesmo, seja qual for a capacidade da imaginação, - se chega a compreender bem! O morto parecia enlaçar-se a ele; parecia abafá-lo com o peso, esmagá-lo debaixo de si, com uma crueldade deliberada. Os olhos vítreos abriam-se sobre os seus olhos, arregalados em uma expressão sem nome. A boca assentava-se sobre a sua boca, num beijo fétido, asqueroso...
Para lutar, ele só tinha um recurso: estender os braços, suspendendo a alguma distância o defunto. Mas os membros cediam ao cansaço e vinham, aos poucos, descendo, descendo, até que de novo as duas caras se tocavam. E o horrível era a duração dessa descida, o tempo que os braços vinham vergando de manso, sem que ele, cada vez sentindo mais a aproximação, pudesse evitá-la! Os olhos do cadáver pareciam ter uma expressão de mofa. Na boca, via-se a língua empastada, entre coalhos negros de sangue, e a boca parecia ter um sorriso hediondo de ironia...
* * *
Quanto durou esta peleja? Poucas horas talvez, para quem as pudesse contar friamente, longe dali. Para ele, foram eternidades.
O cadáver teve, entretanto, tempo de começar a sua decomposição. Da boca, primeiro às gotas e depois em fio, começou a escorrer uma baba esquálida, um líquido infecto e sufocante que molhava a barba, a face e os olhos do soldado, deitado sempre, e cada vez mais forçosamente imóvel, não só pelas feridas, como também pelo terror, de instante em instante mais profundo.
Como o salvaram? Por acaso. A cova em que ele estava era sombria e profunda. Soldados que passavam, suspeitosos de que houvesse ao fundo algum rio, atiraram uma vasilha amarrada a uma corda. Ele sentiu o objeto, puxou-o repetidas vezes, dando sinal da sua presença, e foi salvo.
Nos primeiros dias, durante o tratamento das feridas, pôde contar o suplício horroroso por que passara. Depois, a lembrança persistente da cena encheu-lhe todo o cérebro. Vivia a afastar diante de si o cadáver recalcitrante, que procurava sempre abafá-lo de novo sob o seu peso asqueroso..
* * *
Anteontem, porém, ao entrar no hospital achei o soldado Jacob preso num leito, com a camisola de força, procurando em vão agitar-se, mas com os olhos mais acesos do que nunca - e mais que nunca com a fisionomia contorcida por um terror inonimado e louco.
Acabava de estrangular um velho guarda, apertando-o contra uma parede, com o seu gesto habitual de repulsa. Arrancaram-lhe a vítima das mãos assassinas, inteiramente inerte - morta sem que tivesse podido proferir uma só palavra.
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quinta-feira, 21 de junho de 2007
Descançar...ai se eu pudesse!
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sábado, 16 de junho de 2007
Olê, olê, olê, olá
Não chore ainda não, que eu tenho um violão
E nós vamos cantar
Felicidade aqui pode passar e ouvir
E se ela for de samba há de querer ficar
Seu padre toca o sino que é pra todo mundo saber
Que a noite é criança, que o samba é menino
Que a dor é tão velha que pode morrer
...
Meu pinho, toca forte que é pra todo mundo acordar
Não fale da vida, nem fale da morte
Tem dó da menina, não deixa chorar
...
Luar, espere um pouco, que é pra o meu samba poder chegar
Eu sei que o violão está fraco, está rouco
Mas a minha voz não cansou de chamar
Olê, olê, olê, olá
Tem samba de sobra, ninguém quer sambar
Não há mais quem cante, nem há mais lugar
O sol chegou antes do samba chegar
Quem passa nem liga, já vai trabalhar
E você, minha amiga, já pode chorar
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quarta-feira, 6 de junho de 2007
Racionalismo...
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segunda-feira, 4 de junho de 2007
Fácil...
Cerca de 100 milhões de pessoas estão sem teto,
e eu reclamo quando tenho frio.
1 bilhão de analfabetos,
e eu tenho preguiça de consultar a gramática.
1,1 bilhão de pessoas vivem na pobreza, destas, 630 milhões são extremamente pobres, com renda per capta anual bem menor que 275 dólares;
reclamei quando não sobrou muito no fim do mês
1,5 bilhão de pessoas sem água potável;
tomei um banho de uma hora hoje
1 bilhão de pessoas passando fome;
E eu ligo pra minha família dizendo que não me acostumei com outros temperos
150 milhões de crianças subnutridas com menos de 5 anos (uma para cada três no mundo);
preciso emagrecer para mostrar aquele osso que as modelos exibem.
12,9 milhões de crianças morrem a cada ano antes dos seus 5 anos de vida;
meu sobrinho de 3 anos já diz que vai ser piloto.
No Brasil, os 10% mais ricos detêm quase toda a renda nacional,
mas a culpa é da instabilidade política.
E eu reclamo quando tenho frio.
Eu tenho preguiça de consultar a gramática.
E eu reclamo que não sobra muito no fim do mês.
Tomei um banho de uma hora hoje.
E eu ligo pra minha família dizendo que não me acostumei com outros temperos.
Preciso emagrecer para mostrar aquele osso que as modelos exibem.
Meu sobrinho de 3 anos já diz que vai ser piloto.
Mas é tudo culpa da instabilidade política.
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sexta-feira, 1 de junho de 2007
Das antigas.
Lembrado por Lg. às 08:27 8 ...plebiscito...
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quinta-feira, 31 de maio de 2007
ao DESCONHECIDO.
Ao longo dos montes têm neve ao sol
Mas é suave e o frio é calmo
Que alisa e agudece
Os dardos do sol alto.
Hoje, pericárpio, não nos escondamos,
Nada nos falta,
porque nada somos.
Não esperamos nada.
E temos frio ao sol.
Mas tal como é, gozemos o momento,
Solenes na alegria levemente,
E aguardando o amor. . .
Lembrado por Lg. às 15:03 0 ...plebiscito...
quarta-feira, 30 de maio de 2007
Uma noite fria.
Foi ocupada a cadeira ao lado. Olhei. Tinha certeza que viria, disse que veio por mim, acreditei tanto que uma felicidade súbita percorreu-me. Veio por minha causa! Convidei para um chá, não recusou meu convite, pensei que recusaria, mesmo sabendo que seria difícil receber uma recusa dessa grandeza. Não por ter partido da minha pessoa o convite, mas, chá em uma noite fria não é nada recusável. Saímos então do teatro. Confesso que estava bem mais quente quando ocupava eu a cadeira da sala escura, mas fui surpreendida com um abraço tão reconfortante que se quer desejei voltar. Sorriu. Devolvi o abraço e depois o sorriso. Porém foi a última vez, nessa noite, que repeti o gesto amigável. Enfim chegamos. Tomamos o chá, conversamos sobre páginas e páginas em comum, nos despedimos. Fiquei saudosa do abraço. De tudo ficou aquele sentimento nebuloso. E aquela saudade, uma imensa saudade...
Lembrado por Lg. às 20:31 9 ...plebiscito...
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