quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Rimbaud, Arthur. Uma temporada no inferno. Porto Alegre, RS: L&PM, 2015 (parte 1/2)

Vinícius de Moraes disse: "O maior de todos é Rimbaud". E Vinícius tinha lido tudo, e lido como grande poeta, sabia do que estava falando.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Paris.Dia posterior ao Natal, 1908 - Rilke

Última carta trocada entre Rilke e o general que pretendia ser poeta.

Roma.23.12.1903 Cartas a um Jovem Poeta - Rilke

O que a vida deve fazer desse acúmulo de equívocos a que muitos chamam união? Ou felicidade? Acabam cada um se perdendo por causa do outro e perde o outro o outro e muitos outros que ainda desejariam surgir.

Bremen.16.07.1903 Cartas a um Jovem Poeta - Rilke

Itália.05.04.1903 Cartas a um Jovem Poeta. Rilke

Vamos ao livro. Cartas a um Jovem Poeta. Primeira carta 17/02/1903

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

.Revela um procedimento pessoal, pode tirar a magia.

Uma palavra: mudança. Soa bem, me leva pra um lugar livre. Gosto muito quando me dizem: “obrigado”, me sinto útil. Ando a procura de uma coisa simples demais, mas que de tão simples, não encontrei. Uma cartilhazinha: não acreditar no ego em primeiro lugar, procurar rir de si mesmo, ter uma leitura permanente da impermanência, não ligar a palavra (possuir) a palavra (pessoa), talvez um olhar infantil para o mundo possa ser acrescentado. Tive medo, medo do medo. Até descobrir que o medo constrói, ou destrói, mas parado não fica. A vida é como é, as pessoas se enganam, se atrasam, você briga com elas, pede desculpa, faz as pazes, é assim, e é melhor aceitar e gostar que seja assim.

LG – uma intertextualidade  - substantivo feminino
Eu-fui-Tu-foste-Ela-foi-Nós-fomos-Vós-fostes-Elas-foram:

pretérito perfeito do indicativo

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

.Como é engraçado a vida, muitas vezes as coisas estão a nossa frente e nós não há enxergamos.

É certo que mal acabara o livro e já existia uma vontade súbita de reler Dom Casmurro, ou, Perto do Coração Selvagem, ou O Sofrimento do Jovem Werther. Cheguei a buscar na estante os três, estão sobre a mesa, em uma ordem que não antecede O Tesão e o Sonho, de Roberto Freire. O livro sempre foi um acalanto e um instrumento de segregação, quando não deveria servir para esse último fim. “Quanto sofrimento poderia ser evitado se as pessoas conhecessem e respeitassem os sentimentos dos outros” (p.58), lera e de fato concordara com essas palavras, queria era terminar logo esse livro e seria, de fato, hoje. Mas há de existir amor: “abraçaram-se por muito tempo. Como se pretendessem que os abraços e os beijos não dados pudessem ser resgatados num só instante” (p.94). O amor, essa construção da humanidade tão dúbia, que há tempos afasta pessoa por discordar disso ou daquilo, por uma interpretação inverídica de um possível ideal, faz perder as sutilizas dos sorrisos, dos carinhos, do que de fato é o amor. E vão construindo gaiolas (chamando aquilo de cuidado), vão erguendo muros (chamando aquilo de proteção), vão se afastando dos outros (chamando de ciúmes), e erroneamente dão a isso o nome de AMOR. Isso não é amor, nem pode ser considerado um ideal platônico,  isso é possessão, é quando pensamos que o outro nos pertence, é quando os dois se anulam em uma bolha imaginária de felicidade, fina e arriscada como bola de sabão. Mas como perder os laços? Em uma sociedade tão flexível cujos elos são cada vez mais raros, diria Bauman. Como esquecer os momentos felizes? Seria necessários esquecer? “Experimentou um momento de rara felicidade, do qual nunca se esqueceria” (p.95).

“Minhas glórias, meus amores, minhas dores eram todas singulares, apenas eu os podia ter vivido; os outros não experimentariam sentimentos tão profundos. Quanta ilusão! A dor é a mesma”.  (p.109)


PRADO, F. Perdoa-me. Barueri, SP: Novo Século Editora, 2013.

Um ensaio fúnebre, metafísico e filosófico sobre os sentimentos gelados: o EU e o nada.

Depois daquela noite tudo tinha virado arquivo. De fato mudara, mas mudara muito. Era como dizem: um divisor de águas. Se é para ficarmos sozinhos, que fiquemos então. Nos apresentemos a dor do parto. Era um estranho presente de natal, mas era a realidade e não se dá as costas a realidades. No começo era confuso entender o projeto de mudança, depois, com nenhuma tentativa de melhora, percebera que o enfermo estava morrendo. Era notório que o paciente apresentava pioras evidentes. Há uma certa imaturidade em tudo isso, mas não podemos cobrar maturidade nos momentos que não se cobra nada. Nem lágrimas. Seguimos então, como duas pessoas que se amaram muito e se perderam em alguma esquina. Sem contato, seguimos. Como mortos gelados que se esquecem nas mesas metálicas.
LG

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

.Era um livro de amor, mas o grifo era um grito de realidade.

Toninho chamava-se Antônio Oliveira, e era ele próprio inteligente e promissor causídico, mas, talvez por ter exercido as funções de office-boy no escritório, talvez por ser negro e de origem humilde, talvez por tudo isso, continuava Toninho, apesar de ter feito mestrado na USP.


PRADO, F. Perdoa-me. Barueri, SP: Novo Século Editora, 2013. (p.17)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

.Os Três Mal-Amados.

Joaquim:
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés.  Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.


As falas do personagem Joaquim foram extraídas da poesia "Os Três Mal-Amados", constante do livro "João Cabral de Melo Neto - Obras Completas", Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59.