terça-feira, 30 de setembro de 2008

.Esse papo meu ta qualquer coisa.


Não me amarra dinheiro não!
Mas a cultura
Dinheiro não!

Inconstancia das coisas do mundo!

Nasce o Sol e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tritezas e alegria.
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz falta a firmesa,
Na formosura não se dê constancia,
E na alegria sinta-se a triteza,
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza.
A firmeza somente na incostância.

Para um amigo, da linhagem dos Gregórios.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

sábado, 27 de setembro de 2008

.Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis.

Às vezes a gente vai-se fechando dentro da própria cabeça, e tudo começa a parecer muito mais difícil do que realmente é. A gente não deve perder a curiosidade pelas coisas: há muitos lugares para serem vistos, muitas pessoas para serem conhecidas.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

.Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.


"Mudei muito, e não preciso que acreditem na minha mudança para que eu tenha mudado"

.Tenho dias lindos, mesmo quietinhos.

Fiquei tão só, aos poucos. Fui afastando essas gentes assim menores, e não ficaram muitas outras. Às vezes, nos fins de semana principalmente, tiro o fone do gancho e escuto, para ver se não foi cortado. Não foi. Não choro mais. Na verdade, nem sequer entendo por que digo 'mais', se não estou certo se alguma vez chorei. Acho que sim, um dia. Quando havia dor. Agora só resta uma coisa seca. Dentro, fora. Num deserto de almas também desertas...
Abre, Caio F.

Prisoners .

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

.De você sei quase nada.


Morena vem cantar a toada
Zoada eu cansei de escutar
Cinema onde a luz não se
Esconde
Quem sabe o olho acusa
E a blusa da musa me veste
Amor palavra sem uso
Vacina da peste

.E os perfume ahhh os perfumes.

... as lágrimas deram forma as rugas de Adelma. Com o passar dos anos, toda a alegria e tristeza que a vida e a morte poderiam ter lhe dado, o seu rosto se modelou de forma que ela nunca se esquecesse de quem era e do que tinha vivido. "Chega um dia da vida em que de todas as pessoas que conhecemos, os mortos se tornam mais numerosos que os vivos..."

.Medo de ver seus planos frustrados, de serem traídas, enganadas.

Venho desenvolvendo aos poucos o hábito da indiferença. Estou aprendendo a não ter sentimentos muito exacerbados em relação a nada. A esse recuo emocional corresponde uma queda na energia: só as necessidades básicas - comida e sexo - conseguem agora me tirar do torpor. Hei de morrer me debatendo em apatia.

Nascer, crescer, ganhar dinheiro, reproduzir, ganhar dinheiro, morrer rico, incompleto, infeliz.

Kenneth Tynan em seu diário do dia 10 de agosto de 1973

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

.Vai morrer sem amar ninguém.

Quem diz muito que vai não vai! Assim como não vai não vem!

.Eu e Tu.

Caro Nietzsche mandaram eu parar de lê-lo, logo agora que aprendi a escrever seu nome (e que os russos fritem no inferno) caramba de idioma complicado, ha um dia atrás ainda consultava na capa do livro já surrado (falar que o livro está surrado da status, porque parece que você já consultou ele várias vezes, ou adquiriu-o de um ancião que tinha a primeira ou no máximo a segunda edição) enfim, sem parêntese gigantesco, estava na parte que o livro era “surrado” não é leitor, quero abrir um outro parêntese, com sua licença (quando era mais jovem ‘já gostava de Machado de Assis’ perguntei a uma professora ‘que hoje é minha amiga’ se eu poderia usar a técnica do ‘eu e tu’ nas minhas crônicas, a professora disse, Não, Não pode! Eu muito insistente ‘desde pequena’ disse, mas professora Machado de Assis usa a técnica do ‘eu e tu’ para dialogar com o leitor, porque eu não posso, e ela com aquele ar de professora ‘que particularmente eu adoro’ disse: querida, você não é Machado de Assis) encantadora não é mesmo. Viu só Nietzsche como as pessoas sofrem, como as pessoas precisam morrer para conseguir tornar eterno um termo ou uma especificidade lingüística, mas aqui estou eu viva e dialogando com você, isso é ‘eu e tu’ não é mestre? Tenho certeza que sim. Aproveito a minha ousadia em dialogar com o criador do “super-homem” e aproveitando mais ainda vou contar outra historinha. Essa é mais vergonhosa que a patada da professora. Estava contando-lhe sobre Machado de Assis, pois bem, vieram uns gringos visitar o meu querido Brasil, e esses, como poucos, não vieram para se deitar com morenas ‘abundantes – abundadas’ cheias de serpentina, vieram para colher dados sobre as obras de Machado, assim que colheram todos os materiais salpicados em diversas universidades públicas os gringos resolveram ir ao túmulo do Assis para tirar uma foto (que não era para ser fantasmagórica não) apenas queriam guardar uma recordação ‘viva – morta’ do escritor. Então seguiram acompanhados do prefeito de São Carlos da época (São Carlos Nietzsche é uma cidade aqui do nosso imenso Brasil, o Brasil é quase tão grande quanto seu bigode). Foram acompanhados do prefeito que dizia saber tudo de Machado aos gringos (e como gringo mexe com as autoridades né, assustador) por fim chegaram ao cemitério e procura de cá procura de lá cadê os restos mortais do gênio da literatura brasileira, nada de achar, indagam ao prefeito, where is the dead? Todos se inquietam e aquele embaraçar de idiomas começa a incomodar até que um dos gringos tem uma idéia (gringo adora ter idéia antes de brasileiros, isso também é assustador) vamos olhar no caderno de notas do cemitério, procuramos o número da cova e seguimos direto para lá. Os gringos fotografaram o prefeito, agora já desmascarado, pois nada sabia de Machado de Assis, procurando o nome dele entre a letra M, com o dedo indicador no livro...tiveram tempo de fotografar em muitos ângulos. Foi quando um dos gringos disse: caro prefeito tínhamos tempo de sobra e gostamos muito da companhia do senhor, por isso não falamos antes que o nome de seu escritor preferido é Joaquim Maria Machado de Assis, poderia o senhor procurar na letra J? Vergonhoso né Nietzsche, aconteceu aqui no Brasil e eu fiquei sabendo, ai quis contar para você, já que você me conta tantas coisas.

LG

terça-feira, 23 de setembro de 2008

.Eu só amo aquele que sabe viver.


"O homem é corda estendida entre o animal e o Super−homem: uma corda sobre um abismo; perigosa travessia, perigoso caminhar; perigoso olhar para trás, perigoso tremer e parar.

O que é de grande valor no homem é ele ser uma ponte e não um fim.”



Nietzsche

.Se acabar não acostumando.




Se acabar parado calado

Se acabar baixinho chorando

Se acabar meio abandonado

.Autoridade.



Pensais que procurais a verdade?
Procurais um líder
e quereis deixar-vos ser comandado com prazer!
Nietzche

.Monogamia.


A desvalorização dos prazeres oriundos da mera sensualidade.

...entre a entrega idealista e o desejo sexual, entre o pensamento amoroso e o simples interesse, entre o afeto etéreo e a paixão terrena.

.Referências.

Calor demais, trânsito em São Paulo, tudo parado.
De um lado: uma Mercedes com ar condicionado, uma madame e motorista;
Do outro: um fusquinha com um gordinho todo suado e a barba por fazer.
O gordinho xinga, buzina, faz um escarcéu por causa do trânsito até que a
madame baixa o vidro do Mercedes e diz:
- 'A paciência é a mais nobre e gentil das virtudes!': Shakespeare, em
'Macbeth'.
O gordinho:
- 'Vá tomar no cu!': Nelson Rodrigues, em 'A vida como ela é'.

domingo, 21 de setembro de 2008

.enquanto engolia com avidez aqueles vinhos caríssimos.

Tive as cultas refinadas e originais também. Mas que mão de obra, meu pai! Uma delas é inesquecível. Josete. Inesquecível por vários motivos. Mas principalmente pelo gosto exótico na comida e no sexo. Ela adorava tordos com aspargos. E pastelões de ostras. Era preciso que eu telefonasse uma semana antes para os maîtres dos tais restaurantes. Tordo?! Nunca sabiam se era um pássaro ou um peixe. Eu imagino hoje que ela sempre acabava comendo um sabiá. Com aspargos. O pastelão de ostras era mais fácil. Mas os vinhos para acompanhar aquilo tudo! Josete entendia de vinhos como se tivesse nascido embaixo duma parreira de Avignon. Depois desse inferno todo, ainda tínhamos que dançar, porque é delicioso dançar com você amor, se você tivesse mais tempo...
and a circle of lady golfers about him.

.Tudo isso é pobreza, imundície e conformidade lastimosa.



A hora em que digais: "Que importa a minha piedade? Não é a piedade a cruz onde se crava aquele que ama os homens? Pois a minha piedade não é uma crucificação". Já falaste assim? Já gritaste assim? Ah! Quem me dera ter-vos ouvido gritar assim!

Nietzsche

sábado, 20 de setembro de 2008

Pra quem sabe ler, pingo é letra!


saudade...

.Hoje é sábado, amanhã é domingo.

Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado
Hoje há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado
Há um rico que se mata
Porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado
Há um grande espírito-de-porco
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado
Há criançinhas que não comem
Porque hoje é sábado
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado

.Vinícius.

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.


Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.

.No caminho com Maiakovski.


Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

.De fato, muito científico!.

Um dos primeiros requisitos para que o homem seja apto a lidar com ferro fundido como ocupação regular é que ele seja tão estúpido e fleumático que mais se assemelha, no seu quadro mental, a um boi [...] O Operário que é mais adequado para o carregamento de lingotes é incapaz de entender a real ciência que regula a execução desse trabalho. Ele é tão estúpido, que a palavra “percentagem” não tem qualquer significado para ele.

Muito bonito.

F. W. Taylor, Scientific management [Ed. Brasileira.: Princípios de administração científica, SP, Atlas, 1990]

.Ou então devias fazer-me acreditar na Tua existência.


Onde estás quando Te preciso? Maroto, estás a ver televisão!

.Devias mandar matar tudo o que dói.

Oh! deus...
Devias escrever um comunicado ao mundo e dizer que não existes.
Tudo é mais real do que Tu.
Não o podes negar!
A dor existe. Eu sinto-a!
A Ti não Te sinto.
Sinto estas cordas que me amarram à melancolia
e me fazem prisioneiro deste
Teu mundo controlado pelo Teu tempo.

As cordas da melancolia existem.
Eu sinto-as!
A Ti não Te sinto…

.Hilda Hilst.


Pedi que se masturbasse à minha frente e ao mesmo tempo fingisse que lia. que livro devo ter nas mãos? o código penal, naturalmente. que eu gostava assim, ver a mulher como se ela estivesse mesmo a sós, largadona distraída...

ela: nunca fico largada
ah, é? nunca mesmo?
nem fico distraída
nem quando caga?
ofendeu-se como se eu a tivesse espancado. fui vestindo a cueca, as calças, a camisa e ia me mandando quando Licina
por favor, não vá
eu inteiro vestido reclamei, ah, não, vou sim, tenho horror de ficar me despindo a toda hora. atirou-se aos meus pés. fiquei pasmo. há muitos anos mulher nenhuma me fazia isso. só duas o fizeram, eu aos trinta. não era pela minha pica, não, era aquele saco de dinheiro que eu já costumava dar. mas Licina-Juno ainda não tinha visto o meu dinheiro. como qualquer rábula, deve lhe ter sentido o cheiro.

.Redemoinhar aos ventos.

Como farrapos, arrastar os pés sangrentos, a ir por aí...

.Prefiro escorregar nos becos lamacentos.

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

.Dito.

Vou rasgar-te ao meio.
Não…
Em pedaços!
Sim, vou rasgar-te em mil pedaços… Tantos quantos os cacos em que transformaste o meu coração, cujo a única coisa que fez, foi guardar-te lá dentro e deixar, inocentemente, que me fosses bombeada para o sangue e passasses a correr-me livre e descaradamente pela vida fora.
Vou fazer isso, tenho dito.
Ou não…
Falta-me a coragem!
Sim, essa cobarde que se esconde de mim sempre que mais preciso dela.
Que se lixe então a coragem ou a falta dela. Que te lixes tu! Continua a partir-me em cacos, que um dia eu descubro que a super cola existe e colo-me caco por caco só para te poder rasgar.
Aí sim, vou rasgar-te ao meio!
Tenho dito…

terça-feira, 16 de setembro de 2008

.Saudade.

Não, meu bem, não adianta bancar o distante: lá vem o amor nos dilacerar de novo...

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O SobSuspeitas está na Folha de Londrina.

sábado, 13 de setembro de 2008

.Néctar.

.. Mas só muito mais tarde, como um estranho flash-back premonitório, no meio duma noite de possessões incompreensíveis, procurando sem achar uma peça de Charlie Parker pela casa repleta de feitiços ineficientes, recomporia passo a passo aquela véspera de São João em que tinha sido permitido tê-lo inteiramente entre um blues amargo e um poema de vanguarda. Ou um doce blues iluminado e um soneto antigo. De qualquer forma, poderia tê-lo amado muito. E amar muito, quando é permitido, deveria modificar uma vida – reconheceu, compenetrado. Como uma ideologia, como uma geografia: palmilhar cada vez mais fundo todos os milímetros de outro corpo, e no território conquistado hastear uma bandeira. Como quando, olhando para baixo, a deusa se compadece e verte uma fugidia gota do néctar de sua ânfora sobre nossas cabeças. Mesmo que depois venha o tempo do sal, não do mel. ...

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

.A verdade.

Estou condenada ao mal do século, a liberdade, a boemia, a vida levada mansa; condenou-me o coração, meus olhos, minhas fantasias...os meus cobertores, a energia que sempre se esvaia. Quando precisei de calor o frio me condenou. Busquei sempre ser a condenada a ser aquela que vive em santuários, tive prestígio. Entrei para a escola cedo e dela sai letrada, habilidosa e propícia a nunca me deixar desejosa. Agora faço cursos intensivos e nada mais. Por aquelas velhas que se escondem detrás das batas eu desenvolvi o asco. Decidi ser tentada eternamente. Tenho certeza que não pagarei por isso, e, caso tenha que pagar que reforcem a pena três vezes.

LG

.O senão do livro.


E caem! - Folhas misérrimas do meu cipreste, heis de cair, como quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu tivesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar... Heis de cair.

.Sabes.


Dessa agudez que me rodeia, te amo ainda que isso te fulmine ou que um soco na minha cara me faça menos osso e mais verdade.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

.A grandeza de uma obra de arte está fundamentalmente no seu caráter ambíguo,que deixa ao espectador decidir sobre o seu significado.


O sistema vigente passou dos seus limites, transformou a arte, elemento quase divino, em uma mera mercadoria. A indústria cultural faz parte de um conjunto de fatores nocivos do nosso contexto social, junto com a política e a economia.

A indústria cultural é a chave para compreendermos o declínio em que estamos, da mercantilização dos valores humanos. Para que os meios de comunicação não corrompam as nossas crianças.

Horkheimer

.A Genealogia da Moral.

O fato de se poder confiar apenas precariamente na intenção, na promessa dos homens de observar as regras do convívio tem, segundo Nietzsche, uma história terrível.



Marca-se algo com fogo, para que fique na memória: somente o que não cessa de doer permanece na memória; é esta uma sentença da mais antiga psicologia na terra. Nunca ficou sem sangue, tortura e sacrifício, quando o homem achou necessário gravar algo na memória, os sacrifícios e oferendas mais repulsivos, mutilações mais repugnantes, as formas rituais mais cruéis de todos os cultos religiosos (e todas as religiões, na sua base mais profunda, são sistemas de atrocidades); tudo isso tem sua origem naquele instinto que adivinha na dor o mais poderoso auxiliar da mnemônica. [...]


Ah! A razão, a seriedade, o domínio sobre os afetos, toda esta coisa lúgubre que se chama pensar, todos estes privilégios e faustos do homem; quão caro eles se fizeram pagar! Quanto sangue e horror estão na base de todas as “coisas boas”!

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

.O poder político tem servido, em nossos tempos, para fins malignos.


Para sobreviver em semelhante atmosfera espantosa, tem que identifica-se de certo modo com ela,
afirmando-se incluso em certo sentido.
Horkheimer, Max.

domingo, 7 de setembro de 2008

.O poema.

Entraste.
A sério, olhaste
a estatura,
o bramido
e simplesmente adivinhaste:
uma criança.
Tomaste,
arrancaste-me o coração
e simplesmente foste com ele jogar
como uma menina com sua bola.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Novos caminhos para o Brasil

Quanto mais penso como os brasileiros são moldados para serem apáticos, mais me abalo. Quase quando se supera a dor do atraso criam-se novas dores, novos tormentos. Tardamos a nos desprender dos nossos males de origens, dos nossos colonizadores parasitários, da exploração no nosso solo e da nossa gente, e aqui ficamos sem pilares para que os indivíduos se reconhecessem como membros de uma nação. Assim, mesmo que os indivíduos busquem um fio condutor, a dispersão e a falta de “jeito” para se lançar a política é visível.

O medo que norteia o futuro não se vê apenas nas cartas e nas borras sujas de café, está em nós, nas nossas palavras, na nossa indiferença. Uma construção feita dia-a-dia onde o produto final é desconstruir. Acostumamo-nos a deixar nossos dias ao relento, a sorte, aos representantes vários que possuímos, pena que esse relento quase sempre nos mostre o azar dentro das cuecas.

Como seria se em um estalido todos acordassem sedentos por mudanças próprias, com fome de conhecimento, desejosos de cérebros malhados mais do que corpos? Como seriamos nós se desprendêssemos do gozo limitado das futilidades modernas, do culto a forma e a beleza e propuséssemos mudanças que vão além do exterior? Mudanças visando a não corrupção da cultura dos brasileiros, para que esses ficassem aptos a participarem do processo político.

Acordemos. Pois não precisamos mais de tantos exércitos rumo ao embrutecimento. Precisamos de cultura. Não precisamos de músculos, precisamos lapidar as nossas idéias e descartar as que não nos beneficia enquanto nação. Não precisamos de modelos emprestados das outras nações, já nos despedimos da que nos colonizou e devemos fechar cada vez mais as portas para várias outras que nos consideram como inferiores.

Não façamos apenas romarias, não carreguemos somente os barros, não nos apeguemos apenas a um livro. Que sejam possíveis múltiplas leituras, para germinar da educação um fruto mais viçoso. Não nos contentemos com o mínimo, a educação é necessária para a emancipação dos indivíduos. De conformistas e quietos já sabemos que “os males do Brasil são”. Devemos aprender com a nossa história e não simplesmente reproduzi-la, fazendo com que o Brasil pare com as longas caminhadas em círculos.

Luana Garcia

.Deveria eu ter o pensamento conjunto com meu tempo, mas não, atrevo-me sempre a dialogar com barbados.



Iria suportar a caduquice do mundo, o soco, a selvageria, a bestialidade do século, a fetidez da terra, iria suportar até as retinas cruas, as córneas espelhadas, as mil perguntas mortas. Iria? Suportaria guardar no peito esse reservatório de dejetos, estanque, gelatinoso, esse caminhar nítido para a morte, o vaidoso gesto sempre suspenso em ânsia para te alcançar. Suportaria o estar viva, recortada, um contorno incompreensível repetindo a cada dia passos, palavras, o olho sobre os livros, inúmeras verdades lançadas à privada, e mentiras imundas exibidas como verdades, e aparências do nada, repetições estéreis, farsas, o dia-a-dia do homem do meu século?

.Blusa Fátua.

Costurarei calças pretas
com o veludo da minha garganta
e uma blusa amarela com três metros de poente.
pela Niévski do mundo, como criança grande,
andarei, don Juan, com ar de dândi.

Que a terra gema em sua mole indolência:
"Não viole o verde de as minhas primaveras!"
Mostrando os dentes, rirei ao sol com insolência:
"No asfalto liso hei de rolar as rimas veras!"
Maiakovski

.Victor Hugo.

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.

E que esquecendo, não guarde mágoa.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

.Um roteiro para filme de terror que foi levado a sério.

Uma (figura) assustadora, bruxa rebarbativa e magra - a velha mais hedionda talvez destes sertões - a única que alevantava a cabeça espalhando sobre os espectadores, como faúlhas, olhares ameaçadores; e nervosa e agitante, ágil apesar da idade, tendo sobre as espáduas de todo despidas, emaranhados, os cabelos brancos e cheios de terra - rompia, em andar sacudido, pelos grupos miserandos, atraindo a atenção geral. Tinha nos braços finos uma menina, neta, bisneta, tataraneta talvez (que poderia ter se feito uma linda brasileirinha). (E essa criança horrorizava). A sua face esquerda fora arrancada, havia tempos, por um estilhaço de granada; de sorte que os ossos dos maxilares se destacavam alvíssimos, entre os bordos vermelhos da ferida já cicatrizada. . . A face direita sorria. E era apavorante aquele riso incompleto e dolorosíssimo aformoseando uma face e extinguindo-se repentinamente na outra.

Aquela velha carregava a criação mais monstruosa da campanha, (carregava o fruto da guerra que se quer tinha consciência dos motivos pelos quais se doía, que por ela se fez horroroso). Lá se foi com o seu andar agitante, de atáxica, seguindo a extensa fila de infelizes...

"É que ainda não existe psiquiatra para as loucuras e os crimes das nacionalidades"

[Trecho retirado de Os Sertões e com modificações nos parênteses].

Acredito e coloco agora em palavras minhas, que ninguém ao certo sabe o que aconteceu nesses anos, ou vagamente ouviram falar, isso mostra a falta de interesse com o que é nosso, a nossa história. Infelizmente no Brasil, com início em novembro de 1896 e término em outubro de 1897, houve um massacre, e as citações mostram parte de um relato de guerra, colocado aqui quando essas pessoas que passavam pelas fileiras de soldados ainda possuíam cabeças, pois, logo após o desfile fúnebre dos vencidos, todos, sem exceção, foram degolados.

.Zeca Baleiro.


Não quero ser triste
Como o poeta que envelhece
Lendo Maiakóvski
Na loja de conveniência
Não quero ser alegre
Como o cão que sai a passear
Com o seu dono alegre
Sob o sol de domingo...

Nem quero ser estanque
Como quem constrói estradas
E não anda

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

.Neste caso a etnia forte não destrói a fraca pelas armas, e sim esmaga-a pela civilização.


A força de um Conselheiro para um povo abandonado pela pátria: “O povoado novo surgia, dentro de algumas semanas, já feito ruínas. Nascia velho. Visto de longe, desdobrado pelos cômodos, atulhando as canhadas, cobrindo áreas enormes, truncado nas quebradas, revolto nos pendores – tinha o aspecto perfeito de uma cidade cujo solo houvesse sido sacudido e brutalmente dobrado por um terreno; Era um baralhamento caótico dos casebres, como se tudo aquilo fosse construído febrilmente, numa noite, por uma multidão de loucos”.

A imagem desviada: o aldeamento efêmero dos matutos vadios, centralizados pela igreja velha, que já existia, ia transmudar-se, ampliando-se em pouco tempo, na tróia de taipa dos jagunços, canudos era o lugar escolhido por Antônio Conselheiro para realizar suas operações.
A imagem para os moradores: canudos era um lugar sagrado, cingido de montanhas, onde não penetraria a ação do governo maldito e ainda, na imaginação daquela gente simples, era o primeiro degrau, amplíssimo e alto, para os céus.
Cunha, E. Os Sertões.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

.Cordel do Fogo Encantado.

"O sabiá no sertão
Quando canta me comove
Passa três meses cantando
E sem cantar passa nove
Porque tem a obrigação
De só cantar quando chove"

.Vidas Secas, de Graciliano Ramos.

Quanto a consciência de Fabiano à sua condição animalizada na sociedade a que pertence podemos alencar várias passagens. Affonso Romano de Sant’Ana faz uma aproximação de Fabiano à Baleia, e de sinhá Vitória ao papagaio.


O pensamento de Fabiano, no capítulo que recebe seu nome, passa por três etapas:"Primeiramente, ele se considera positivamente dizendo: —Fabiano, você é um homem’. Depois se estuda com menos otimismo, e considerando mais realisticamente sua situação se corrige ‘— Você é um bicho, Fabiano - Ou seja: um individuo que não sendo exatamente um homem, pelo menos sabia se safar dos problemas. No entanto. poucas frases adiante, nova alteração se dá em suas considerações. E de homem que se aceitara apenas como um bicho esperto, ele se coloca como um animal: “o corpo do vaqueiro derreava-se, as pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se desengonçados. Parecia um macaco. Entristeceu."