segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

domingo, 17 de janeiro de 2016

.Onde pus a afeição, secou.

Onde pus a esperança, as rosas
Murcharam logo.
Na casa, onde fui habitar,
O jardim, que eu amei por ser
Ali o melhor lugar,
E por quem essa casa amei —
Decerto o achei,
E, quando o tive, sem razão para o ter
Onde pus a afeição, secou
A fonte logo.
Da floresta, que fui buscar
Por essa fonte ali tecer
Seu canto de rezar —
Quando na sombra penetrei,
Só o lugar achei
Da fonte seca, inútil de se ter.
Para quê, pois, afeição, esperança,
Se perco, logo
Que as uso, a causa para as usar,
Se tê-las sabe a não as ter?
Crer ou amar —
Até à raiz, do peito onde alberguei
Tais sonhos e os gozei,
O vento arranque e leve onde quiser
E eu os não possa achar!

Fernando Pessoa

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

.Nojenta, vagabunda, você não presta, quantas ilusões desfeitas. Dois corações partidos. E uma falta de tudo. Só a ofensa anula o contato. O resto todo se tolera.


Eu tentei te escrever
Mas depois desisti
Preferi te falar
Assim a sós
Terminar nosso amor
Para mim é melhor
Para nós é melhor
Convém à nós
Convém, amor
Nunca mais vou querer o teu beijo
Nunca mais
Nunca mais quero ter teu amor
Nunca mais
Uma vez me pediste sorrindo
E eu voltei
Outra vez me pediste chorando
Eu voltei
Mas agora não posso, não quero
Nunca mais
O que tu me fizeste amor
Foi demais

.O verde cor de mar.


Quando cheguei era tarde. Alfred me esperava sentado no sofá com uma cara que ia entre o desconforto e o sono. Mas por que? Ele indagada. Por que agora? Por que hoje? E a garota rosada, seus passeios ao ar livre, a biblioteca, etc. Era como uma bronca. Tudo encaminhava para uma conversa pesada e triste em tom de discussões caseiras. Alfred, escute querido, não dava certo. O quarto era desconhecido, eu não tinha um canto para proteger as costas, e ficaria sem os abraços dela. Ah! Minha senhora, eu lamento. Tudo deve passar em um tempo possível, as coisas, por mais ruins que se mostram, costumam trazer bons ares. Obrigada, disse complacente. Ele estava tentando. Por isso tentei explicar: foi incrível em todos os aspectos, hoje eu me conheço melhor, conheci algumas coisas que mal posso te contar, para não invejar as minhas andanças. Não posso dizer que queima o coração ainda, mas queima todas as outras partes, o coração, esse sente, sempre que começa a despedida.  O coração até evita certas aproximações de tantos esparadrapos.  Mas foram horas incríveis, vés meu cansaço? Tem um pouco de abatimento e sonolência, mas todo o resto foram das horas inigualáveis. Alfred, pegue o vinho. Sente-se. Sirva-se comigo. Você precisaria conhecer os olhos, gostaria deles, tenho certeza. A pele, você poderia conhecer a pela e todos seu cheiro. As risadas é de fazer rir junto, é uma risada jovial, de quem ainda sofreu pouco. Os assuntos não param porque ela não consegue, emenda um no outro. E quase sempre sobra uma safadeza aqui e ali, estou rejuvelhecendo, mesmo que agora esteja morta. Senhora, precisa dormir. Realmente precisava, esta a ponto de despencar ali mesmo, mas era tantos olhares guardados, tantos sentimentos vividos que ficaria em vigia contando os detalhes, simples, sortidos, elegantes, líquidos, gozosos, devotos, de uma coisa que talvez se chame recomeço.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

.O roteiro.

O lixo
o sopro
o nada,
monte de infelicidade translucida
pessoas movidas a etílicos
cidade asfixiante.
Ratoeira de porvir
brincadeira de viver
cidade estomegante.
Do sopro ao lodo
Do sorriso a lágrima
Cidade morta.
Cultura morta.
Cidade sertaneja.
Cidade mórbida.
De um calor horroroso
Um ar tenebroso,
Agoniante.


LG

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Rimbaud, Arthur. Uma temporada no inferno. Porto Alegre, RS: L&PM, 2015 (parte 2/2)

Eu escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível. Fixava vertigens.