quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Recaminhei as nossas construções, tijolos e as leituras.

Uma das coisas que mais me chateiam nisso de escrever crônicas é a quase obrigação de ser sempre pra cima, vivaz, alegrinha, ou então estar sempre em dia, na crista, notícias cintilantes... Ser sempre interessante como se todos fossem inteligentíssimos, profundos, finos, cultos, delicados... E se eu quiser falar do tempo do foda-se, da estupidez que grassa desmedida no país, do costumeiro engodo dos políticos em relação ao povo, se eu quiser perguntar sem parar, por exemplo, onde é que estão aqueles canalhas que roubaram bilhões e bilhões da Previdência.


HILST, H. Cascos & Carícias & outras Crônicas. SP: Globo, 2007. (p.119)

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Uma boa conversa pela amanhã salpica vida pelo dia afora.

Bom dia leitor, hoje sou eu, sem os requintes literários da divina (esse termo está decaído) então, da inigualável Hilda Hilst, ou de outros que desfilam por aqui, a caríssima Woolf por exemplo. Vim comunicar que o sol nasceu deslumbrante e que poderíamos nos reunir para ler o jornal em alguma praça, ou jogar damas como fazem os bons e velhos Senhores. Mas as praças estão em desuso e os jornais também; então podemos tomar um café e discutir o jornal de ontem. Ontem o jornal não estava em desuso, sabichona? Um amigo meu sempre ressaltou que os notáveis, os intelectuais e os doutores discutem assuntos e que a corja, o povão, o bando, a malta e o populacho discutem pessoas mesmo, que é mais simples. É falta de jornal minha gente, informação. É complicado agradar, ainda mais quando o convite é seu, portanto, vou me despedir com Sartre e a sua idéia de que não existe melhor companhia que você mesmo. Bom café-da-manhã para todos. Minha gentileza está se superando hoje, aproveite!

Lg

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

.Sinto-me às vezes muito impaciente e afoita.

E ela mandou que eu me pusesse a dormir e que me desse por agradecida por haver entre mim e o mundo instransponíveis portões.


Woolf, V. O diário de mistress Joan Martyn. (in) Contos Completos. SP: Cosac Naify, 2005. (p.51)



.A cólera de saber que tudo me possui e ao mesmo tempo nada.

Tu és minha mulher e o teu olho traduz desejo e eloqüência. Sei que posso falar a noite inteira e esvaziar teus ternos conceitos, sei tudo o que tu és, veludosa e decente, redondez, faminta do meu gesto. [...]Devo permanecer junto aos homens, abrir e fechar constantemente as mandíbulas, sei quase tudo de ti, de mim sei nada, sei muito dessa palha que se chama aparência, sei nada dessa esquiva coisa entranhada no meu ser de dentro.

HILST, H. Cascos & Carícias & outras Crônicas. SP: Globo, 2007. (p.127)