quarta-feira, 30 de outubro de 2013

.E quando viu que eu tava bem, foi de meu bem que me chamou.



Você sumiu, “apavorei”, eu não pensei levar um nó. Te destratar não destratei, eu sempre dei o meu melhor. E não sei como aconteceu, pensava eu ser teu herói, só essa dor não me esqueceu, foi me apertando e como dói. De alguma coisa isso valeu, ficou mais claro quem sou eu, brilhou o sol onde foi breu e a minha vida começou. E quando viu que eu tava bem, foi de meu bem que me chamou, mas pra você nem fica bem, pedir perdão, dizer que errou. Não diz que sim, não diz que não. Não diz que deu e nem constrói. Não deu valor ao que foi seu, se arrependeu e isso lhe rói. De alguma coisa isso valeu, ficou mais claro quem sou eu, brilhou o sol onde foi breu e a minha vida começou.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

.Faltavam três noites: completamente insones.



Aquele era o tempo
Em que as sombras se abriam,
Em que homens negavam
O que outros erguiam.
E eu bebia da vida em goles pequenos,
Tropeçava no riso, abraçava venenos.
De costas voltadas não se vê o futuro
Nem o rumo da bala
Nem a falha no muro.
E alguém me gritava
Com voz de profeta
Que o caminho se faz
Entre o alvo e a seta.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

.A vida a Rodar.

 
...em um tropeço já era 26

terça-feira, 22 de outubro de 2013

.A vida que temos.

Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

Lispector, C.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

.É a cólera de saber que tudo me possui e ao mesmo tempo nada.



Sei que posso falar a noite inteira e esvaziar teus eternos conceitos, sei tudo o que tu és, veludosa e decente, redondez, FAMINTA DO MEU GESTO, sei, Hamat, que vais dizer que, se mudo de casa, mudo de natureza, e que é inútil querer o real do meu espaço de dentro, sei que vais dizer que eu, homem político, devo permanecer junto aos homens, abrir e fechar constantemente as mandíbulas, SEI QUASE TUDO DE TI, DE MIM SEI NADA, sei muito dessa palha que se chama aparência, sei nada dessa esquiva coisa estranha no meu ser de dentro.

HILST, H. Dentro de mim, “sagrado descontentamento”. In. Cascos e Caricias. São Paulo: Globo, p.127

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

.Perca um minuto, dois, o talvez.



Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem  alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo :  "Fui  eu ?"
Fernando Pessoa

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

.É um prato cheio para analistas.



Tenho certeza que contribui substancialmente para o enfarte dele. Fazer o que se ele não valia nada, que não mudaria e, de qualquer jeito, ele comeu a mulher do irmão. Peguei-os no ato. Esqueceu de terminar, deixou a coitada na cama, e foi se desculpar do impossível. Eu de Hamlet nessa história, veja que maluquice, eu toda poesia em torno de um sentimento cretino como esse. Sem ilusão, sem vítima. A meu favor, eu fiz, ou quis fazer, coisas iguais ou equivalentes, mas nunca professei os valores que ele vivia arrotando com cara de santa-puta arrependida. Nunca fui a epítome da hipocrisia. Era, ou desejava ser, misantropa. Hipócrita não.