quinta-feira, 30 de agosto de 2012

.Um texto matinal.



Alfred ficou furioso, vai de um lado para o outro da casa pisando fundo. Vomitei nele o problema da farsa pela manhã, enquanto eu comia meu pão torrado na sua presença, e aproveitei para alertar sobre Zeta. Não entendeu o problema da farsa, não quer entender, mas está com um dilema pior. O que fazer quando ele nada pode fazer por Zeta? É certo que anda nutrindo sentimento por ela, chegou até a se confessar dia desses. Mas não há nada para ser feito, logo agora que vou jogá-la em um armário empoeirado. Só para contexto, Zeta é uma boneca inflável, dessas que vemos na tv, que, até hoje, compunha a decoração dessa casa. Zeta toma o canto esquerdo do sofá, e dá a sala de estar um tom agradável entre a decoração demode e a neo-contemporânea. Ganhei de presente. Nome de batismo: Catherine Zeta-Jones. Para os íntimos: Zeta. São bons os trocadilhos com seu apelido depois das festas, quando todos se embriagam e vão se engraçar com a musa plástica. Me cansei dela, não gosto mais do tom que assumiu o plástico, aparenta sujeira. Por mais que ela é, sem dúvida, o que Alfred mais limpa. Zeta também ganhou as lentes da minha musa, talvez por isso ela não tenha mergulhado no lixo tão cedo. Dá um tom caótico as fotografias, uma mistura safada-inumana. Agora que o acordo entre as senhoras do lar foi fechado pelo aniquilamento da boneca, só resta comunicar o mordomo. Além do mais, Alfred anda muito cheio de permissões e excessos. Saio de casa e olho em tom de despedida para a mulher-moderna de batom vermelho sentada no meu sofá, encaro Alfred como se dissesse: dê fim nela até o almoço! Saio, e enquanto fecho a porta escuto o copo da louça do café da manhã se despedaçar na cozinha, como um coração.

LG

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Então é hora de falar da farsa?



Respondendo a demandas alheias. Farsa, como tudo aquilo que camufla a verdade. Teria descoberto que eu não comprei uma bicicleta? Ou que até tenho pensado em fazer, mas o tempo, aquele que nos esmaga, tem vencido essa batalha. Pelo menos tenho um leitor atento, então a farsa se sustenta e se justifica. Estamos com problemas metodológicos? Resolveria discursar sobre a hermenêutica em profundidade e Heidegger, aquele cretino, que só nos confunde a cabeça? Poeta, romancista, filósofo, quantas pessoas vazias, com definições tolas e imitações baratas de leituras parciais da vida, que corre lá fora e que se permitem morrer sem ver, só escrevendo, na torre encantada. Ideias, estilo, expressão, compreensão, serve pra quem? Que grande farsa. Que bestializados geniais. Quantos calhordas encantados. Pois, enquanto estamos tentando roubar o lugar de algum deles, é legítimo que os desqualifiquemos. Farsantes! Beatas, carolas, papa-missas. No plural para não ser cópia fiel de Machado. 

Quanta vida humana,
quanta natureza lá fora,
quanto pó e traça aqui dentro.
Que lógica espantosa essa da farsa.  
Que crescente descontrole poético, sem espasmos.
Que violento esforço para superar a beleza da verdade lá fora.
LG

terça-feira, 28 de agosto de 2012

.Comprei uma bicicleta, isso justifica a ausência.



Depois de muito pedalar por ai é fácil observar que a natureza torna bastante dura a vida daqueles de quem deseja extrair grandes coisas. Nunca me sai bem em nenhum exercício de agilidade e força. Também, de acordo com meu talento, nunca estive para cálculos e engenharias. De estatura na média, não sou dessas pessoas que em um grupo desperta o olhar dos observadores. Não que fosse feia, mas nada além, nada impressionante. O segredo estava na conversa mesmo, na busca do belo absoluto pelos temas. Nesse ponto era um conjunto agradável e harmonioso. Para se fazer ouvir é necessário maneiras polidas e um certo ar de segurança. A conversa deve ser essencialmente instrutiva. Com mais pedaladas acabei por observar que diante de muitas pessoas falava quase sozinha. Tinha muito a dizer. Por isso era exigente na escolha dos ouvintes. 

LG
 

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

.Façamos outro baile.

Alfred arrumará todas as coisas. E esse texto só sairá depois.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

.Quanto escândalo.


Roubaram os escrúpulos dela. Roubaram nada, ela vendeu! Quanta confusão por uma notícia, uma imagem, um filme. Pra que tanto alarme? Pra que falar de escrúpulo? É uma semana feliz! Todo mundo se realizando, todos se escandalizando. Ai que delicia. Ta todo mundo confuso. Todo mundo pelado, a cachorrada está rolando solta. No sentido safado do termo. Cai aqui. Foi quando sai depois do almoço dos dias dos pais, ao lado do meu, e falei para o vizinho: feliz dia dos pais. E ele disse: pra você também. Ta todo mundo rindo. Estão rindo lá em casa ainda. Eu viajei vários quilômetros e ainda ouço a risada deles. Gosto tanto. Da risada. Deles também. E da pequenina, e do menininho. Ai, estão todos em mim, e eu estou neles. E a terra continua louca. O cinema, a poltrona, ficou tudo tão pequeno pra ela, e era tudo tão especial pra mim. Ai que delicia. É uma semana feliz. Ta todo mundo rindo. Todo mundo gozando. O povo ta rico. E eu comprei um belo de um whisky. Posso ser pai agora. Um pai cowboy. Tem um cientista social na TV, e aquele filme bom: Desejo e Reparação. Muito bom. Difícil escolha. Só não entendo porque não tiram a reparação dali e ficam só com o desejo. Bem melhor. É uma semana feliz. Eu sei que é. Boa noite.
LG

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

.Não perca o foco da dissertação.


Há uma ampla variedade de fontes documentais à nossa disposição para a pesquisa social. Os documentos, lidos como a sedimentação das práticas sociais, têm potencial de informar e estruturar as decisões que as pessoas tomam diariamente e a longo prazo; eles também constituem leituras particulares dos eventos sociais. Eles nos falam das aspirações e intenções dos períodos aos quais se referem e descrevem lugares e relações sociais de uma época. 

MAY, Tim. Pesquisa Social: questões, métodos e processos. Porto Alegre: Artmed, 2004. p.206

.Como é que é?

Uma ideia sobrou escapando ao texto de ontem, mas ela custa a voltar. Quem sabe até o final do texto. Fluxo-floema reviveu, será codificado em breve. Não recordo os motivos que me põe a pena na mão, começo de Dom Casmurro, releia. Talvez por não precisar de motivos o texto saia. Deve ser influência musical. É isso. Não posso ficar nessa de esperar... Como era mesmo a frase estampada na bandeira de São Paulo? Aquela que o Serra adora citar. Meu parente distante, diga-se de passagem, e sem nenhum orgulho. NON DUCOR DUCO. Matéria da educação básica, conhecimentos gerais. NÃO SOU CONDUZIDO, CONDUZO. Por isso que esperar parece algo deprimente. Mas e a preguiça, senhores? Maldita! Agora falando sério (Chico)... Eu queria ser um tipo de compositor que é pobre e, às vezes, nem é honesto (Chico). E falando nele, o que foi aquela participação especial no show da Diva? Vixe, perdeu! Bethânia aquela delícia e seus convidados. Lembrei da ideia, mas estou sem coragem de relatá-la agora. Era sobre um aluno fundamentalista religioso que me perturba, e que acha certo tirar o clitóris das meninas (se é a lei de deus nosso senhor), outra hora falo dele, ele é enfadonho. Talvez o mundo não seja pequeno, nem seja a vida um fato consumado. Cálice.
LG
Te olham arrevesado, olha o pus escorrendo, olha a casca feridosa da ferida. Ai, o mundo. Ai, eu. Olhe aqui, não fale tanto em si mesmo agora, porque o certo no nosso tempo é abolir o eu, entendes? HILST, H. Fluxo-floema. São Paulo: Globo, 41

.Isso tinha graça.


Era bom ir andando e pegar o leite na varanda, apesar de que pessoalmente nunca fui, mas eu sentia que deveria ser bom. Leite sempre me lembrou andanças, fluídos soltos. H.H

..O tempo não está para graças, é o começo do declínio dos anos.


Umas coisas da carne, uns azedumes, impudores, ai, uma vontade enorme de limpar o mundo dos não amantes. Quero limpar o mundo das gentes que me incomodam. Quem? Os que estão envelhecendo como eu. Eu estou envelhecendo. Os loucos como eu também. Tempo não é de inocência, nem de ternuras vãs, nem de cantigas, diziam e eu não sabia que a coisa ia ser comigo. O movimento é de vergonha decrescente.
HH

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

.Quando ela dorme rouba os sonhos de outra gente.


Leva muito tempo pra gente se recompor. Deveria começar assim. Porque leva mesmo. Falei solto do filme, joguei o nome ali e não dormi mais. Flor do Deserto. Um soco na boca do estômago. Também fiquei digerindo seu caso, Recife anda conturbado. Poderia fazer pontes aéreas, já disse. Como vai sua tese? Defendeu? Se defendeu? Por que a estrela cadente dessa vez não fui eu? Isso dá rima. Serve dizer que aqui a agitação também permanece, que o trabalho aumentou, que o dinheiro no final do mês é o mesmo e as noites mais longas? Que besteira. Talvez por isso Hilst queria entrar em um poço. E meu fluxo-floema ficou de lado. Que pecado meu deus. “É de bom tamanho, nem largo nem fundo”. O que? O poço! Mas não era a cova? Não. Nesse contexto é o poço. Falando em poço, liquidez, voltei a pensar no clitóris mutilado do deserto. Talvez por isso filmes de terror deveriam ser proibidos, esse do clitóris não é de terror, mas essas cenas ficam na cabeça da gente, depois acaba o rivotril e o prozac e ai? Ai melou. Têm helicópteros sobrevoando a cidade, filme de ação pode? Se amanheceu e você não pregou o olho e deu a hora de trabalhar, faz o que? Chega e fala assim: olha, vi um filme dias desse, e não consigo mais dormir de noite, fico refletindo de noite e “tenho muito sono de manhã”, isso justifica eu voltar pra casa e dormir a manhã toda sem somar uma advertência trabalhista? Acho que não mocinha. Vixi, vixe, ai melou de novo. Isso aqui vai ficar tão mais deprimente com esses relatos. Ia me esquecendo, gostei do seu novo blog, obrigada. Clitóris mutilado e olho pregado, só tenho isso pra hoje. Boa tarde!  
LG

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Se contasse morreria.


Que turbulência, a noite inteira discursando, que textos desencavas do teu peito, e que estória é essa de alisares uma dona que não conheço?

segunda-feira, 6 de agosto de 2012