sexta-feira, 26 de julho de 2013

.Ernest Becker, A negação da morte.



Os homens são tão necessariamente loucos que não ser louco seria uma outra forma de loucura. Necessariamente porque o dualismo existencial torna sua situação impossível, um dilema torturante. Louco porque tudo o que o homem faz em seu mundo simbólico é procurar negar e superar sua sorte grotesca. Literalmente entrega-se a um esquecimento cego através de jogos sociais, truques psicológicos, preocupações pessoais tão distantes da realidade de sua condição que são formas de loucura - loucura assumida, loucura compartilhada, loucura disfarçada e dignificada, mas de qualquer maneira loucura. 

segunda-feira, 22 de julho de 2013

.Às vezes um passo pra frente te joga com força de volta ao início.


Às vezes eu pensava que a vida não tinha o menor sentido, mas logo depois não pensava mais porque a gente nem sabia pensar, e não dava tempo de ficar pensando no que a gente nem sabia. O melhor era seguir descontente, até onde dava. 

quarta-feira, 17 de julho de 2013

.Nem tudo é cíclico.

Amanhã é mais um dia de muita importância. Obrigado aos que ouviram as lamurias e ajudaram como puderam. E aqueles que não estiveram presente, por opção, também segue meu muito obrigada pela indiferença. E vamos seguindo...

.Eu ficava ali.


Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado.  

terça-feira, 16 de julho de 2013

.De um pobre e solitário doente do espírito.



dia passara como normalmente passam os dias: eu o havia desperdiçado, dissipado suavemente, com minha primitiva e arredia maneira de ser; trabalhara algumas horas a compulsar velhos livros e sentira dores durante duas horas seguidas, como os velhos costumam sentir; engolira uns pós e me alegrara porque as dores se haviam deixado enganar; metera-me num banho quente e absorvera o agradável calor; recebera três vezes o correio e correra a vista pelas cartas e os impressos sem importância; fizera meus exercícios respiratórios, mas achara conveniente transferir para outro dia os exercícios mentais; dera um passeio de uma hora e vira, recortados contra o céu, delicadas e belas amostras de folhas preciosos. Agradável, assim como ler os livros antigos ou demorar-me no banho quente, mas, afinal de contas, não fora a bem dizer um dia encantador, nem brilhante, nem feliz, nem plácido, mas normais, moderadamente agradáveis.

                                          Herman Hesse


.O amor neutro.


 O neutro soprava. Eu estava atingindo o que havia procurado a vida toda: aquilo que é a identidade mais última e que eu havia chamado de inexpressivo. Fora isso o que sempre estivera nos meus olhos no retrato: uma alegria inexpressiva, um prazer que não sabe que é prazer - um prazer delicado demais para a minha grossa humanidade que sempre fora feita de conceitos grossos. 

domingo, 14 de julho de 2013

.No momento preferia ser uma barata.


Onde, reduzidos a pequenos chacais, nós nos comemos em riso. Em riso de dor - e livres. O mistério do destino humano é que somos fatais, mas temos a liberdade de cumprir ou não o nosso fatal: de nós depende realizarmos o nosso destino. Enquanto que os seres inumanos, como a barata, realizam o próprio ciclo completo, sem nunca errar porque eles não escolhem. Mas de mim depende eu vir livremente a ser o que fatalmente sou. Sou dona de minha fatalidade e, se eu decidir não cumpri-la, ficarei fora de minha natureza especificamente viva. Mas se eu cumprir meu núcleo neutro e vivo, então, dentro de minha espécie, estarei sendo especificamente humana. 

                                                                                A paixão segundo G.H

quinta-feira, 11 de julho de 2013

.Confesso-lhe que fiquei de boca aberta, não que entendesse a proposta, ao contrário; nem a entendi nem a achei limpa, e foi por isso mesmo que fiquei de boca aberta.


Parecia que era assim tudo mentira, daquelas para se recordar depois, no pré-sonho. Não era! Isso trazia um gozo reconfortante. Era verdade! E parece que a necessidade de afirmar e (re)afirmar a verdade se dava no descrédito da própria participação. Imagine só. E justo no período mais monótono. Mas que participação! Era quase que uma pintura toda aquela nudez.  

LG

.Era mais um desses segredos.

Não digo o que se passou na sala secreta; além de ser secreto o que lá se passou, não interessa ao caso particular, que era melhor ficasse também calado, confesso.
Joaquim Maria Machado de Assis