segunda-feira, 30 de setembro de 2013

.A outra materializada.

Era como um carma sentado logo ali, a quatro metros dos meus olhos, e pensar que no começo não identifiquei o desconforto que aquela sala trazia. Era você, suas roupas, o modo de sentar, os tons do casaco, a pele e o batom. Pensei por um minuto em te enviar a foto, com o título, seu outro eu. Pois como se não bastasse as minhas lacunas sentimentais você aparecia ali, reencarnada, jovial, educada e aluna. Passei a evitar os cantos, lugares preferidos da cópia, desejei que reprovasse, que fosse embora para longe, que odiasse a matéria, mas não. Ela gostava. E se fazia presente em tudo. Era uma lamúria. Ficava depois do intervalo, me indagava as provas e os textos lidos, os não lidos e os por quês, queria ler todos e ler mais. Era um calvário. Foi quando confessei: você me lembra alguém. E ela sorriu, feliz, sem saber se poderia. Não era feliz, era pesado e sofrido e era a outra. Mesmo quando a mente esquecia os olhos lembravam a presença, era ela uma escuridão velada sem saber. E mesmo que o mal não se deseja a queria longe, a espera do dezembro, das férias, do nada, e da ausência. 

lG

.Quebre as louças, mas não mexa nos livros.




Apenas devaneios. Algo que fazia me lembrar Os Sofrimentos do Jovem Werther, talvez esse livro tenha viajado mais que eu, ou acabou em uma caçamba, estraçalhado, mas creio que não. Fato é que não voltou. Outro também, Memória das Minhas Putas Tristes, emprestei, nunca mais voltou. Era como uma sina, eles não voltavam. Aquele do Rousseau, Devaneios de um Caminhante Solitário, nunca mais vi a cor. E não sei até que ponto isso me incomoda. Fato que não gosto de fazer uso dos versos do Chico Buarque: “devolta o Neruda que você me tomou, e nunca leu”. Tomara que tenham lido, o Werther foi lido, certamente, porque a pessoa era uma leitora compulsiva, dessas que estão em falta, os outros não tenho a mínima garantia. Incrível que a vontade de reler se concentra nesses que você sabe que não está mais ao seu alcance. É como uma ironia. Lembrei deles hoje que fui arrumar a estante, uma tarefa por demais agradável, mas cansativa, como todas as outras. Ajuda se você sentir aquele cheiro de café, misturado ao cheiro do livro e um pouco de poeira, dá um ar intelectual ao ambiente, e a tarefa se torna mais prazerosa. Intelectual que se preze sempre precisa estar próximo a uma garrafa de café, uma estante e as traças. Encontrar uma traça perdida pela casa é uma medalha, sem traças, fique preocupado, você pode perder a fama. Ah se as pessoas andassem por ai trocando livros, seria como aquele filme Farenheit 451, fantástico, assista! Ou leia o livro se preferir... e se o costume se alastrasse ninguém escreveria textos reclamando os filhos desaparecidos, apenas bateria na casa do vizinho e saia de lá com as mãos cheias. Quanta ilusão.
LG

domingo, 29 de setembro de 2013

.Não há limites para a bestialidade.



Como sempre, como uma boa pessoa perturbada com a leitura, eu tinha o texto na cabeça. Era estranho como sempre foi, e mesmo muito tempo depois ainda havia certo desconforto antes de colocá-lo no papel. Era uma dessas conversas que se dividida com outra pessoa não teria como se expressar, precisava ser escrito, rasgado, jogado fora, por que não? As melhores coisas, dizem os gênios, devem ficar guardadas. Logo se nota que esse texto não está entre as melhores coisas, porque você está lendo. Mas não deixa de ser um texto perturbador, porque essa é a intenção. Passei alguns dias no café divagando sobre os rumos e caminhos da humanidade, e veja que as conclusões não foram nada boas. Mesmo nos monólogos, ou nos diálogos, não havia saída. Segundo dizem os especialistas o mal do século é a solidão, e, quanto mais estudo certo indivíduo adquire, mais solitário e individualizado ele se torna. Verdade. Veja que quando uma pessoa passa a compreender, ou julgar que compreende, muito sobre um assunto, ela se isola ou se torna incrivelmente seleta. Isso também é uma verdade. A seleção natural se dá na medida em que você passa a não ter graça para os outros, e ou outros não te atraem mais, dizem que o suicídio vem daí. Mas não entraremos nesse ponto. Dizem também que mestres, doutores, pós-doutores e afins, não se entregam ao matrimônio, ou que a parcela que se entrega é mínima frente aquela que “resolve” adotar um animal e por ai vai... verdade. Então perceba a trama complexa, quanto mais você caminha rumo as suas conquistas, e avança se qualificando, na busca de um indivíduo mais completo, mais você se afasta da sociedade que parece cultuar certas hipocrisias gritantes. Ai você vira aquele que a família não convida mais para as festas, pois tem medo de ouvir certas verdades. Aquele que os amigos não chamam mais para os “roles”, porque o role não te anima e você faz questão de deixar isso estampado no rosto. Aquele que tem a frase pronta para toda pergunta grosseira. Aquele que certamente já viu os filmes, já leu os livros, ou se não leu sabe da existência, e não é obrigado a entrar em discussões sobre a melhor dupla de sertanejo universitário. Pelo amor. Depois disso você passa a fingir que as coisas te interessam, e isso sim é difícil. Fingir interesse é uma arte, que quando você aprende a operar com seus instrumentais, pode se considerar salvo.
LG

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

.Sou igual a você, eu nasci pra você, eu não presto, eu não presto.



Tiu, não tem essa não de abstração. Escritor não é santo. O negócio é inventar amores, os caras querem ler um troço que os faça esquecer que são mortais e estrume. Continua: Tiu, com a tua mania de infinitude quem é que vai te ler? Aposto que serei o primeiro na vitrine e tu lá nos confins da livraria.
Hilda Hist

E por incrível que pareça é um espaço para esmaecer, esmaecer as línguas muito vivas da vida, em períodos de extrema liquidez. Era grande a Madame das minhas utopias. Era confuso ainda, mas era de frio na barriga e arrepios repentinos. Queria sempre depois dormir nos braços dela, mas querer dormir não era correto, era desperdício de tudo. Quando penso em dormir em seus braços coloco as mãos no quadril, estico o tronco e brado que estou em forma, que pode vir, que o sono passou. É quase que um jogo de corpos entregues. Mas era real? Era real a Madame dos meus dias? Eu digo para minha consciência: liquidez, língua e lago e tudo que lembrar o molhado das noites. Era real, metida em rendas e sedas, coxas marcadas pelas minhas mordidas, os ombros nu, era batom espalhado pelo rosto. Não era confuso enquanto se passava, mas na ausência o certo era questionar o real de tudo aquilo. Beijei-a tantas vezes que os lábios cresceram machucados, os de cima e os de baixo, lambia-a pelo pescoço, a língua nas orelhas, nas narinas...se pudesse lamberia o cristalino do olho, tamanho meu desejo. Senhora das minhas utopias. E eu sozinho na cama, as mãos dançando no ar, tocando o infinito como se procurasse o momento anterior. A Bela era real, mesmo quando estava ali na minha frente precisava tocar, confirmava e seguia os beijos, era real! Eu só sabia que vê-la de joelhos, enquanto passeava pelo corpo trêmulo, me inundava. Dizia: demore-se mais um pouco ali, ou aqui, e vinha aquela luz rosada que sai do nada e, quando menos espera, vira um clarão. É uma luz metafórica e indescritível. Olhar era tudo que precisava, ver o momento de encontro dela a luz e o meu descanso. Parado no instante, os olhos marejados com as sensações, recomeço, e aquela saia, o perfume, a fina postura, dava ares de outro século ao momento proibido. Era um deleite como descrevia Camões, uma ilha, um surto. Ela e seus echarpes de seda, que nunca os vi, mas os imagino envolto ao seu pescoço branco, destacando a boca rosada. Alguém dizendo sempre... calma, e se isso tudo passar, e o desconforto? Não pensava nisso um momento sequer. Era só luzes e paisagens à minha frente.
LG

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

.Abelha Rainha faz de mim instrumento do seu prazer.

Quando me pergunto se você existe mesmo amor...

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

.Escuta-me bem.



Todos nós necessitamos sofrer certo número de preocupações, de penas e misérias, da mesma maneira que um barco tem necessidade de lastro para conservar seu equilíbrio.

Colhi ramas floridas e pitangas, salvei da morte certo passarinho pelado, filhote despencado de uma árvore de flores amarelas, subi ao tronco e coloquei-o novamente no seu ninho, demorei-me no atalho de formigas e ajudei uma gorda ruivosa a carregar sua folha segurando de leve a ponta esverdeada, ai, deve ter pensado a pobrezinha que por um tempo a folha fez-se leve, e não continuei muito tempo a ajudá-la porque pensei quanto mais leve agora, depois no seguir do caminho e sem mim, ai, muito mais pesada.
Tu não te moves de Ti.