segunda-feira, 10 de agosto de 2015

.Bestas saltando através dos tempos.

"Van Gogh escrevendo a seu irmão por pinturas
Hemingway testando sua espingarda
Celine indo à falência como médica
a impossibilidade de ser humano
Villon expulso de Paris por ser um ladrão
Faulkner bêbado nas sarjetas de sua cidade
a impossibilidade de ser humano
Burroughs matando sua esposa com um revolver
Mailer esfaqueando a sua
a impossibilidade de ser humano
Maupassant ficando louco em uma canoa
Dostoyevsky apoiado em uma parede para ser fuzilado
Crane pulando da borda do barco em direção à hélice
a impossibilidade
Sylvia com sua cabeça no fogão como uma batata assada
Harry Crosby pulando em direção ao Sol Negro
Lorca assassinado na rodovia por tropas espanholas
a impossibilidade
Artaud sentado num banco de hospício
Chatterton bebendo veneno de rato
Shakespeare um plagiador
Beethoven com um chifre contra sua orelha por conta da surdez
a impossibilidade a impossibilidade
Nietzsche ficando totalmente louco
a impossibilidade de ser humano
todo muito humano
essa respiração
dentro e fora
fora e dentro
esses marginais
esses covardes
esses campeões
esses cachorros loucos da glória
movendo esse pequeno pedaço de luz em direção a nós
impossível"


Bukowski

sábado, 8 de agosto de 2015

.Fecha os meus meios, mato-me a mim se me compreendo.

Começa assim: “É de manhã, é de madrugada, é de manhã, não sei mais de nada, é de manhã, vou ver meu amor”. Falta Chico e Caetano no mundo, falta gente que saiba ser gente, que não se projete “ão”, quando na verdade é “inho”. Gente que saiba de verdade seu tamanho, nem pra mais, nem pra menos. Ontem falei sobre senso-comum para umas 60 pessoas, todos concordaram, afirmativos e convictos que senso-comum deve ser negado. É preciso comprovar as coisas, eles assentiram com a cabeça. Um grupo saiu da faculdade, caminharam pela calçada e nesse momento dobrou a esquina um jovem negro, todos guardaram os celulares e as meninas apertaram as bolsas no corpo. Diógenes e seu cinismo. Eu e minha insônia. Se o jovem fosse branco, sorririam? Permanece o senso-comum, quando na verdade deveria permanecer o bom senso. Ah! Quanta intolerância de madruga, minha cara. O Meio: “Corre alta Severina noite, no ronco da cidade uma janela assim acesa, eu respiro o seu desejo, chama no pavio da lamparina, sombra no lençol que te tateia a pele fina”. Falta Ney no mundo, pessoas que peitam as verdades absolutas, que desafiam os dogmas, que vestem seus cílios e brilhos e não se escondem. Ó mulher, porque toca em tudo? Por que esses assuntos, essas melodias, como se fosse dissecar toda a gente? Como se tudo devesse ser revisado. Simples. Pela necessidade da revisão! Estamos nos matando, em todos os aspectos, estamos emburrecendo e embrutecendo, acostumamos a aceitar. Não sabemos mais aceitar o amor. Oh! Que comece o sentimentalismo. Sabemos aceitar nossa forma de amar, julgamos o amor do outro. Somos sempre mais dignos que o outro. No próximo ano esse blog faz 10 anos de existência e amanhã amanhece como deveria amanhecer. Segue a normalidade. O Fundamentalista permanece fundamentalista, o ateu permanece ateu, e cada uma transa com quem quiser. Tudo isso é questão de sobrevivência. Desabafamos o que nos transborda para não importunar o outro. Em um livro, desses que cai no vestibular (procure), existe uma frase que diz: “Estão todos dormindo. Se ao menos a criança chorasse. Que miséria”. É do Graciliano. Se ao menos amanhã fosse um outro, e se as pessoas fossem mais graciosas, amanhã teria um outro perfume. Hilda Hilst, descanse no Olimpo. Bethânia, continue existindo pela eternidade afora. Birigui, sem previsões.


LG