quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

.Ela tinha cheiro de árvore.

Sem exigir que se gastasse muito o silêncio.

Faulkner, William. O som e a fúria.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

.O abajur do criado-mudo.

Onde será que isso começa? Tem uma casa nova cheia de lirismo, tem livros e gatos. Tem amigos jogados no sofá, tem visitas na sacada, pessoas que se quer eu conheço. Tem Frank Sinatra e whisky e toda uma parcela mais familiar e suportável. Tem comida de ontem e arroz esquentado. Tem bolo de banana e flores para todo lado, tem uma espécie de verde comovente e umas poltronas vintage. Era pra ser por ai. Tem uma Vodca russa que deu trabalho conseguir e um ventilador que não se parece com os outros. Tem o Chico filho da Cássia e o Chico neto do Buarque nas pesquisas recentes. Os gatos correm conformados, mas com saudade dos seus quintais, reais ou não, como diria Bethânia. Tem muita Bethânia, por mais que seu quadro ainda está por fazer. Tem um chaveiro emoldurando uma janela em amarelo-marrom. De dia o sol nasce a esquerda e se põe a direita da minha sacada, tem como colocar o bistrô bem no meio e ficar sempre no meio-dia. Tem gatos felizes desarrumando o tapete, tem gato atrofiado em um canto da casa querendo não ser. Tem maria-dora-amora e caixa de sílica, comida fresca e água gelada. Tem o amor no almoço, corrido, precisando vencer os compromissos inadiáveis. Tem compreensão e tudo estará certo se eu não precisar tirar o pijama o dia todo. Tem férias, um constante pedido para que a TV me surpreenda e a internet de conta. Ontem roubaram o caminhão com os instrumentos musicais do Caetano. Tudo ficará mais corrido depois e a bateria está acabando. Aquele livro também. Tem sociologia em cada canto e livros de arquitetura expostos na sala. Tem violão-violino-raquete-cafeteira. É um momento de felicidade. Tem samba alternado com jazz, e ela voltará logo menos para tudo começar a funcionar.


LG