quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Até você.


Cruzaram-se. Um tanto quanto peculiar não é mesmo? Sabia como agir, continuou o caminho como se nada estivesse acontecido, contudo sua atitude foi de mau grado. Como saber quão necessária era a sua atenção? Poderia precisar daquela pessoa nas noites escuras! Arrependeu-se. Por que não entoou um oi? Ainda se isso custasse, mas até onde sei o ato de cumprimentar ainda não vem com impostos, imaginem como seria...Senhor, acho que vi sua sobrancelha suspender, deve um percentual de sua felicidade ao Estado, ou até, senhor suas pálpebras uniram-se, piscadela está na lista dos cumprimentos de alto teor sexual, queira acompanhar-me. Custava? Cairia os lábios dizer: Oi? Também o receptor mostrou-se frio, caso eu estivesse tido coragem para o tal cumprimento ele poderia ter me esnobado, sua postura já denunciava que cumprimentos, naquela situação, são só para pessoas de extrema importância. Quero mesmo é que se arda com pessoas de extrema importância. Na verdade não queria que se ardesse com ninguém. Falando em arder lembrei de você sem roupa. Esses poetas, escritores, filósofos e a patota dão pena. Vivem curtas horas de gozo e depois contentam-se com as lembranças, mesmo assim lembro: da roupa que era pouca, depois já não era, da respiração que era certa, depois já não era e das coisas que fizeram a luz se apagar.


TEXTO: LG

FOTO:

Pedro Moreira

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Estranheza.

Ela parou. Andou. Parou de novo. Eu olhei, achei cômico. Ela resolveu andar mais alguns passos, parou. Estava eu com vontade de perguntar porque suas pernas copiavam os ébrios. Nada ali dizia-me respeito. Fiz então que olhava as nuvens enquanto o sorvete derretia sobre a mão. Quando voltei o olhar para ela vi que corria. Nossa, confusa não? Agora corria em círculos grandes que aos poucos se fechavam e fazia dela um miolo. Não agüentei. Fui para perto daquele miolo desconexo que só fazia respirar descompassado por função da maratona que percorreu. Sorvete? Ofereci como método para iniciar um diálogo. Não! Disse me olhando como se fosse eu uma pessoa sem os braços e com o nariz no lugar da boca. Calma lá, se alguém ali almeja o título de insano não existe criatura mais merecedora do que o casulo sem ar. Andou. Parou logo na minha frente. Quando dei indícios que exclamaria uma frase ela andou. Fiquei colérica. Vá à merda com sua esquisitice.

luana Foto:
Geoffroy Demarquet

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Saudade passa? Bom, nessa rua, ela nunca passou.

Pode existir amor sem saudade? E saudade sem amor, pode? Sabe quando Marisa Monte cantou: Tu não faz como um passarinho que fez um ninho e avôou...só eu que fiquei sozinha sem teu carinho e sem teu amor, então parece que todo mundo resolveu ser passarinho agora!

A Saudade, às vezes, é boa, não sei porque reclamo tanto dela, esses dias me fez tanta companhia. Uma menina solitária essa tal de Saudade, o problema da Saudade é que se acomodou, sabe daquelas visitas que não se toca, ela chega, senta-se e se deixar ela bebe todo o café.

- Você recebe visitas como as minhas ou as suas são mais educadas?

Esses dias me disseram que ela é uma foragida da polícia, que ela mata pessoas. Não acredito! Bando de Mexeriqueiros. Mas será? Esse povo da fofoca só serve para deixar os outros com a pulga atrás da orelha.

Ela parece ser uma moça carente, mas boa, só sabia chorar e chorar, reclamar ela reclamava há todo o tempo, mas, quem não reclama nessa vida não é mesmo?

Parece que estou correndo risco de vida, passarei a não dar as costas para a saudade!

Perguntaram-me: Se a saudade te tortura por que você não a manda embora de uma vez?

Não consigo mandá-la embora, entretanto tenho medo que ela se acostume comigo e eu me apegue a ela, crie laços afetivos, se Clarice permite eu farei uso das suas palavras para ilustrar o que vejo daqui a alguns anos, diria que: “então fecharam a inútil luz do corredor para acender a vela do bolo, uma vela grande com um papelzinho colado onde estava escrito ‘89’”. Minha saudade fazia aniversário.

Por enquanto ela me usa e bebe todo meu café, agora tenho medo de cortar o café dela, já que se mostra tão perigosa. Depressa, ela chegou, está batendo o bule na parede, acho que quer chamar minha atenção. Esta se machucando e machucando-me com isso, essa saudade deixa-me de coração apertado, acabou de dizer que vai passar uns dias na minha cama. Céus!

luana - foto: MARIAH

lg

Bach


Aqueles alemães não ouviam Bach, Wagner, Beethoven, não liam Goethe, Rilke, Hölderlin(?????) à noite, e de dia não trabalhavam em Auschwitz? A gente nunca sabe nada sobre o outro.

Hilda Hilste
Foto livre de créditos.

Tantos o disseram que talvez possa ser


Breu é quando tu te afastas ou dizes
Que viajas, e um sol de gelo
Petrifica-me a cara e desobriga-me
De fidelidade e de conjura. O desejo
Este da carne, a mim não me faz medo.
Assim como me veio, também não me avassala.

HILDA HILSTE - FOTO:
grENDel

ESTRANHO SERIA...


Music played, and people sang
Just for me, the church bells rang.

Now he's gone, I don't know why
And till this day, sometimes I cry
He didn't even say goodbye
He didn't take the time to lie.

Bang bang, he shot me down
Bang bang, I hit the ground
Bang bang, that awful sound
Bang bang, my baby shot me down...

FOTO:
Autor: ABrito

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Demais


Hoje tive a impressão de sentir que você estava perto, o tempo parou, mesmo sabendo que era ilusão, realmente, o tempo parou e muito eu senti. Sentia você. Eu devo ter esquecido o significado da palavra perto. O tempo voltou a correr e a vida foi seguindo, uma imagem me lembrou você, uma folha caiu e eu pensei em você, o sol não saiu e eu com frio queria você. Quem sou eu pra querer tanto? No meio de tantas pessoas que passam, também com frio e sozinhas, passou um menino e pisou na folha, o sol que eu esperava ficou mais escondido ainda quando veio a chuva. A imagem que eu via se perdeu, eu tive que me proteger caso não quisesse uma gripe, no cantinho fugindo da chuva eu pensei em você novamente. Vi duas pessoas dividindo um guarda-chuva e os acompanhei até onde meus olhos conseguiram, até o momento que um senhor tampou minha visão, dei BOM DIA como de costume, fiquei feliz em vê-lo, vejo tantos jovens que a essa altura senhores são quase comparados a dinossauros. A chuva ficou fraca, e eu tive vontade de tomar um banho quente, segui pra casa e aqui estou, lembrando...

luana Foto Por Alicina

lg

A atenção.

Às vezes o que queremos é somente estar ao lado de alguém, não importa se esse alguém é aquele que te despreza o bastante ou se é aquele que confia a você bons adjetivos; Para que serve adjetivos se não meios para chegar a um fim previsível? E é por causa dessa conquista, destemida e irracional, que estou pirando agora. Delicada e agressiva conquista, violenta e doce, intensa, incansável...O que é o sentimento se não for isso o que sinto, qual é o sentido de se sentir? Seus olhos tiraram-me a atenção...Suas palavras esquentam-me...Adoro-te sem roupa.

luana Foto Por Teresa Fonseca
lg



quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

"As pessoas correm da chuva, mas sentam em banheiras cheias d'agua". Charles Bukowski

Você



Hoje quando acordei a caneta não estava mais trancada no baú de muitas chaves, o papel não corria de mim como a tempos atrás. Hoje quando acordei eu pensei na mesma pessoa que ontem acompanhou-me até meu sono. Hoje quando acordei eu estava tão perto de você que mal consegui saber se realmente havia acordado. Hoje eu acordei sem você do lado, mas, acordei mais um dia, com você na cabeça.
lg

Despedidas


Foto Por Elsa Mota Gomes

Esse coração gelado e esse vazio atormentam-me, passa a incomodar, dói. Caso você estivesse ao meu lado, tudo seria diferente, sensação desconfortável não existiria, preciso te sentir perto para demonstrar felicidade, preciso de você quando acordo para despertar meu sorriso, ao meio dia para abrir meu apetite, nas tardes de verão para ver o por do sol e, para não sentir mais dor nenhuma, preciso adormecer ao seu lado. Quero parar de sentir essa falta dolorosa, queria chorar, sair gritando, tomar banho de chuva e sentir os pingos caírem fortes e ameaçadores. Penso que agora nossa distância é singela e simbólica, mas, quando essa distância não for mais simbólica, pensarei que eu deveria ter aproveitado cada minuto junto a ti.

lg

De que vale a vontade

De que vale essa saudade na boca
Perdoa essas noites febris

Perdoa se fiquei louca.

De que vale querer tanto
De que vale excluir o outro
Perdoa esse ouvido que te impediu de falar
Perdoa esse olhar que não notou seu pranto.
De que vale o tudo, se o nada se perde no ar...
Recorre ao escuro se ao sol você não soube amar...
Chama de Vadio e Inseguro aquele que quer te deixar.

lg

Aos gritos julgá-los-ia loucos.

foto por: Teresa Rosa

Só teve certeza que estava no local certo quando ouviu as batucadas, amedrontou-se. Quando vieram ao seu encontro aclamaram um oba-bate-de-ori, sua avó dizia que caso buscasse a cura deveria seguir ao encontro dos candomblés nagôs, foi o que fez. Ela estava mesmo era ababelada com tudo aquilo, como aconteceu com aquele povo quando BABEL veio a baixo, ababelaram-se. Se fosse outra cultura, índiana talvez, como os milhões de tupis, dir-lhe-iam que estava com o Abaçai no corpo e que os espíritos malignos a enlouqueceram. A noite que a moça desejava que terminasse logo caia sem muita pressa, vacilante e frouxa.

lg

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

PARADOXO

Foto Por A Brito

Parece que há muito tempo não sentia isso e já estava lhe fazendo falta.
...sua fisionomia era toda espiritual e o jogo delicado de suas expressões faciais denotava uma vida anímica interessante, bastante intensa, delicada e sensível.
O LOBO DA ESTEPE - HERMAN HESSE

...e depois convida a rir ou chorar.


Foto Por Rui Correia


Lançando pela boca aberta um grito que não podemos ouvir, pois nenhuma destas coisas é real, o que temos diante de nós é papel e tinha, mais nada. SARAMAGO

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Sempre falou mexendo os braços.

FOTO: Royalty free

Houve um tempo que necessitou de noites longas, livros esquisitos e garrafas de vinho sobre a mesa, habituou-se em secar garrafas. Dia desse Pedro da Quitanda disse para Dona Leocádia que a menina do 14 era alcoólatra, a conversa espalhou-se. Resolveu que não queria mais ver a cara do fofoqueiro, passou a comer poucos legumes só para não cruzar a rua e adentrar a quitanda, mudou o horário de estender as roupas só para não se dar o trabalho de cumprimentar a velha Leocádia, desenvolveu varias síndromes, resultado de algumas abstinências, primeiro do álcool depois de pessoas, estava agora com síndrome de pessoas mexeriqueiras, teve crises de soluços, febres e medos. Escondia-se. Fora surpreendida uma vez debaixo da mesa, outra vez enfiou-se debaixo das cobertas em um calor de derreter geleira. À medida que o tempo passava, sentia-se melhor, mais confiante talvez. Fato é que vivia sozinha. Era verão, conforme chovia os rios transbordavam. Ela se alagava em casa, antes sozinha do que mal acompanhada dizia seu avô. Tinha receio de sair e de convidar velhos amigos para visitá-la, vai que entrassem em sua casa só para apontar suas olheiras. Em compensação seus sapatos duravam anos.

luana