quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

.Quer saber, quero morrer sem dizer nada, talvez porra, que merda, estou morrendo.

Está há muitos anos esquecida de si mesma, fala mais claro, Vittorio. Esquecida de si mesma e de tudo o mais, olha as árvores e chora, lembra-se de ter sido árvore, foi árvore e sente piedade, foi cadela e sente piedade, foi também esses bichos pequenos. Que bichos? Doninha rato lagartixa. Ahn. E sente compaixão por todos eles. Estás me dizendo que tua amiga ficou louca? Não, era lúcida demais para pirar. Mas não são os lúcidos demais que enlouquecem? Tu chama loucura isso de se saber mil outros? E tu não? Não.



quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

.Erras o tempo todo na receita, troca vodca por gim.

Que turbulência, a noite inteira discursando, que textos desencavas do teu peito, e que estória é essa de alisares uma dona que não conheço?

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

.Não gosto nem digo que não, é inútil.

Perdi o caminho do de dentro de mim mesmo. Vou esmaecendo, girassóis e sombras, ouro e luto, contrastes, via a mulher aquele dia e tocava-lhe o rosto, mas segundo os outros, tocava o nada, não havia mulher alguma ali, eu desenhava-lhe os contornos, ela sorria, havia até cheiros, esse da flor-da-noite, forte forte. É a estrada do sem fim.

Você prefere hoje café forte ou fraco?

Matias, será que você não entende? Eu inventei a mulher. Só eu é quem via a mulher. Mas você não disse que ela casou com o tal garimpeiro? Foi. Um tal de Zé Preto. Pois foi só ai que eu sarei. Inventando também esse cara. Meu deus!!!

Eu só entendo de paixão, e paixão é intraduzível.

Indescritível, você quer dizer também. Paixão é aquele lago que dá medo, lembra? O lago Averno sei. A entrada do Inferno. Aquele. Entrei nele uma vez. Fiquei gigantesco e rubro. Cresci e quem era? Ele ou ela? Ela. Estupenda, esguia, mão pequeninas. Estanho. Por que? Não parece passional? Você é mesmo um idiota. Paixão é isso. É não saber porque. E ai? Ai que eu quase morri. Perdi o caminho do de dentro de mim.

sábado, 26 de dezembro de 2009

.Eu, meu manhattan e minhas estrelas.


Olho para meus pés. Caminhei pouco durante toda a vida. O máximo deve ter sido naquele passeio. Onde quebrei a perna. Detesto andar. Talvez por isso não consiga mais. Tudo se esvai, tudo se dilui, não é mesmo? E a carne vai ficando triste e sarapintada e não há mais amor nem sonhos. Sono também não há.

.Gostei quando escrevi isso. Ancorada no riso, isso é bom, só não divido, nunca mais.

A descoberta de não ser, de ser apenas um corpo envelhecendo, uma boca vazia agora silenciosa, não neste instante silencioso, mas uma eternidade silenciosa, e isso também de não ter entendido nada, isso soa penoso e sinistro mas não é...é como um grande pudim de cenoura, nãoterentendidonada, pior teria sido ter entendido tudo. Talvez se eu colocasse meu pulôver inglês e luvas de pelica me sentiria alguém mais alguém.

Nota: Petrarca pode seduzir qualquer uma. Ando sórdido e solto.


É o cansaço de todos os dias, as tardes vão se fazendo mansas e fecundas. Fecundas, por que? Porque muitas caras vão surgindo, espio, e lá está vaidoso, comprometido com as palavras, querendo construí-las, dissolvê-las, e depois outro modorrando sobre elas, degustando...

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

.Primos e seus planos.

Vinte e poucos anos e só pensava em nadar o bestalhão...nadar pra que? Vai atravessar o Eufrates?

.Não reclame.


A solidão tem cor, é roxo escuro e negro, é como se você fosse andando... uma vasta planície, vai andando vai andando, é tardezinha, há até uma certa euforia, um vínculo entre você e aquela extensão.

.Das festas.

Digamos que tudo ocorre em perfeita harmonia, cedo demais para terminar, cedo demais para a bebida fazer efeito, cedo demais para se exaltarem, cedo cedo cedo e cego, patético dia de festa cristã, patéticas reuniões, patéticos amigos que somem. Infiéis. Irresponsáveis. Se não fosse das brincadeiras frustradas trocadas entre os meus. E o pior ainda está por vir. As viradas. Virado do que? Ainda se algo virasse, a mudança viesse, mas você não vem cretina, você não vem.

LG


terça-feira, 22 de dezembro de 2009

.Os risinhos entre um uísque e outro me parece coisa de bordel.

Naquela noite, tu estavas no canto da sala com o copo de uísque na mão, naquele canto, aliás neste canto aqui da sala onde temos o Gruber, o desenho da menina famélica (sempre detestei este desenho, detesto fome pobreza riscos negros num quadro, detesto Francis Bacon também, aqueles horrores que os pedantes gostam, se vissem alguém desfocado assim se mijariam nas calças.

.Mulheres dificilmente jogam bem o pôquer...

Então te puxei pelo braço, quase na altura do ombro ali onde estás bem flácida, cretina, tu pensas que esse bobalhão te ama?

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

.Como era mesmo?

Há sonhos que devem ser resonhados, projetos que não podem ser esquecidos...eu queria muito aquela outra mulher de volta. Quem? Uma. Sempre turva, meio avermelhada, fingia-se de fria a cretina. São raras as mulheres engraçadas, a maior parte das vezes você pega sempre uma Jocastra, umas lamuriosas, meio falsas...mas pra que você quer uma mulher engraçada? Há névoas dentro de mim.


.Fico desejando austeridade, mas aliso as grandes mesas e as pilhas de livro.

Como posso esquecer aquela vaca? Você esqueceria alguém que depois de 30 anos, já velhota, te diz que não agüenta mais teus discursos, teus métodos? Alguém deve ter dito o mesmo para Descartes. Não seja cínico. Você me esforça.

.A casa que eu sempre morei.



Tínhamos tudo ali. Coisas demais. Livros estantes papeladas poltronas sofás quadros. Pra que toda aquela porcaria? Porcaria...os livros eram porcaria?

domingo, 20 de dezembro de 2009

.É outra coisa, entende?

É necessário forçar os homens a serem livres. (Rousseau)


O que a gente não se dá conta é de que o conservador, quando faz a reforma liberal, faz conservadoramente.

Como diria Churchill, “é um enigma dentro de uma charada”.