Os internos dos campos de refugiados ou as pessoas em busca de asilo não podem voltar “ao lugar de onde vieram”, já que os países de origem não os querem de volta, suas formas de subsistência foram destruídas e seus lares, pilhados, demolidos ou roubados. Mas também não existe um caminho à frente – nenhum governo teria satisfação em ver o influxo de milhões de sem-teto, e qualquer um faria o possível para evitar que os recém-chegados se estabelecessem.
Quanto à sua nova localização “permanentemente temporária”, os refugiados “estão nela, mas não são dela”. Não pertencem verdadeiramente ao país em cujo território foram montadas suas cabanas ou tendas portáteis. São separados do restante dele por uma cortina de suspeitas e ressentimentos que é invisível, mas ao mesmo tempo espessa e impenetrável. Estão suspensos num vácuo espacial em que o tempo foi interrompido. Não se estabeleceram nem estão em movimento. Não são sedentários nem nômades.
São pessoas de carne e osso, mas, não são pessoas como nós, eles não são apenas intocáveis, mas também impensáveis. Num mundo transbordando de comunidades imaginadas, são inimagináveis. E é recusando-lhes o direito de serem imaginados que os outros, agregados em comunidades genuínas, buscam credibilidade para os seus próprios esforços de imaginação.
Bauman, Z. Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. RJ: Jorge Zahar, 2004. (p. 167)
2 comentários:
Vem Wilson, Gregório, Raissa, Cintia, Rafa, Felipe...discutir o que a trindade Território/Estado/Nação está fazendo com os “não portadores de direitos”. Devemos observar que o conceito de “trânsito” humano agora é visto pelas fronteiras altamente protegidas como “tráfico” humano; e que essas pessoas estão passando pelo “temporário” mais “permanente” que já vigorou nos bloqueios territoriais. Também, de acordo com a última lista da ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) – que a Jolie faz parte, deletem isso – informou que há entre 13 e 18 milhões de “vítimas de deslocamento forçado” lutando para sobreviver além das fronteiras dos seus países de origem e BEM-mal recebidos pelos acampamentos.
Olá! A despeito da dramaticidade social dos refugiados e da importância política e sociológica do tema, não dá para discutir genericamente como faz Bauman. Faltam vários elementos: quem são as vítimas? Por que são vítimas? Quais as condicionantes sociais, políticas e econômicas que as levam a se refugiar? Quem são os Estados que as fazem vítimas? São Estados capitalistas ou pré-capitalistas? Tenho a impresão que, apesar das revoluções burguesas dos séc. XVIII e XIX, ainda temos Estados pré-capitalistas que "convivem" com outros tantos capitalistas. Mas Bauman não faz estas perguntas e, menos ainda, apresenta respostas. Nas plagas latino-americanas em pleno século XXI, recheadas de Estados capitalistas, não temos refugiados, mas presos políticos e exilados políticos. E aí? Não vivemos sob regimes democráticos? Faz sentido, imagino, questionar de que Estados capitalistas estamos nos referindo que fazem vítimas de autoritarismos sob roupagens democráticas. Não me leve a mal, nenhuma crítica a autora do blog, até porque o texto não é dela, mas prefiro fazer estas discussões com sociólogos, cientistas políticos, enconomistas etc. que têm como referências as barbaridades do capitalismo e não a tal "sociedade pós-alguma coisa", como é o caso do Bauman.
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