Voltar a escrever significa, dentre outras coisas, devolver seu café da manhã. Agora te pergunto quando vai enlatar maresia e enviar para minha caixa postal? São dias insanos! Por aqui papéis e textos, livros e teses, artigos incompletos, prazos esmurrando a porta. O que você tem feito além de estudado freneticamente? Com que tem se preocupado? Quanto mais me afasto, mais penso que o erro se agiganta e tenho medo do tombo. Estaríamos felizes? Estaríamos sem preocupações se permanecêssemos com aquele pensamento mediano, assistindo telenovelas, virando páginas sorridentes das revistas de cabeleireiro? Por que insistir em ser esse tudo-nada, ter esses planos beirando a genialidade intelectual, ganhar prêmios defendendo a humanidade e debochar de políticos? Para que manter a pose esculpida e discutir sobre tudo, usar palavras complicadas, racionalizar o anúncio publicitário? Vai chegar onde? Onde você vai chegar? O descontentamento graça o mundo. Tenho Hilst e Neruda me esperando aqui do lado, enquanto cumpro mais uma exigência dos programas assombrados pelo CNPq, e que monstro és? Que monstro enclausurado sonha se tornar? Uma biblioteca no sítio, uma pousada no outono, um lugar sem pessoas... não sei mais. Você sabe?
Quem sou, sinceramente, estudante de sociologia, daquelas pessoas que para sempre terão que conviver com a pergunta da vizinha: mas o que você faz mesmo? Leitora viciada e jogadora de xadrez aposentada.
Nasci para escrever. A palavra é meu domínio sobre o mundo. Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por que, foi esta que eu segui. Talvez porque para outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós.
Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas" Clarice Lispector
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