O nosso pobre pobre
Não saberá que fazer com tanto céu.
Poderá ará-lo, semeá-lo, colhê-lo?
Isso ele o fez sempre, duramente
lutou com os torrões,
e agora é suave o céu para lavrar.
O nosso morto-pobre que leva, por fortuna,
sessenta anos de fome cá de baixo,
e para saciar, por fim, como é devido,
sem que a vida mais pontapés lhe dê,
sem que o prendam só porque come,
debaixo da terra, no seu ataúde
já não se mexe, nem se defende,
nem lutará pelo seu salário.
Nunca esperou tanta justiça este homem,
Abarrotaram-no de repente e de repente agradeceu:
Ficou calado de tanta alegria.
NERUDA, P. Plenos Poderes. Lisboa: Dom Quixote. 1977 (p.69)
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