segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

.A música continua nos olhos, no ficar parada, no encostar-se à janela, aspirando que cheiros lá de fora?

Se apenas na minha cabeça é que havia esse muito obsceno colocar. Obsceno, Maria? Os nomes carregados de susto, falei obsceno e obsceno não era, que coisa é que fizeram às palavras, que coisa às gentes, grudaram-se à língua e aos nossos costados letras e culpas, que coisa quer dizer isso de se sentir em desejo e culpada? Se pudesse inventar essa estória do rei e ter parceria madura para concretizá-la, alguma coisa em mim sabe outra coisa que não sei, talvez porque Matamoros dormindo não sonhasse, e somente no dia a sai daquilo que os homens chamam de realidade, fosse possível transformar em verdade o que seria apropriado à fantasia da noite, Matamoros dos sonhos esquecida, vê-se tomada de sonhos no muito denominado concreto da vida, e o que vem a ser isso de sonho e verdade?



Hilst, H. Tu não te moves de Ti. SP: Globo, 2004. (p.124)

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