que paga o pato
fica a pé
dá nó nas tripas
aperta o cinto
encolhe o rabo
perde a festa
e nunca tem hora.
Elza Beatriz
O senhor tolere minhas más devassas no contar. É ignorância.
que paga o pato
fica a pé
dá nó nas tripas
aperta o cinto
encolhe o rabo
perde a festa
e nunca tem hora.
Elza Beatriz
Lembrado por Lg. às 20:18 0 ...plebiscito...
Lembrado por Lg. às 13:31 0 ...plebiscito...
Se apenas na minha cabeça é que havia esse muito obsceno colocar. Obsceno, Maria? Os nomes carregados de susto, falei obsceno e obsceno não era, que coisa é que fizeram às palavras, que coisa às gentes, grudaram-se à língua e aos nossos costados letras e culpas, que coisa quer dizer isso de se sentir em desejo e culpada? Se pudesse inventar essa estória do rei e ter parceria madura para concretizá-la, alguma coisa em mim sabe outra coisa que não sei, talvez porque Matamoros dormindo não sonhasse, e somente no dia a sai daquilo que os homens chamam de realidade, fosse possível transformar em verdade o que seria apropriado à fantasia da noite, Matamoros dos sonhos esquecida, vê-se tomada de sonhos no muito denominado concreto da vida, e o que vem a ser isso de sonho e verdade?
Hilst, H. Tu não te moves de Ti. SP: Globo, 2004. (p.124)
Lembrado por Lg. às 11:35 0 ...plebiscito...
Antes de escapar, as escravas roubam grãos de arroz e de milho, pepitas de trigo, feijão e sementes de abóbora. Suas enormes cabeleiras viram celeiros. Quando chegam nos refúgios abertos na selva, as mulheres sacodem as cabeças e fecundam, assim, a terra livre.
GALEANO. A. Mulheres. L&PM, Porto Alegre: 2011 (p.96)
Lembrado por Lg. às 17:18 1 ...plebiscito...
Nota desconexa: ontem quem levou a madrugada foi Midnight in Paris, anotei novamente a necessidade de ler O Velho e o Mar. Hoje Anne Hathaway com One Day me deixou com vontade de aprender a nadar e andar de bicicleta, andar de bicicleta eu sei. Bom dia Hilda Hilst!
Tinha as mãos cheias de pequenas flores amarelas, olhei-as como que perguntando para que serviriam, porque tão rente às flores é que lhes haviam amputado o comprido cabo, me parecendo por isso inadequadas às jarras da casa, e Haiága adivinhando pôs-se de costas para mim e um tom de naturalidade tão naturalíssima deu à frase, à frase esta – para pôr ao redor do que se vai comer – como se fosse corriqueiro entre nós naquela casa enfeitar as comidas e tolo o meu perguntar, com algum cansamento: ah sim, como aqui se faz sempre.
Hilst, H. Tu não te moves de Ti. SP: Globo, 2004. (p.107)
Lembrado por Lg. às 06:08 2 ...plebiscito...
Eu crio tantas personagens em mim, tantas estórias de encontros, conquistas e despedidas dolorosas, algumas fáceis de sair, outras nem tanto, que às vezes penso ser uma eterna mentira vivendo. Vida de personagem construída com cuidado e mais atraente na ficção, talvez por isso tenha dormido tanto. Talvez para efeito de oposição e para me livrar tenha recorrido tanto ao café. Talvez e tanto. Depois enjoada do cheiro e percebendo que de tão enjoada começa a percorrer aquela náusea descubro que o enjôo é real. Geralmente é isso, vivendo no real padecemos de náusea crônica.
LG
Lembrado por Lg. às 20:09 2 ...plebiscito...
Marcadores: Minhas Palavras.
Hilst, H. Tu não te moves de Ti. SP: Globo, 2004. (p.105)
Lembrado por Lg. às 19:12 1 ...plebiscito...
Então larguei as ramas e as pitangas e fulva que agachei raspando o chão, atirei-lhes punhados de terra e chorei alagada, muito, tanto como se fosse entregar a alma ao Soberno.
Hilst, H. Tu não te moves de Ti. SP: Globo, 2004. (p.101)
Lembrado por Lg. às 19:06 0 ...plebiscito...
Senti-me viva e generosa e boa, quase sacramentada, quase santa...
Hilst, H. Tu não te moves de Ti. SP: Globo, 2004. (p.98)
Lembrado por Lg. às 17:55 0 ...plebiscito...
Lembrado por Lg. às 09:28 3 ...plebiscito...
Hilst, H. Tu não te moves de Ti. SP: Globo, 2004. (p.94)
Lembrado por Lg. às 06:52 0 ...plebiscito...
NERUDA, P. Plenos Poderes. Lisboa: Dom Quixote. 1977 (p.125)
Lembrado por Lg. às 23:41 0 ...plebiscito...
Não é por querer deixar alguém nem aos outros, nem a ti, e se escutares com atenção, na chuva, poderás ouvir que vou e venho e me demoro. E sabes que devo partir. Se não se entendem as minhas palavras não julgues que sou o que outrora fui. Não há silêncio que não se acabe. Quando chegar o momento, espera-me, e que saibam todos que saio à rua com o meu violino.
NERUDA, P. Plenos Poderes. Lisboa: Dom Quixote. 1977 (p.87)
Lembrado por Lg. às 23:30 1 ...plebiscito...
Não consigo dormir. Tem uma mulher atravessada entre minhas pálpebras. Se pudesse diria a ela que fosse embora; mas tem uma mulher atravessada em minha garganta.
GALEANO. A. Mulheres. L&PM, Porto Alegre: 2011 (p.28)
Lembrado por Lg. às 02:03 2 ...plebiscito...
LG
Lembrado por Lg. às 04:09 4 ...plebiscito...
Marcadores: Minhas Palavras.
Pelo contra-movimento do facebook e para os colegas que perdi. Uma coisa é fato, não podem me acusar de apatia. Tenham uma boa vida cheia de provérbios e frases enfeitadas, fotos de amigos rolando na grama e brincando com cachorros, crianças com bonecas lindas e homenagens a deus. Mas, para o bem de vocês, não demorem para retirar o tapa olho. Meus sentimentos e boa missa.
Eu tenho vergonha dos meus colegas contemporâneos. Gostaria de expressar minha indignação. Quando se posta ou compartilha um link sobre problemas reais, atuais e que necessitam de intervenção humana, não se vê repercussão alguma. Quando são colocadas fotos tristes sobre o nazismo ou fome na zâmbia, todos compartilham, se lamentam por não viver naquele tempo e ter lutado contra a repressão (isso dá um certo envolvimento com a “humanidade”. Por que se lamentam do ocorrido? Seria por preguiça de se envolver no atual? Sabe-se lá! Se todos soubéssemos o poder dessas redes sociais que de social não tem nada e de inclusão menos ainda. Se todos deixarem de ser, por um minutos, narcisos dentro das suas torres talvez o massacre de Pinheiros teria um fim com menos sangue. Despolitizar os jovens é a maior arma da PM e da situação no poder, agora estão todos ai assistindo a violência e com aquela cara de “se eu soubesse o que está acontecendo” ou “não vou compartilhar nada porque não tenho opinião formada” ou, pior, “porque eles foram morar lá?”. Vergonha é pouco.
LG
Intertexto - Bertolt Brecht
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Lembrado por Lg. às 17:04 2 ...plebiscito...
Marcadores: Minhas Palavras.
Lembrado por Lg. às 21:33 0 ...plebiscito...
Enche, pois, de palavras minha loucura
ou deixa-me viver em minha serena noite.
Garcia Lorca
Lembrado por Lg. às 13:08 1 ...plebiscito...
Em épocas remotas, as mulheres se sentavam na proa das canoas e os homens na popa. As mulheres caçavam e pescavam. Elas saíam das aldeias e voltavam quando podiam ou queriam. Os homens montavam as choças, preparavam a comida, mantinham acesas as fogueiras contra o frio, cuidavam dos filhos e curtiam as peles de abrigo. Assim era a vida entre os índios onas e os yaganes, na Terra do Fogo, até que um dia os homens mataram todas as mulheres e puseram as máscaras que as mulheres tinham inventado para aterrorizá-los. Somente as meninas recém-nascidas se salvaram do extermínio. Enquanto elas cresciam, os assassinos lhes diziam e repetiam que servir aos homens era seu destino. Elas acreditaram. Também acreditaram suas filhas e as filhas de suas filhas.
Eduardo Galeano
Lembrado por Lg. às 03:08 0 ...plebiscito...
O nosso pobre pobre
Não saberá que fazer com tanto céu.
Poderá ará-lo, semeá-lo, colhê-lo?
Isso ele o fez sempre, duramente
lutou com os torrões,
e agora é suave o céu para lavrar.
O nosso morto-pobre que leva, por fortuna,
sessenta anos de fome cá de baixo,
e para saciar, por fim, como é devido,
sem que a vida mais pontapés lhe dê,
sem que o prendam só porque come,
debaixo da terra, no seu ataúde
já não se mexe, nem se defende,
nem lutará pelo seu salário.
Nunca esperou tanta justiça este homem,
Abarrotaram-no de repente e de repente agradeceu:
Ficou calado de tanta alegria.
NERUDA, P. Plenos Poderes. Lisboa: Dom Quixote. 1977 (p.69)
Lembrado por Lg. às 01:17 0 ...plebiscito...
Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam.
Lembrado por Lg. às 18:20 0 ...plebiscito...
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei. Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...
Fernando Pessoa
Lembrado por Lg. às 22:20 0 ...plebiscito...
LG
Lembrado por Lg. às 11:30 0 ...plebiscito...
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LG
Lembrado por Lg. às 18:42 2 ...plebiscito...
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Lembrado por Lg. às 16:11 0 ...plebiscito...
Marcadores: Minhas Palavras.
Os peitos agrandados e fervente, eu olhava o caminho, ela à frente não se voltava, os cabelos de tão pesados acompanhavam-lhe os passos, farto molho de fios e fios, transpirava tão grande que a raiz dos seios via-se molhada, a blusa de amarelos com ramagens parecia viva como se vê nos campos o capim orvalhando.
Hilst, H. Tu não te moves de Ti. SP: Globo, 2004.
Lembrado por Lg. às 16:07 0 ...plebiscito...
Consta nos astros, nos signos, nos búzios. Eu li num anúncio, eu vi no espelho, tá lá no evangelho, garantem os orixás, serás o meu amor, serás a minha paz. Consta nos autos, nas bulas, nos dogmas, eu fiz uma tese, eu li num tratado, está computado nos dados oficiais. Serás o meu amor, serás a minha paz. Mas se a ciência provar o contrário, e se o calendário nos contrariar, mas se o destino insistir em nos separar... Danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas, os búzios, as bulas, anúncios, tratados, ciganas, projetos, profetas, sinopses, espelhos, conselhos. Se dane o evangelho e todos os orixás, serás o meu amor, serás, amor, a minha paz. Consta na pauta, no Karma, na carne, passou na novela está no seguro, pixaram no muro, mandei fazer um cartaz serás o meu amor, serás a minha paz.
Lembrado por Lg. às 19:55 1 ...plebiscito...
Mando entregar meu abraço em Trento ou em Londres? Onde mato minha saudade de você? Se eu pudesse roubar seu pedido de aniversário desceria a faca no bolo pensando: que ela volte e devolva minhas conversas interessantes em algum lugar de Londrina. Parabéns minha sommelier favorita.
Lembrado por Lg. às 18:02 0 ...plebiscito...
TOPOGRAFIA DE UM DESNUDO de Teresa Aguiar conta a estória de um fato que abalou o início dos anos 60: a operação mata-mendigos. Esse episódio aconteceu no Rio de Janeiro, e culminou com a morte de vários moradores de rua, que eram presos, torturados e depois jogados aos rios Guandú e da Guarda. Alguns pesquisadores ligam as torturas a uma espécie de treinamento pelo qual estavam passando quadros da própria polícia, já que o fato aconteceu na ante sala do golpe militar. Mas o consenso é que o fato estava ligado à visita da Rainha Elizabeth ao Brasil.
Em 1972, Teresa Aguiar era professora da Escola de Arte Dramática (EAD) da USP e foi com um grupo de alunos apresentar O Rato no Muro de Hilda Hilst no Festival de Teatro de Manizales, Colômbia. Nesse festival foi apresentada a obra Topografia de um Desnudo do chileno Jorge Diaz, que escreveu a peça baseado numa matéria que saiu nos jornais do Chile sobre a operação mata-mendigos.
Lembrado por Lg. às 14:41 2 ...plebiscito...