quinta-feira, 25 de abril de 2013

.Gostava de Lisa. Ela ia ser ultragostosa algum dia. Ou uma gostosa com personalidade. Mas amava Lydia.



Essa coisa de amor é complicadíssimo. Estava quase dormindo quando Lydia, de repente, sentou empertigada na cama. E gritou. Um grito alto.
- Que foi? – perguntei.
- Fica quieto.
Esperei. Lydia ficou sentada, sem se mover, por uns dez minutos. Daí, tombou de novo sobre o travesseiro.
- Eu vi Deus – disse ela. – Acabei de ver Deus.
- Escuta aqui sua cadela, você quer me deixar maluco?
Me levantei e comecei a me vestir. Estava puto. Não conseguia achar minha cueca. Foda-se, pensei. Deixei-a onde quer que estivesse. Já vestido fui pra sala.
- Você vai embora! – ela gritou.
Ela pulou em cima de mim. Costumava me atacar quando eu estava calado. Agora eu estava triste e calado. Saltei de banda e ela caiu no chão, rolou, ficou de costas. Passei por cima dela no caminho para porta. Ela espumava de raiva, rosnava, mordia os lábios. Olhei-a no chão. Ao me ver sair, ela deu uma rosnada, cravou as unhas na manga do meu casaco, deu um puxão – e lá se foi a manga.
Abri a porta e saltei pra fora, com um braço nu.
Quando me livrei dela, acelerei o carro. Olhei pelo retrovisor e a vi parada sob o luar, sozinha e imóvel. Minhas tripas se retorceram. Me senti doente, inútil, triste. Estava apaixonado por ela.
Bukowski

2 comentários:

Aspone disse...

Bukowski dispensa comentários.

Alvarêz Dewïzqe disse...

o velho fazendo poesia da vida ordinária do dia-a-dia.