É doença não é, Hilde? Hilde, sua
mãe, sorria, não, é pequeno, é criança, e quando ainda somos assim, sempre de
alguma coisa temos medo, não é doença, é medo. Cresceu. Foi adoçando a voz, vou te dar
um nome, vem aqui, não te farei mais perguntas, vem, e ele veio, o porco, a
anca tremulosa roçou minhas canelas, eu agachei, redondo de afago. Foi
amornando a lisura do couro, e mimos e falas, e então descobriu que era uma
porca o porco. Devo dizer-lhes que em contentamento conviveu com Hilde a vida
inteira. Deu-lhe o nome da mãe em homenagem àquela frase remota: sempre de
alguma coisa temos medo. E na manhã de um domingo celebrou casamento. Era uma
solidão que só se curava com a porca. Um parêntese devo me permitir antes de terminar:
a vida dele foi plena, visceral, lindamente feliz. Hilde também.
Hilst
2 comentários:
O medo é a casca dos melhores frutos.
GK
Eu me sinto de redondo de afago, sempre que visito o seu blog.
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