Essa coisa de amor é complicadíssimo. Estava quase
dormindo quando Lydia, de repente, sentou empertigada na cama. E gritou. Um
grito alto.
- Que foi? – perguntei.
- Fica quieto.
Esperei. Lydia ficou sentada, sem se mover, por uns
dez minutos. Daí, tombou de novo sobre o travesseiro.
- Eu vi Deus – disse ela. – Acabei de ver Deus.
- Escuta aqui sua cadela, você quer me deixar maluco?
Me levantei e comecei a me vestir. Estava puto. Não
conseguia achar minha cueca. Foda-se, pensei. Deixei-a onde quer que estivesse.
Já vestido fui pra sala.
- Você vai embora! – ela gritou.
Ela pulou em cima de mim. Costumava me atacar quando
eu estava calado. Agora eu estava triste e calado. Saltei de banda e ela caiu
no chão, rolou, ficou de costas. Passei por cima dela no caminho para porta.
Ela espumava de raiva, rosnava, mordia os lábios. Olhei-a no chão. Ao me ver
sair, ela deu uma rosnada, cravou as unhas na manga do meu casaco, deu um puxão
– e lá se foi a manga.
Abri a porta e saltei pra fora, com um braço nu.
Quando me livrei dela, acelerei o carro. Olhei pelo
retrovisor e a vi parada sob o luar, sozinha e imóvel. Minhas tripas se
retorceram. Me senti doente, inútil, triste. Estava apaixonado por ela.
Bukowski
2 comentários:
Bukowski dispensa comentários.
o velho fazendo poesia da vida ordinária do dia-a-dia.
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