sábado, 20 de abril de 2013

.Ensaiou pequenas frases tortas, memoriosas, para falar, se é que estás aqui, dentro da minha evidência, neste quarto, atuando na minha própria circunstância.


É doença não é, Hilde? Hilde, sua mãe, sorria, não, é pequeno, é criança, e quando ainda somos assim, sempre de alguma coisa temos medo, não é doença, é medo. Cresceu. Foi adoçando a voz, vou te dar um nome, vem aqui, não te farei mais perguntas, vem, e ele veio, o porco, a anca tremulosa roçou minhas canelas, eu agachei, redondo de afago. Foi amornando a lisura do couro, e mimos e falas, e então descobriu que era uma porca o porco. Devo dizer-lhes que em contentamento conviveu com Hilde a vida inteira. Deu-lhe o nome da mãe em homenagem àquela frase remota: sempre de alguma coisa temos medo. E na manhã de um domingo celebrou casamento. Era uma solidão que só se curava com a porca. Um parêntese devo me permitir antes de terminar: a vida dele foi plena, visceral, lindamente feliz. Hilde também.
Hilst

2 comentários:

Gugu Keller disse...

O medo é a casca dos melhores frutos.
GK

Aspone disse...

Eu me sinto de redondo de afago, sempre que visito o seu blog.