sexta-feira, 12 de março de 2010

.As canções que me faziam lembrar dela.

Havia achado, sempre, que morrer de amor não era outra coisa além de uma licença poética. Naquela tarde, de regresso para casa outra vez, sem o gato e sem ela, comprovei que não apenas era possível, mas que eu mesmo, velho e sem ninguém, estava morrendo de amor. E também percebi que era válida a verdade contrária: não trocaria por nada neste mundo as delícias do meu desassossego. Havia perdido mais de quinze anos tratando de traduzir os cantos de Leopardi, e só naquela tarde os senti a fundo: Ai de mim, se for amor, como atormenta.


GARCIA MÁRQUEZ, G. Memórias de Minhas Putas Tristes. RJ: Record, 2009. (p. 95)

2 comentários:

Tali disse...

"Mas na desordem da saída sentiu-o tão iminente, tão nítido no tumulto, que uma força irresistível a obrigou a olhar por cima do ombro quando abandonava o templo pela nave central, e então viu a dois palmos de seus olhos os outros olhos de gelo, o rosto lívido, os lábios petrificados pelo susto do amor." (Gabo - O Amor nos Tempos do Cólera)

Anônimo disse...

Será um gato um tigre mínimo de salão?