Havia achado, sempre, que morrer de amor não era outra coisa além de uma licença poética. Naquela tarde, de regresso para casa outra vez, sem o gato e sem ela, comprovei que não apenas era possível, mas que eu mesmo, velho e sem ninguém, estava morrendo de amor. E também percebi que era válida a verdade contrária: não trocaria por nada neste mundo as delícias do meu desassossego. Havia perdido mais de quinze anos tratando de traduzir os cantos de Leopardi, e só naquela tarde os senti a fundo: Ai de mim, se for amor, como atormenta.
GARCIA MÁRQUEZ, G. Memórias de Minhas Putas Tristes. RJ: Record, 2009. (p. 95)
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"Mas na desordem da saída sentiu-o tão iminente, tão nítido no tumulto, que uma força irresistível a obrigou a olhar por cima do ombro quando abandonava o templo pela nave central, e então viu a dois palmos de seus olhos os outros olhos de gelo, o rosto lívido, os lábios petrificados pelo susto do amor." (Gabo - O Amor nos Tempos do Cólera)
Será um gato um tigre mínimo de salão?
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