domingo, 14 de março de 2010

.Brindamos a qualquer coisa que ainda não viera.

Não sei se tive medo — dos cães, da noite, dos corpos — ou se apenas queria que me vissem. De alguma forma, pensava confuso que jogando luz sobre a cozinha outra vez nos olharíamos nos olhos. Parecia importante saber se a mão no meu cabelo pertencia a Pedro ou a Virgínia, se a boca contra a minha era de Júlio ou Martha e assim, pensei, também os outros. Para que soubéssemos, acho, da exata medida e intenção de cada toque em cada membro, foi que acendi a luz. Como um filme que de repente pára, todos me olharam imobilizados no que faziam. Eu era o centro móvel do que começaria a acontecer no próximo momento. Marília olhou como se procurasse censura nos meus olhos. Mas eu queria festa, não dor.


Caio Fernando Abreu - Sétimo Fragmento da Décima Terceira Voz



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