terça-feira, 19 de abril de 2011

.Me encara de frente.



A Da tarde vai ao quadro. Volta. Debruça as duas mãos na mesa. Cola do seu resumo. Bamboleia os anéis nos dedos. Ajusta os óculos. Quase sempre solta um sarcasmo e se diverte com ele. Quase sempre ninguém capta. Não sucumbe. Particularmente o sarcasmo alheio me atrai e até arrisco, em público, um riso contido de canto de boca. Por dentro riu solto. Visão privilegiada. Sala agradável. Ar correndo. Uma grande vidraça à minha frente que permite vislumbrar a copa das mangueiras. Admirável. O conhecimento se apresenta de perfil, a janela me encara, longa, evasiva, penetrante. Inundada. Clareia e Intimida. Perco-me no breve sonho do bem-estar perpétuo. Derramaram café, ficou aquele caminho pingado. A sala toda cheira desespero, essa fragrância presa na compulsão das palavras. Fragrância intelectual. Logo mais a mesma sala será contemplada pela presença dela, a Da noite. Certamente inverterei o ângulo, tendo assim a janela de perfil. Essa outra, das mãos finas e pintadas, inunda, clareia e intimida, roubando o papel, tornando-se a própria vidraça para o mundo.

LG




Um comentário:

Renata Bortolletto disse...

Pode aceitar ai meu comentário..só pra vc ver que eu sei sim postar..sua coisa!! rsrsrs Muito belo...