O amante saíra precipitado, com medo de levar tiro nas costas. Ela, no canto, encolhida, tentava se cobrir ligeira, mas deixara aparecer, de propósito, o seio. Um arrepio correu-lhe todo o corpo. O marido disfarçou, ignorou, arrumou os lençóis, deitou-se. Julia seguiu-o, se ajeitou. Ele desejou morrer, de sufoco e desgosto no coração. Tudo era silêncio. Foi quando ele sentiu que o pé dela tocava o seu. Quis levantar-se, mas não pôde. Ela virou-se na cama e encostou-se a ele. Paulo acariciou-a. Abraçaram-se. E, no grande momento, ela pediu:
- Perdoa-me...
- Não!
Empurrou-a. Apertou-lhe a garganta. Solto-a. Tinha uma vontade louca de esmagá-la. Disse-lhe nomes horríveis. Ela muda. Ele deu-lhe um soco. Julia gritou:
- Covarde!
E ele a odiava tanto, e a amava tanto, que não contendo sentimento algum bateu nela até cansar. Depois, deixou-a chorando na cama. Saiu. Aspirou com força o ar da noite. A lua, no alto, escondeu-se atrás de uma nuvem. Ele era vergonha. E o vento parecia cantar-lhe nos ouvidos a marcha carnavalesca:
“Dá nela, dá nela...”
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