.Segura minha mão, cheguei ao irredutível.

E neste deserto de grandes seduções, as criaturas: eu e a barata viva. A vida, meu amor, é uma grande sedução onde tudo o que existe se seduz. Aquele quarto que estava deserto e por isso primariamente vivo. Eu chegara ao nada, e o nada era vivo e úmido.

Eu chegara ao nada, e o nada era vivo e úmido.

LISPECTOR, C. A Paixão Segundo G.H. RJ: Rocco: 42.

.Pegue sua maça e me seduza. Eu sentia. Estava mesmo sendo seduzida.

E ia para essa loucura promissora. Mas meu medo não era o de quem estivesse indo para a loucura, e sim para uma verdade - meu medo era o de ter uma verdade que eu viesse a não querer, uma verdade infamante que me fizesse rastejar e ser do nível da barata. Meus primeiros contatos com as verdades sempre me difamaram. - Segura a minha mão, porque sinto que estou indo.

LISPECTOR, C. A Paixão Segundo G.H. RJ: Rocco: 41.

.Hão de botar verso em feira, assunto de sair até divulgado em jornal de cidade.

– “Tenho uns parentes meus em Goiás...” – Zé Bebelo falou, avindado de repente. E falou quando não se aguardava, e também assim com tanta vontade de falar, que alguns muito se riram. Eu não ri. Tomei uma respiração, e aí vi que eu tinha terminado. Isto é, que comecei a temer. Num esfrio, num átimo, me vesti de pavor. O que olhei – Joca Ramiro teria estado a gestos? – Joca Ramiro fazendo um gesto, então queria que eu calasse absolutamente a boca; eu não possuía vênia para discorrer no que para mim não era de minha alta conta. Eu quis, de repentemente, tornar a ficar nenhum, ninguém, safado humildezinho...

ROSA, Guimarães. Grande Sertão: Veredas. RJ: Nova Aguilar, 1994. (p.387)

.Mais um episódio do chá das cinco às avessas.

Discuta com Giddens você também. Se você, assim como eu, não foi para a balada e não saiu de casa (nem um barzinho) de quinta para sexta, sexta para sábado, sábado para domingo, e não tem perspectiva de sair segunda, terça, quarta, quinta...pegue um livro, um bom mainstream e debata com ele, fique procurando erros nas suas análises, dê risada dos seus instrumentos analíticos, faça piadinhas toscas das suas metáforas, brinque com seus pares dicotômicos, divida com os amigos e fique vendo a cara de descontente deles por não entender nada (agradeça mentalmente por ainda ter amigos) – enfim – , invente algo engraçado onde supostamentenãotemgraça e seja feliz. Vou começar. O trecho citado faz parte da distinção que Giddens faz de movimentos democráticos, trabalhistas, pacifistas e ecológicos. Mas não sei não, acho que ele deveria ter trabalhado melhor a idéia de que em um longo período histórico os dois primeiros movimentos estiveram juntos. (Faça cara de dúvida, force os olhos e enrugue a testa)...acho que o fator econômico pesou muito na análise do movimento trabalhista, como se este movimento tendesse sempre as linhas reformistas e revolucionárias desdobrando-se em políticas socialistas. Olhe para a pessoa ao seu lado e pergunte: você não acha? Haram e Hurum, depois de ficar sem resposta, é a melhor situação que você poderá enfrentar, acredite. Vamos reformular a campanha “discuta com Giddens você também”, proponho uma alteração certeira, vejam como agrada mais “discuta com um mainstream você também”. Se você não teve aula sobre teorias gerais e não sabe o que é mainstream fodeu, vai no Google. Se você teve... azar o seu porque poderia ter ido foder enquanto deixava de aprender essa coisa chata. Para mostrar que discutir com um tiozão mainstream é engraçado e estimulante vou dar uma deixa, uma vez que não posso enviar o texto do Giddens pra vocês, essa entrevista http://www.mises.org.br/FileUp.aspx?id=102&sms_ss=facebook&at_xt=4de027d799a1d67c%2C0 pode ser bacana para começar. Vejam como ele até tenta fazer trocadilhos, mas nunca consegue, isso é uma “qualidade” dos mainstream, que ganham muito e fazem piadas ruins, ironia com o palhaço que ganha pouco e faz piada boa e podem usar isso como prova cabal de que tenho mais vocação para mainstream do que para palhaça. Ufa. Por um momento achei que poderia ganhar mal para o resto da minha vida, ganhar? Sem mais delongas. O segundo tiozão HOPPE é bem contundente, faz análises claras, não fica enfeitando os argumentos e critica uma série de mainstream como se ele não fizesse parte da classe. HUM. Alguém avisa? Coloque os óculos! HOPPE aponta que as sugestões dadas pelos economistas e cientistas políticos frente à última grande crise econômica não poderia ser outra: apenas algumas reformas no sistema atual, como foi proposto pelos keynesianos e pelos monetaristas. Tire os óculos e pergunte para o amiguinho se ele gostou da brincadeira. Peça para ele escolher um autor, o que ele quiser, fale com ênfase “o que você quiser!”. Se o amiguinho disse que gostou, mas que ele vai ali e já volta acredite, jajá ele volta, é só esperar mais um pouquinho.

LG

.Análises saídas de associações burguesas. Rá!

A LIBERDADE DE EXPRESSÃO E OS MOVIMENTOS DEMOCRÁTICOS, que têm suas origens na arena das operações de vigilância do estado moderno, são analiticamente, e numa extensão substancial historicamente, separáveis dos movimentos trabalhistas. Eles incluem certas formas de movimento nacionalista bem como MOVIMENTOS PREOCUPADOS COM DIREITOS DE PARTICIPAÇÃO POLÍTICA EM GERAL.

GIDDENS, A. As conseqüências da Modernidade. SP: UNESP, 1991. (159)