quinta-feira, 31 de março de 2011

.Temperatura de 20 graus.

Não sei como funciona pra você esse processo de escrever, se ao escrever dialoga consigo mesmo ou se busca afugentar-se e submeter os diálogos às linhas solitárias de sempre. Sei que quanto os pingos de chuva batem na janela, juntando-se as horas que denunciam o desprezo ao descanso, horas de silêncio, horas de sonolência, aflora a vontade de escrever algo para os que dormem. Ou para os que não dormem. Tanto faz. E você me perguntaria (com razão) qual o sentido de escrever algo sem assunto e sem remetente? E eu responderia (sem razão), nenhum. Ainda sei que por aqui a chuva continua caindo e que, talvez, para o meu remetente ela não caia. – Chove ai? O longo tempo para a resposta faz acreditar que escrevo para os que dormem. De um lado é bom, faz lembrar o mesmo processo de Zaratustra quando parte para as montanhas, solitário e determinado, cheio de idéias, um louco varrido. – Não! Não chove nas terras do Superego. Agora escrevo aos que não dormem. Escrevo a você que me ceifou as conversas produtivas para dar vida a essas linhas mortas, que com o passar dos dias assumirá a bela prateleira de arquivos. Agora não ouço mais os pingos, só uma cortina despencando uniforme, homogênea, quase pastosa. – Faz calor? E você Superego responde quase de imediato. – Também não, está agradável. Réplica – Está com sono? Tréplica – Não, na verdade passei desse estágio, está com sono? No desenrolar do amanhecer o relógio flagrava um abrir de boca, se não fosse as pálpebras caindo e o bom sono que se aproxima, permaneceria mais na presença sempre estonteante dela.

SuperEgo

LG.



Um comentário:

AlterEgo disse...

E só assim consigo escrever: em estado de graça (ou de desgraça). E como não poderia ser de desgraça, em se tratando do destinatário a quem confio essas palavras, sou provocada ao diálogo. Estive sendo privada de ouvir os mesmos pingos, que poderiam me tirar desse completo estado de inquietude e me levar ao devaneio. Mesmo assim, comecei a pensar... era impossível ignorá-la. Se fóssemos da mesma cidade, tomaríamos um chá, café, nessa noite fria. Porém, estou escrevendo para alguém que não tem um nariz. A minha tela ganha cores e se esvai naquele material que esqueci o nome, do qual as telas são compostas. Essa é a imagem que busco, porque me disseram que existem sentimentos que são formados pelo mesmo material, você não consegue agarrá-lo, ele escapa da sua mão. Quero poder enxergar isso e me contrapor nas palavras ou no que vejo emanar delas. Prefiro que essas linhas possam continuar não somente ultrapassando a barreira do tempo/espaço, mas que elas continuem bem palpáveis, bem presentes, bem cheias de vida, produzindo esse ar de graça que não me deixa arrefecer.