quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

.Eu não estou alegre nem triste.

Meto-me para dentro, e fecho a janela.

Trazem o candeeiro e dão as boas-noites,

E a minha voz dá as boas-noites,

E minha vida sempre isto:

O dia cheio de sol, ou suave de chuva,

Ou tempestuoso como se acabasse o mundo,

A tarde suave e os ranchos que passam

Fitados com interesse da janela,

O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,

E depois, fechado a janela, o candeeiro aceso,

Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,

Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito,

E lá fora um grande silêncio, todos dormem.

Fernando Pessoa

Um comentário:

CG disse...

Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.