segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

.Enquanto escrevo estou na academia e é aqui que eu respiro.

Começou me relatando que em um dos seus trabalhos na penitenciária local foi designado que analisasse um histórico criminal de um indivíduo que havia matado friamente um homem. Explicou-me que era um projeto em conjunto com advogados, sociólogos e algumas lideranças da bandeira dos direitos humanos. Perguntei o que encontrou vasculhando o tal histórico, foi quando me disse a frase que foi anotada rapidamente sem que pudesse me ver pelo retrovisor: - “Conclui que aquele garoto, então assassino, já nasceu morrendo”. Encontrei agora o comprovante bancário com tal frase, se anotei foi porque tive a intenção de mais adiante escrever sobre. E foi nas pessoas que nascem morrendo que se concentrou nossos assuntos do almoço. Refletia sozinha que de fato minhas inclinações eram muito mais teóricas que práticas e sobre essa segunda tive uma aula de bravura, mesmo velando por minhas limitações. No desdobrar do dia e na mesma companhia de antes, pela terceira vez adentrei aquele lugar inóspito, agora não tome esse cenário pela penitenciária, estávamos em uma favela. Ainda tive o impulso de esconder brincos e anéis. Senti uma vergonha imensa desse ato. Senti vergonha das limitações também, mas tive picos de melhoras. Esperança, talvez. O fato era que estava longe do meu habitat, eles eram meu outro e eu o outro deles. De volta a esperança, como lemos em São Bernardo (digno Graciliano Ramos), um daqueles livros-base que julgamos chato quando nos encontramos no ensino médio: “se ao menos a criança chorasse, mas ela não chora, ela não chora...”.

LG


Um comentário:

vani disse...

A academia fornece os instrumentos para uma análise aprofundada sobre algo ou alguma coisa, mas não fornece a sensibilidade, tão necessária para estudo de algumas questões sociais. E a prática, é o que vai nos fornecendo o chão onde se assentam as teorias sobre a realidade , um chão que não pode e não deve estar distante de nossos pés de cientistas. Sabes, tens o fermento necessário para unir a teoria e a prática.
E obrigada por ser esta pessoa linda que és!