Sri Lanka, quem sabe? ela me
pergunta, morena e ferina, e eu respondo por que não? mas inabalável ela
continua: você pode pelo menos mandar cartões-postais de lá, para que as
pessoas pensem nossa, como é que ele foi parar em Sri Lanka, que cara louco
esse, hein, e morram de saudade, não é isso que te importa? Uma certa saudade,
e você em Sri Lanka, bancando o Rimbaud, que nem foi tão longe, para que todos
lamentem ai como ele era bonzinho e nós não lhe demos a dose suficiente de
atenção para que ficasse aqui entre nós, palmeiras & abacaxis. Sem parar,
abana-se com a capa do disco de Ângela enquanto fuma sem parar e bebe sem parar
sua vodca nacional sem gelo nem limão. Quanto a mim, a voz tão rouca, fico por
aqui mesmo comparecendo a atos públicos, pichando muros contra usinas nucleares,
em plena ressaca, um dia de monja, um dia de puta, um dia de Joplin, um dia de
Teresa de Calcutá, um dia de merda enquanto seguro aquele maldito emprego de
oito horas diárias para poder pagar essa poltrona de couro autêntico onde neste
exato momento vossa reverendíssima assenta sua preciosa bunda e essa exótica
mesinha-de-centro em junco indiano que apóia nossos fatigados pés descalços ao
fim de mais outra semana de batalhas inúteis, fantasias escapistas, maus
orgasmos e crediários atrasados. Mas tentamos tudo, eu digo, e ela diz que sim,
claaaaaaaro, tentamos tudo, inclusive trept, porque tantos livros emprestados,
tantos filmes vistos juntos, tantos pontos de vista sociopolíticos existenciais
e bababá em comum só podiam era dar mesmo nisso: cama. Realmente tentamos, mas
foi uma bosta. Que foi que aconteceu, que foi meu deus que aconteceu, eu
pensava depois acendendo um cigarro no outro e não queria lembrar, mas não me
saía da cabeça o teu pau murcho e os bicos dos meus seios que nem sequer
ficaram duros, pela primeira vez na vida, você disse, e eu acreditei, pela
primeira vez na vida, eu disse, e não sei se você acreditou. Eu quero dizer que
sim, que acreditei, mas ela não pára, tanto tesão mental espiritual moral
existencial e nenhum físico, eu não queria aceitar que fosse isso: éramos
diferentes, éramos melhores, éramos superiores, éramos escolhidos, éramos mais,
éramos vagamente sagrados, mas no final das contas os bicos dos meus peitos não
endureceram e o teu pau não levantou.
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
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3 comentários:
É aquele do Caio que vc leu pra mim na cama?
Fantástico...
Fantástico...
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