quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Deixa a minha insanidade é tudo que me resta. Deixa eu por à prova toda minha resistência. Deixa eu confessar meu medo do claro e do escuro. Deixa eu contar que era farsa minha voz tranqüila.



Eu te mandaria uma carta, mas as folhas acabaram. Que começo deprimente Alfred, não corrigirei seus contos se continuar nesse tom. Escreva que enviou as cartas, mas alguém as desviou. Desse modo, demonstra que você tinha interesse. E não chore mais por isso, não vale a pena. Eu te pouparei enquanto for possível. Esse sim é um começo agradável. Você precisa agradar as pessoas, forjar o sorriso, esqueceu da nossa conversa sobre a sociedade da farsa? Tem que jogar o jogo, ir até o fim. Agora esse seu comportamento! - Senhora, posso? - fale! Não é de hoje que seus conselhos não estão em sintonia, que todas as suas saídas não me ajudam. Eu reconheço sua cara de vomito, sua fala sem graça, seu olhar sem norte, estamos todos jogando o jogo. Acho que represento, inclusive, há mais tempo que a senhora. Estamos atuando. Posso colocar no meu conto que "estamos atuando"? Convenhamos, não estou tão magro, percebe? Também não posso pagar o mesmo analista que o seu, nota? Como também não tenho dinheiro para a acupuntura. Não esta na cara?
Alfred

- Está esperando o que, Alfred? Que eu aprove esse seu conto?
- Estou esperando um conselho.
- Conselho? Rasgue isso, conserve seu emprego e não dê de analista.
- São tempos difíceis, Senhora.
- São tempos difíceis, Alfred.
LG

Um comentário:

Glaucio disse...

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.


(NERUDA, Pablo)