Cultura demais mata o corpo da gente,
filmes demais, livros demais, palavras demais, só consegui te possuir me masturbando,
tinha biblioteca de Alexandria separando nossos corpos, depois virava de bruços
e chorava no travesseiro, naquele tempo ainda tinha culpa nojo vergonha, mas
agora tudo bem, o Relatório Hite liberou a punheta. Não que fosse amor
de menos, você dizia depois, ao contrário, era amor demais, você acreditava
mesmo nisso? naquele bar infecto onde costumávamos afogar nossas impotências em
baldes de lirismo juvenil, imbecil, e eu disse não, meu bem, o que acontece é
que como bons-intelectuais-pequeno-burgueses o teu negócio é homem e o meu é mulher,
podíamos até formar um casal incrível, tipo aquela amante de Virginia Woolf,
como era mesmo o nome da fanchona? Vita, isso, Vita Sackville-West e o veado do
marido dela, ra não se erice, queridinho, não tenho nada contra veados não, me
passa a vodca, o quê? e eu lá tenho grana para comprar wyborowas? não, não
tenho nada contra lésbicas, não tenho nada contra decadentes em geral não tenho
nada contra qualquer coisa que soe a uma tentativa. Ando angustiada demais, meu
amigo, palavrinha antiga essa, a velha angst, saco, mas ando, ando, mais
de duas décadas de convívio cotidiano, tenho uma coisa apertada aqui no meu
peito, um sufoco, uma sede, um peso, ah não me venha com essas histórias de
atraiçoamos-todos-os-nossos-ideais, eu nunca tive porra de ideal nenhum, eu só
queria era salvar a minha, veja só que coisa mais individualista elitista
capitalista, eu só queria era ser feliz, gorda, burra, alienada e completamente
feliz. Podia ter dado certo entre a gente, ou não, eu nem sei o que é dar certo.
Ai que gracinha nossos livrinhos de
Marx, depois Marcuse...
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Faz tempo que não passava por aqui. Você escreve muito bem. Esse texto lembrou o livro "Os cadernos de Don Rigoberto", do Vargas Llosa.
Sensacional!
Postar um comentário