Senta aqui e me acompanha, não quero
jantar sozinha. Olha só, Alfred, hoje disseram que eu escrevo bem, alguém já
disse que você escreve bem? Não! É só começar escrever que dirão um dia, pode
confiar. Achei estranho abrir a porta e encontrar esse envelope para a Luciana,
quem seria Luciana? Desprezíveis esses meus vizinhos, como se não soubessem meu
nome ainda, COMOSEEULIGASSE. Ligo, ligo mesmo, para o barulho que eles fazem e
que tira minha concentração para escrever, a velha que grita o tempo todo, a
vizinha de baixo que sempre trama uma revolução pelo interfone, a vizinha do
lado que insiste em me pedir pó Royal, tenho cara de quem usa pó Royal? O mais importante
é que disseram hoje que eu escrevo bem, e ainda citaram um texto de 2007, devo
ter melhorado de 2007 até agora, então, então, vejamos, estou bem! Acho que
fiquei ranzinza, velha, empoeirada, e todas essas coisas que falam de velhos,
antes eu escrevia sobre o amor, agora escrevo sobre os vizinhos, o barulho,
cartas que não são minhas, em diálogos com o mordomo. Sentiu-se ofendido, Alfred
queridinho? Não fique ofendido chuchu. Você é ótimo, ruim é a minha onda de
escrita. Fico mais interessante quando escrevo sobre sexo, ou as possibilidades
dele. Espera! Estou pensando em uma coisa. Que coisa? Uma coisa melhor, mais
animada. Estou pensando se aquela outra teria coragem de. De? Você sabe! Não.
Sabe! Fale mulher. Se teria coragem disso mesmo que você também está pensando.
Mas eu não estou pensando em nada. Claro que está, você é tão mentiroso Alfredo.
Não estou. Diga-me. Estou curioso. Senhora, Senhora...
LG