É dizer: Que calor! Que desenfreado calor!
Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, ou
simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos
atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre
a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e La glace est rompue;
está começada a crônica.
Joaquim Maria Machado de Assis
Não estava tão calor. Hoje, por
exemplo, o sol coberto, a umidade no ar, aquela vontade de chorar encostada no
canto do sofá. Os dilemas dos pequenos burgueses. Sensação de angustia não
digere, não dissolve, fica incomodando a garganta. Aumentando o nó, a facada no
peito. Quanto exagero, meu deus. Mais tarde será nos teus livros, e alguns de
Machado de Assis, mas, sobretudo nos teus, que muitos poderão sentir dor e
saudade com todas as suas mazelas. Paisagem e almas, todas as tristezas, estará
tudo ali. Não queria saber do mais tarde. Entretanto, era melhor falar do mais
tarde do que não falar.
LG
Um comentário:
As vezes o mais tarde é tudo que se tem ao mesmo tempo que revela o medo e a desesperança de não ter mais nada. Acho que são "os dilemas dos pequenos burgueses".
Muito bom...gosto de ler seus textos!
Postar um comentário