—
Ah, a senhora é terrível, dona Merceditas, quando não quer entender as coisas!
A que horas ele vem? — Você é um negro sujo, Jamaicano.
— Não diga essas palavras, dona Merceditas! — boceja. — Bem, acho que ainda
temos um bom tempo. Certamente até a noite. Vamos tirar um cochilo, certo? Levanta-se e sai. Vai até a cabra. o animal olha para ele com desconfiança.
Desamarra-a. Volta ao curral fazendo a corda girar como uma hélice e
assobiando: a mulher não está. No ato, desaparece a calma preguiçosa, lasciva
dos seus gestos. Percorre o lugar aos pulos, xingando. Depois anda até o
bosquezinho, seguido pela cabra. Esta descobre a mulher atrás de um arbusto,
começa a lambê-la. o Jamaicano ri vendo os olhares rancorosos que a mulher
dirige à cabra. Faz um gesto mínimo e dona Merceditas se encaminha para o
curral. — A senhora é mesmo uma mulher terrível, se é. Cada idéia que tem! Amarra seus pés e suas mãos. Depois, carrega-a com facilidade e a larga em cima
do balcão. Fica olhando para ela com malícia e, de repente, começa a fazer-lhe
cócegas nas solas dos pés, que são enrugadas e largas. A mulher se contorce com
as gargalhadas; seu rosto revela desespero. O balcão é estreito e, com as
sacudidas, dona Merceditas se aproxima da beira: afinal rola pesadamente para o
chão.
Vargas
Lhosa
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