segunda-feira, 15 de outubro de 2012

.— Meu Deus! — diz o homem. — Que mulher!.



— Ah, a senhora é terrível, dona Merceditas, quando não quer entender as coisas! A que horas ele vem? — Você é um negro sujo, Jamaicano. — Não diga essas palavras, dona Merceditas! — boceja. — Bem, acho que ainda temos um bom tempo. Certamente até a noite. Vamos tirar um cochilo, certo? Levanta-se e sai. Vai até a cabra. o animal olha para ele com desconfiança. Desamarra-a. Volta ao curral fazendo a corda girar como uma hélice e assobiando: a mulher não está. No ato, desaparece a calma preguiçosa, lasciva dos seus gestos. Percorre o lugar aos pulos, xingando. Depois anda até o bosquezinho, seguido pela cabra. Esta descobre a mulher atrás de um arbusto, começa a lambê-la. o Jamaicano ri vendo os olhares rancorosos que a mulher dirige à cabra. Faz um gesto mínimo e dona Merceditas se encaminha para o curral. — A senhora é mesmo uma mulher terrível, se é. Cada idéia que tem! Amarra seus pés e suas mãos. Depois, carrega-a com facilidade e a larga em cima do balcão. Fica olhando para ela com malícia e, de repente, começa a fazer-lhe cócegas nas solas dos pés, que são enrugadas e largas. A mulher se contorce com as gargalhadas; seu rosto revela desespero. O balcão é estreito e, com as sacudidas, dona Merceditas se aproxima da beira: afinal rola pesadamente para o chão.
Vargas Lhosa

Nenhum comentário: