Como ela era na víscera, heim? Ela
era eu. Ela era toda pra fora e ao mesmo tempo toda pra dentro. Ela era pra
fora do dar, ela dava as coisas que tinha, dava coelhos, carneiros,
cordeirinhos, arroz feijão pra todo mundo. Nisso ela era pra fora, apesar de
que esse pra fora vem de dentro. Depois ela era pra dentro dos adentros, ela
entrava no quarto e ficava se desentranhando, achando o mundo cheio de gente
triste, achando a vida bonita, mas cheia de gente de ferro, gente dura como
coisa muitíssimo dura. Ela não era simples, nada disso, era mulher muito
complicada, muito torcida, como eu mesmo. Eu quando eu digo que ela se desentranhava
quero dizer que ela ficava se descobrindo, que ela punha pra fora os
pensamentos de dentro, que ela pensamenteava alto, entendes? Não entende,
ninguém entende.
Hilst, H. Fluxo-Floema.
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