Medo não me alcança, no deserto me acho, faço cobra morder o rabo,
escorpião vira pirilampo. Onde vai valente? Você secô seus olhos insones,
secaram, não veêm brotar a relva que cresce livre e verde, longe da tua
cegueira. Seus ouvidos se fecharam à qualquer musica, qualquer som, nem o bem
nem o mal, pensam em ti, ninguém te escolhe, você pisa na terra mas não sente
apenas pisa, apenas vaga sobre o planeta, já nem ouve as teclas do teu piano,
você está tão mirrado que nem o diabo te ambiciona, não tem alma você é o oco,
do oco, do oco, do sem fim do mundo. Eu posso engolir você só pra cuspir
depois, minha forma é matéria que você não alcança. Se choro, quando choro, e
minha lágrima cai, é pra regar o capim que alimenta a vida, chorando eu refaço
as nascentes que você secou. Se desejo, o meu desejo faz subir marés de sal e
sortilégio, vivo de cara pra o vento, na chuva, e quero me molhar. Sou como a
haste fina que qualquer brisa verga mas, nenhuma espada corta.
Maria Bethânia
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