Quando estava na escola, eu tinha um professor de física muito desorganizado e de temperamento espantosamente amável que vivia falando, em tom de brincadeira, sobre suicídio. Era um homem pequeno com uma enorme cara vermelha, uma enorme cabeça coberta de grossos cachos grisalhos e um sorriso permanentemente preocupado. Diziam que ele tinha se formado com distinção em Cambridge, ao contrário da maior parte de seus colegas. Um dia, ao final de uma aula, ele comentou em tom ligeiro que uma pessoa que estivesse planejando cortar a garganta deveria sempre ter o cuidado de, antes, enfiar a cabeça dentro de uma sacola, caso contrário ela faria uma sujeira terrível. Todo mundo riu. Logo depois, o sinal da uma da tarde tocou e os meninos todos saíram porta afora para almoçar. O professor de física voltou direto para casa em sua bicicleta, enfiou a cabeça numa sacola e cortou a garganta. Não fez muita sujeira. Eu fiquei profundamente impressionado.
3 comentários:
Anônimo
disse...
Isto não é um lamento. É um grito de ave de rapina, irisada e intranqüila
Quem sou, sinceramente, estudante de sociologia, daquelas pessoas que para sempre terão que conviver com a pergunta da vizinha: mas o que você faz mesmo? Leitora viciada e jogadora de xadrez aposentada.
Nasci para escrever. A palavra é meu domínio sobre o mundo. Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por que, foi esta que eu segui. Talvez porque para outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós.
Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas" Clarice Lispector
3 comentários:
Isto não é um lamento. É um grito de ave de rapina, irisada e intranqüila
vai morrer pouco a pouco e quando tentar voltar o campo já estará armado, sei bem como flui.
Escolhi algo tão repulsivo a ponto de competir.
Postar um comentário