quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Sempre falou mexendo os braços.

FOTO: Royalty free

Houve um tempo que necessitou de noites longas, livros esquisitos e garrafas de vinho sobre a mesa, habituou-se em secar garrafas. Dia desse Pedro da Quitanda disse para Dona Leocádia que a menina do 14 era alcoólatra, a conversa espalhou-se. Resolveu que não queria mais ver a cara do fofoqueiro, passou a comer poucos legumes só para não cruzar a rua e adentrar a quitanda, mudou o horário de estender as roupas só para não se dar o trabalho de cumprimentar a velha Leocádia, desenvolveu varias síndromes, resultado de algumas abstinências, primeiro do álcool depois de pessoas, estava agora com síndrome de pessoas mexeriqueiras, teve crises de soluços, febres e medos. Escondia-se. Fora surpreendida uma vez debaixo da mesa, outra vez enfiou-se debaixo das cobertas em um calor de derreter geleira. À medida que o tempo passava, sentia-se melhor, mais confiante talvez. Fato é que vivia sozinha. Era verão, conforme chovia os rios transbordavam. Ela se alagava em casa, antes sozinha do que mal acompanhada dizia seu avô. Tinha receio de sair e de convidar velhos amigos para visitá-la, vai que entrassem em sua casa só para apontar suas olheiras. Em compensação seus sapatos duravam anos.

luana

10 comentários:

Anônimo disse...

Acredito que isso deveria virar um livro. Gostei da menina, é tão fria e sem expectativas. Por favor, não de como acabada essa história.

Anônimo disse...

Irônica! “Em compensação seus sapatos duravam anos”. Isso foi à coisa mais linda e também mais triste que eu li esses dias. O texto todo está plausível. Escondia-se. Sua cara. Não queria falar, só elogiar o necessário mas é necessário dizer que faltam-me elogios dignos do seu texto.

Anônimo disse...

“Ela se alagava em casa, antes sozinha do que mal acompanhada dizia seu avô”. Fez do ditado uma das frases mais bem articuladas do texto. Parabéns.

Anônimo disse...

Sabe em quem eu lembrei na hora que li, A HORA DA ESTRELA, fala ai, tenho certeza que todo mundo lembrou disso.

Anônimo disse...

Não só choramos, como ficamos angustiados por não podermos nada fazer por Macabéa, nem pelas pessoas, as quais ela representa.

Anônimo disse...

Fiquei muito angustiada

Anônimo disse...

É triste e muito, mas muito angustiante.

Anônimo disse...

Irônica, direta e insípida!

Anônimo disse...

coitada da menina...
ainda bem que ela não é vc!
ainda bem que sai de casa pra me ver!
ainda bem que andamos em quarteirões inteiros por várias vezes...o caminho não importa...o melhor de tudo é a companhia!
ainda bem que está comigo!
ainda bem...

Anônimo disse...

Interessante...gostei da visão, tenho gostado sempre, você sabe. Mas não concordo com a comparação (dita aqui) com A Hora da Estrela. Sua personagem me parece o oposto de Macabéa e sua ingenuidade, suas crenças infantis, sua esperança infundada, sua desgraça incosciente. Duas versões distintas da falta e da miséria...
Valeu, Lu!! beijos