segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Parte, mas antes de partir, rasga meu coração?

Insistiu que Alfred lhe servisse água não muito gelada, em uma taça não muito pequena, tão pouco bojuda, como as típicas de vinhos para visitas. Queria água fresca em uma taça média e adequada, depois queria que Alfred se retirasse e voltasse com sorvete. – Me traga sorvete, não muito. Foi quando teve tempo e silêncio reconfortante para continuar a leitura. Alfred faz um barulho descomedido. Talvez deva anotar no contracheque. As pessoas aprendem quando o bolso é ameaçado. Assim ensinou meu pai. Voltemos a leitura: “não é uma mulher, nem o prazer de construir o verso, é a volúpia de olhar. Duas vezes por semana a massagem com algas no instituto, os banhos de pinho, as máscaras de mel, teu corpo oco, minha mão gelada no teu seio de menina, te preferia gasta, tomada pela vida. Feita de súplicas e chamas, sol inesperado sobre a nossa carne amolecida, chamam de carne não é? Chamam de carne isso que nos recobre. Essas suas coisas sob os dedos, gostas porque é caro, não é isso, Rute? Claro! Gostava de Rute porque gemia na hora do amor de um jeito infantil e obsceno. Porque às vezes parava diante de mim e me olhava como se soubesse do poço. Olha amarelo vazio me olhava. Era só isso”. Vamos ao sorvete. Ou, se preferir Machado, vamos à história dos subúrbios.

LG

HILST, H. Tu não te moves de ti. São Paulo, Globo: 2004. (p.34)

2 comentários:

Anônimo disse...

É você?

Lg. disse...

Claro que sou eu, olha os tacos na sala!