Quanto mais penso como os brasileiros são moldados para serem apáticos, mais me abalo. Quase quando se supera a dor do atraso criam-se novas dores, novos tormentos. Tardamos a nos desprender dos nossos males de origens, dos nossos colonizadores parasitários, da exploração no nosso solo e da nossa gente, e aqui ficamos sem pilares para que os indivíduos se reconhecessem como membros de uma nação. Assim, mesmo que os indivíduos busquem um fio condutor, a dispersão e a falta de “jeito” para se lançar a política é visível.
O medo que norteia o futuro não se vê apenas nas cartas e nas borras sujas de café, está em nós, nas nossas palavras, na nossa indiferença. Uma construção feita dia-a-dia onde o produto final é desconstruir. Acostumamo-nos a deixar nossos dias ao relento, a sorte, aos representantes vários que possuímos, pena que esse relento quase sempre nos mostre o azar dentro das cuecas.
Como seria se em um estalido todos acordassem sedentos por mudanças próprias, com fome de conhecimento, desejosos de cérebros malhados mais do que corpos? Como seriamos nós se desprendêssemos do gozo limitado das futilidades modernas, do culto a forma e a beleza e propuséssemos mudanças que vão além do exterior? Mudanças visando a não corrupção da cultura dos brasileiros, para que esses ficassem aptos a participarem do processo político.
Acordemos. Pois não precisamos mais de tantos exércitos rumo ao embrutecimento. Precisamos de cultura. Não precisamos de músculos, precisamos lapidar as nossas idéias e descartar as que não nos beneficia enquanto nação. Não precisamos de modelos emprestados das outras nações, já nos despedimos da que nos colonizou e devemos fechar cada vez mais as portas para várias outras que nos consideram como inferiores.
Não façamos apenas romarias, não carreguemos somente os barros, não nos apeguemos apenas a um livro. Que sejam possíveis múltiplas leituras, para germinar da educação um fruto mais viçoso. Não nos contentemos com o mínimo, a educação é necessária para a emancipação dos indivíduos. De conformistas e quietos já sabemos que “os males do Brasil são”. Devemos aprender com a nossa história e não simplesmente reproduzi-la, fazendo com que o Brasil pare com as longas caminhadas em círculos.
Luana Garcia
12 comentários:
Que texto maravilhoso, já enviou para o JL ou para outro qualquer jornal que seja?
Ainda não mas já fiz contato com a Folha de Londrina, quem sabe.
Se fosse só problema do Brasil, a gente dava um jeito :)
Já não acredito mais em processo eleitoral. Quando entendi que a esfera política é, em última instância, condicionada às determinações econômicas predominantes, passei a entender porque a história é permeada por revoltas armadas. E que elas não surgem de nosso desejo, tem de haver condições objetivas e subjetivas para que se condensem.
Mas também não posso ficar alheio às eleições. Confesso que não me resolvi bem nesse ponto ainda. Preciso estudar. Até lá, só tenho uma certeza: a do "voto útil" - escolhendo o menos pior, ou evitando que os "mais piores" permaneçam. Afinal, do que importa se as condicionantes econômicas têm a última palavra? Além do mais, eles têm todo o marqueting e toda a imprensa que o dinheiro pode comprar. Talvez devamos nos concentrar noutros caminhos.
Já o aspecto nacional independentista sim, é uma questão central na conjuntura. Está acontecendo movimentação desse tipo com os "hermanos" da Venezuela, Bolívia e Equador. Poderia ocorrer aqui também. Levando em conta o atraso histórido do Brasil em relação ao restante da América Latina, acho que vai levar um "tempinho" (fomos os últimos a abolir a escravatura, fomos os últimos a sair da monarquia e os últimos a abandonar as famigeradas ditaduras militares que viraram "moda" na última metade do séc. XX).
Desculpe o "pessimismo". Nessas horas, até física quântica se torna relaxante hahaahauahaua.
Caro amigo, invejo-te pelos cafés que você desfruta, feitinho na hora e pela mãe. Quanto ao seu comentário creio que se todas as pessoas fossem como você e estudassem os candidatos ‘menos piores’ ou evitassem que os ‘mais piores’ permanecessem na política eu não teria objeto ou me arriscaria em outras searas. Quanto ao processo eleitoral, nós acreditando nele ou não, temos que ter a consciência de que ele está sob nossa guarda na atualidade, não que ele nos guarde de algo, mas é o que temos para o momento.
As condições econômicas possuem mesmo a ultima palavra e disso eu não discordo também, mas voltamos a mesma questão de um texto passado, até quando teremos essas palavras como últimas? Isso é irreversível?
As nossas raízes que você comenta sobre escravatura, monarquia e os processos pelos quais atravessamos é sem duvida peças chaves para compreender o que ocorre hoje com os atores políticos do Brasil, podemos apontar inclusive o desinteresse no começo do século XX dos nossos intelectuais que preferiam retratar e copiar a Europa a estudar o Brasil. E sem duvida temos que lembrar como os não apáticos foram tratados...agora só consigo me lembrar de uma frase da nossa literatura “quem vive no áspero não fantaseia” Guimarães Rosa e pensar em uma proposta para que essas pessoas que mal podem fantasiar consiga pensar em política com a barriga vazia.
"...até quando teremos essas palavras como últimas?" Até acabarem as sociedades de classe! :)
"Quanto ao processo eleitoral, (...) ele está sob nossa guarda na atualidade..." Aí é que tá, não tenho certeza se ele está sob nossa guarda não. Não porquê nós não queremos, mas porquê isso não é possível.
E, do restante, assim embaixo. E depois como um cafézinho eheheheh
:*
* assim embaixo = ASSINO embaixo (acho melhor eu parar de beber).
Luana Garcia.
Bem, não sei se é o seu nome o nome da autora do texto. Mas isso não é importante.
O que importa é que pessoas como você se preocupam com o nosso país.
Parabéns e grato pela visita.
1 cheiro
Ah!
Antes que esqueça.
A mulher dessa foto é belíssima. Se for você melhor ainda.
Outro cheiro
Wilson compreendi a sua mensagem e revi minhas idéias, o brasileiro em si não são apático, mas os moldes advindos das elites que dominam o poder fazem com que esses se ofusquem para a política.
Luana, sua visão e seu desabafo pode ser uma realidade entre poucos, porque para uma maioria isso será sempre utópico.
Eu acredito numa mudança, mas só em outra vida...
Façamos parte deste mundo, em que as relações sociais estão ligadas as forças produtivas, mas não deixemos de fazer nossa parte.
besos;
Andréa Peixoto
não entendi seu comentário
será sempre utópico para a maioria buscar um nível maior de cultura e instrução?
não existe outra vida, logo não existirá mudança?
o que eu proponho é a educação para emancipação humana
e não é um desabafo, é uma pesquisa cientifica
não é senso comum, estou amparada a Weber, Silvio Romero, aos Frankfurtianos, a Horkhaimer...Raymundo Faoro, Sergio Buarque de Holanda...dentre outros.
"Outra vida"?! hauahauahauaahha
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