Uma hora dessa e ainda não dormiu?
Não. Me diga como é possível dormir com essa barulhada? Que barulhada? Esse
barulho, Alfredo. Que barulho senhora? Não escuto nenhum barulho! Não tem
barulho senhora, não tem barulho senhora, pare de ficar repetindo isso e me
sirva um chá. Mentiroso. Amanhã você precisa dar aquelas aulas logo cedo. Éh,
eu sei. E precisa entrar no colégio sem olheiras. Haram, eu sei. E seria legal
se mantivesse um certo sorriso, algo mais amigável. Tá! E sabe aquele seu
vocabulário, está muito pesado, poderia dar uma maneirada. Vou tentar. É final
de ano, deveria ter entrado naquelas brincadeiras de tirar nomes e trocar
presentes, com salgadinhos. Com salgadinhos? Está me punindo Alfredo? Querendo
que eu participe daquelas festinhas e que assista um trombar no outro e ir
desencadeando empurrões até a coca-cola derramar em mim, está mesmo me desejando
uma festinha de nomes trocados e salgadinhos frios? MEUDEUS, como você já foi
melhor Alfred. Nem consigo mais te chamar de uma coisa só, fico variando pra
manter um ar suportável. Quer saber, pode me deixar aqui mesmo na cozinha que
termino meu chá. Vai amanhecer. Veio aquela música na cabeça. “Corre alta
Severina noite, no ronco da cidade uma janela assim acesa”, essa música é bem
sexy, além de bem perturbada. Conhece essa música? Não, boa noite. Falando em
perturbada é possível descrever uma cena de amanhã. Enquanto procuro um
presente para o meu amigo secreto, nada agradável, encontro uma amiga de longa
data. Oi, como vai? Bem e você? Bem também. Andei lendo seu blog. Aé, que
bacana. Aquele seu personagem, Alfred, Alfredo, não sei, é bem interessante.
Alfred não é um personagem. Ah, não é um personagem? Não. Então está me dizendo
que tem um mordomo e que toma café das 5 às avessas com ele? Isso mesmo. E que às
5 da manhã tem barulho e estardalhaço no seu prédio? Exatamente. E que esse
presente é para o tal amigo secreto do texto que eu vou participar? Perfeito,
que inteligente você. E que está com essa blusa preta porque está com medo que
derrubem refrigerante em uma mais clara? Muito bem. E o que mais tem a me
dizer? Além de você ser uma personagem e não existir de fato, tenho a dizer que
é um tanto quanto incomoda, e que errei em ter te criado ontem de madrugada. Barulho,
mordomo, chá às 5 da manhã, eu como sua personagem, éh, realmente você pirou.
Deveria ter criado alguém melhor? Deveria ir dormir criador e parar de falar
comigo-criatura que não quer mais falar com você. Acho válido. Autora? Oi! Só
mais uma pergunta, esse Alfred-Alfredo, você só o escuta ou também o vê? Não
escuto e não vejo, está menosprezando minha capacidade de criação? Não, mas
você disse que ele era real. É, eu disse. Então eu gostaria de saber até que
ponto chega a existência dele. Isso é fácil, até onde chega a sua. Mas eu
existo, veja. Então pronto. Senhora vai mesmo publicar um conto onde uma
estranha questiona se eu existo? Vou. Isso é um absurdo. Você não se despediu
para dormir? Sim, mas agora estou ouvindo o barulho. Viu, eu disse.
LG
2 comentários:
pqp isso é genial
Você é absurdamente superior à palavra "fodástica"!
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