Alfred ficou furioso, vai de um lado
para o outro da casa pisando fundo. Vomitei nele o problema da farsa pela
manhã, enquanto eu comia meu pão torrado na sua presença, e aproveitei para
alertar sobre Zeta. Não entendeu o problema da farsa, não quer entender, mas
está com um dilema pior. O que fazer quando ele nada pode fazer por Zeta? É
certo que anda nutrindo sentimento por ela, chegou até a se confessar dia
desses. Mas não há nada para ser feito, logo agora que vou jogá-la em um
armário empoeirado. Só para contexto, Zeta é uma boneca inflável, dessas que vemos
na tv, que, até hoje, compunha a decoração dessa casa. Zeta toma o canto
esquerdo do sofá, e dá a sala de estar um tom agradável entre a decoração
demode e a neo-contemporânea. Ganhei de presente. Nome de batismo: Catherine
Zeta-Jones. Para os íntimos: Zeta. São bons os trocadilhos com seu apelido
depois das festas, quando todos se embriagam e vão se engraçar com a musa
plástica. Me cansei dela, não gosto mais do tom que assumiu o plástico,
aparenta sujeira. Por mais que ela é, sem dúvida, o que Alfred mais limpa. Zeta
também ganhou as lentes da minha musa, talvez por isso ela não tenha mergulhado
no lixo tão cedo. Dá um tom caótico as fotografias, uma mistura safada-inumana.
Agora que o acordo entre as senhoras do lar foi fechado pelo aniquilamento da
boneca, só resta comunicar o mordomo. Além do mais, Alfred anda muito cheio de
permissões e excessos. Saio de casa e olho em tom de despedida para a mulher-moderna
de batom vermelho sentada no meu sofá, encaro Alfred como se dissesse: dê fim
nela até o almoço! Saio, e enquanto fecho a porta escuto o copo da louça do
café da manhã se despedaçar na cozinha, como um coração.
LG
Um comentário:
Eu estaria me contradizendo se aceitasse seu "Jogo das Farsas", prefiro esse.
Me interesso mais pelas suas não-palavras, seus silêncios... suas respostas nada me diriam sobre você.
mas respondo sua pergunta: Mulher!
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