domingo, 23 de janeiro de 2011

.O mal que não sinto hoje em dia não me afeta de forma alguma.

Dominado por meus sentidos no que quer que fizesse, nunca soube resistir a suas impressões e, enquanto o objeto agir sobre eles, meu coração não deixará de ser afetado, mas essas emoções passageiras duram apenas enquanto dura a sensação que as causa. Essa ação de meus sentidos sobre meu coração constitui o único tormento de minha vida. Raras vezes escapo a algum golpe sensível e, quando menos espero, um gesto, um olhar sinistro percebido, uma palavra envenenada entreouvida, um mal-intencionado encontrado bastam para me transtornar. A única coisa que posso fazer em semelhante caso é esquecer bem rápido e fugir.

ROUSSEAU, J. Os devaneios do caminhante solitário. RS: L&PM, 2008. (p.113)

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