sábado, 8 de maio de 2010

.Toda releitura se dá em razão da vivência, dos desafios e dos problemas atuais.

IHU On-Line - Como podemos fazer uma releitura do livro Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, hoje? O que significa reler essa obra nos dias atuais?

Maria José de Rezende - A releitura da obra Raízes do Brasil deve ser feita seguindo uma indicação dada por Sérgio Buarque de Holanda em uma entrevista publicada em 28 de janeiro de 1976 (Veja, n.386). Parafraseando Benedetto Croce , ele afirmava que “toda história é história contemporânea”. O que isso tem a ver com as releituras possíveis de sua obra? Tem a ver com o fato de que toda releitura se dá em razão da vivência, dos desafios, dos problemas atuais. O modo como vivenciamos os nossos problemas políticos hoje poderá ser, então, o guia da releitura que poderá privilegiar, na obra, determinados aspectos, determinados traços em vista da conjuntura atual. Nesse caso, a leitura do livro Raízes do Brasil, nos dias atuais, estará sempre atravessada pelos desafios de nosso tempo. É por isso que o livro constitui um texto clássico, ao qual precisamos voltar sempre para compreender, por exemplo, as dificuldades da democracia no País, a persistência das práticas oligárquicas, dos figurantes mudos, do poder pessoal e dos conchavos. Assim, pode-se afirmar que os dois últimos capítulos intitulados Novos tempos e Nossa revolução são os mais instigantes por colocarem elementos que nos ajudam a compreender o Brasil pós-transição, ou seja, pós-1988. Nestes dois capítulos, Sérgio Buarque de Holanda coloca no centro do debate a questão democrática. É uma abordagem dotada de enorme atualidade porque se situa numa constante tensão: a dificuldade de efetivação de práticas e de procedimentos democráticos e a esperança de que o País se transforme politicamente. A análise feita, então, na década de 1930 contém uma substancialidade crítica do presente, tanto em relação à época em que o texto foi escrito quanto ao momento atual. A idéia básica de que nunca houve democracia no Brasil, já que ela implicaria na participação, de fato, dos setores populares, ainda é válida, sem sombras de dúvida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Na prática a teoria é outra.