Mas a cultura
Dinheiro não!
O senhor tolere minhas más devassas no contar. É ignorância.
Nasce o Sol e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tritezas e alegria.
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz falta a firmesa,
Na formosura não se dê constancia,
E na alegria sinta-se a triteza,
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza.
A firmeza somente na incostância.
Para um amigo, da linhagem dos Gregórios.
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Venho desenvolvendo aos poucos o hábito da indiferença. Estou aprendendo a não ter sentimentos muito exacerbados em relação a nada. A esse recuo emocional corresponde uma queda na energia: só as necessidades básicas - comida e sexo - conseguem agora me tirar do torpor. Hei de morrer me debatendo em apatia.
Nascer, crescer, ganhar dinheiro, reproduzir, ganhar dinheiro, morrer rico, incompleto, infeliz.
Kenneth Tynan em seu diário do dia 10 de agosto de 1973
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Caro Nietzsche mandaram eu parar de lê-lo, logo agora que aprendi a escrever seu nome (e que os russos fritem no inferno) caramba de idioma complicado, ha um dia atrás ainda consultava na capa do livro já surrado (falar que o livro está surrado da status, porque parece que você já consultou ele várias vezes, ou adquiriu-o de um ancião que tinha a primeira ou no máximo a segunda edição) enfim, sem parêntese gigantesco, estava na parte que o livro era “surrado” não é leitor, quero abrir um outro parêntese, com sua licença (quando era mais jovem ‘já gostava de Machado de Assis’ perguntei a uma professora ‘que hoje é minha amiga’ se eu poderia usar a técnica do ‘eu e tu’ nas minhas crônicas, a professora disse, Não, Não pode! Eu muito insistente ‘desde pequena’ disse, mas professora Machado de Assis usa a técnica do ‘eu e tu’ para dialogar com o leitor, porque eu não posso, e ela com aquele ar de professora ‘que particularmente eu adoro’ disse: querida, você não é Machado de Assis) encantadora não é mesmo. Viu só Nietzsche como as pessoas sofrem, como as pessoas precisam morrer para conseguir tornar eterno um termo ou uma especificidade lingüística, mas aqui estou eu viva e dialogando com você, isso é ‘eu e tu’ não é mestre? Tenho certeza que sim. Aproveito a minha ousadia em dialogar com o criador do “super-homem” e aproveitando mais ainda vou contar outra historinha. Essa é mais vergonhosa que a patada da professora. Estava contando-lhe sobre Machado de Assis, pois bem, vieram uns gringos visitar o meu querido Brasil, e esses, como poucos, não vieram para se deitar com morenas ‘abundantes – abundadas’ cheias de serpentina, vieram para colher dados sobre as obras de Machado, assim que colheram todos os materiais salpicados em diversas universidades públicas os gringos resolveram ir ao túmulo do Assis para tirar uma foto (que não era para ser fantasmagórica não) apenas queriam guardar uma recordação ‘viva – morta’ do escritor. Então seguiram acompanhados do prefeito de São Carlos da época (São Carlos Nietzsche é uma cidade aqui do nosso imenso Brasil, o Brasil é quase tão grande quanto seu bigode). Foram acompanhados do prefeito que dizia saber tudo de Machado aos gringos (e como gringo mexe com as autoridades né, assustador) por fim chegaram ao cemitério e procura de cá procura de lá cadê os restos mortais do gênio da literatura brasileira, nada de achar, indagam ao prefeito, where is the dead? Todos se inquietam e aquele embaraçar de idiomas começa a incomodar até que um dos gringos tem uma idéia (gringo adora ter idéia antes de brasileiros, isso também é assustador) vamos olhar no caderno de notas do cemitério, procuramos o número da cova e seguimos direto para lá. Os gringos fotografaram o prefeito, agora já desmascarado, pois nada sabia de Machado de Assis, procurando o nome dele entre a letra M, com o dedo indicador no livro...tiveram tempo de fotografar em muitos ângulos. Foi quando um dos gringos disse: caro prefeito tínhamos tempo de sobra e gostamos muito da companhia do senhor, por isso não falamos antes que o nome de seu escritor preferido é Joaquim Maria Machado de Assis, poderia o senhor procurar na letra J? Vergonhoso né Nietzsche, aconteceu aqui no Brasil e eu fiquei sabendo, ai quis contar para você, já que você me conta tantas coisas.
LG
Lembrado por Lg. às 00:42 13 ...plebiscito...
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Lembrado por Lg. às 16:09 0 ...plebiscito...
Calor demais, trânsito em São Paulo, tudo parado.
De um lado: uma Mercedes com ar condicionado, uma madame e motorista;
Do outro: um fusquinha com um gordinho todo suado e a barba por fazer.
O gordinho xinga, buzina, faz um escarcéu por causa do trânsito até que a
madame baixa o vidro do Mercedes e diz:
- 'A paciência é a mais nobre e gentil das virtudes!': Shakespeare, em
'Macbeth'.
O gordinho:
- 'Vá tomar no cu!': Nelson Rodrigues, em 'A vida como ela é'.
Lembrado por Lg. às 09:26 1 ...plebiscito...
Lembrado por Lg. às 22:28 2 ...plebiscito...
Lembrado por Lg. às 16:22 0 ...plebiscito...
Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado
Hoje há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado
Há um rico que se mata
Porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado
Há um grande espírito-de-porco
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado
Há criançinhas que não comem
Porque hoje é sábado
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado
Lembrado por Lg. às 18:32 0 ...plebiscito...
Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.
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Lembrado por Lg. às 15:57 1 ...plebiscito...
Um dos primeiros requisitos para que o homem seja apto a lidar com ferro fundido como ocupação regular é que ele seja tão estúpido e fleumático que mais se assemelha, no seu quadro mental, a um boi [...] O Operário que é mais adequado para o carregamento de lingotes é incapaz de entender a real ciência que regula a execução desse trabalho. Ele é tão estúpido, que a palavra “percentagem” não tem qualquer significado para ele.
Muito bonito.
F. W. Taylor, Scientific management [Ed. Brasileira.: Princípios de administração científica, SP, Atlas, 1990]
Lembrado por Lg. às 16:19 2 ...plebiscito...
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Lembrado por Lg. às 16:19 0 ...plebiscito...
Vou rasgar-te ao meio.
Não…
Em pedaços!
Sim, vou rasgar-te em mil pedaços… Tantos quantos os cacos em que transformaste o meu coração, cujo a única coisa que fez, foi guardar-te lá dentro e deixar, inocentemente, que me fosses bombeada para o sangue e passasses a correr-me livre e descaradamente pela vida fora.
Vou fazer isso, tenho dito.
Ou não…
Falta-me a coragem!
Sim, essa cobarde que se esconde de mim sempre que mais preciso dela.
Que se lixe então a coragem ou a falta dela. Que te lixes tu! Continua a partir-me em cacos, que um dia eu descubro que a super cola existe e colo-me caco por caco só para te poder rasgar.
Aí sim, vou rasgar-te ao meio!
Tenho dito…
Lembrado por Lg. às 03:44 5 ...plebiscito...
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Lembrado por Lg. às 22:45 0 ...plebiscito...
Marca-se algo com fogo, para que fique na memória: somente o que não cessa de doer permanece na memória; é esta uma sentença da mais antiga psicologia na terra. Nunca ficou sem sangue, tortura e sacrifício, quando o homem achou necessário gravar algo na memória, os sacrifícios e oferendas mais repulsivos, mutilações mais repugnantes, as formas rituais mais cruéis de todos os cultos religiosos (e todas as religiões, na sua base mais profunda, são sistemas de atrocidades); tudo isso tem sua origem naquele instinto que adivinha na dor o mais poderoso auxiliar da mnemônica. [...]
Ah! A razão, a seriedade, o domínio sobre os afetos, toda esta coisa lúgubre que se chama pensar, todos estes privilégios e faustos do homem; quão caro eles se fizeram pagar! Quanto sangue e horror estão na base de todas as “coisas boas”!
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Lembrado por Lg. às 21:25 0 ...plebiscito...
Quanto mais penso como os brasileiros são moldados para serem apáticos, mais me abalo. Quase quando se supera a dor do atraso criam-se novas dores, novos tormentos. Tardamos a nos desprender dos nossos males de origens, dos nossos colonizadores parasitários, da exploração no nosso solo e da nossa gente, e aqui ficamos sem pilares para que os indivíduos se reconhecessem como membros de uma nação. Assim, mesmo que os indivíduos busquem um fio condutor, a dispersão e a falta de “jeito” para se lançar a política é visível.
O medo que norteia o futuro não se vê apenas nas cartas e nas borras sujas de café, está em nós, nas nossas palavras, na nossa indiferença. Uma construção feita dia-a-dia onde o produto final é desconstruir. Acostumamo-nos a deixar nossos dias ao relento, a sorte, aos representantes vários que possuímos, pena que esse relento quase sempre nos mostre o azar dentro das cuecas.
Como seria se em um estalido todos acordassem sedentos por mudanças próprias, com fome de conhecimento, desejosos de cérebros malhados mais do que corpos? Como seriamos nós se desprendêssemos do gozo limitado das futilidades modernas, do culto a forma e a beleza e propuséssemos mudanças que vão além do exterior? Mudanças visando a não corrupção da cultura dos brasileiros, para que esses ficassem aptos a participarem do processo político.
Acordemos. Pois não precisamos mais de tantos exércitos rumo ao embrutecimento. Precisamos de cultura. Não precisamos de músculos, precisamos lapidar as nossas idéias e descartar as que não nos beneficia enquanto nação. Não precisamos de modelos emprestados das outras nações, já nos despedimos da que nos colonizou e devemos fechar cada vez mais as portas para várias outras que nos consideram como inferiores.
Não façamos apenas romarias, não carreguemos somente os barros, não nos apeguemos apenas a um livro. Que sejam possíveis múltiplas leituras, para germinar da educação um fruto mais viçoso. Não nos contentemos com o mínimo, a educação é necessária para a emancipação dos indivíduos. De conformistas e quietos já sabemos que “os males do Brasil são”. Devemos aprender com a nossa história e não simplesmente reproduzi-la, fazendo com que o Brasil pare com as longas caminhadas em círculos.
Luana Garcia
Lembrado por Lg. às 23:11 12 ...plebiscito...
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Iria suportar a caduquice do mundo, o soco, a selvageria, a bestialidade do século, a fetidez da terra, iria suportar até as retinas cruas, as córneas espelhadas, as mil perguntas mortas. Iria? Suportaria guardar no peito esse reservatório de dejetos, estanque, gelatinoso, esse caminhar nítido para a morte, o vaidoso gesto sempre suspenso em ânsia para te alcançar. Suportaria o estar viva, recortada, um contorno incompreensível repetindo a cada dia passos, palavras, o olho sobre os livros, inúmeras verdades lançadas à privada, e mentiras imundas exibidas como verdades, e aparências do nada, repetições estéreis, farsas, o dia-a-dia do homem do meu século?
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Lembrado por Lg. às 19:14 0 ...plebiscito...
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Lembrado por Lg. às 15:18 1 ...plebiscito...
Aquela velha carregava a criação mais monstruosa da campanha, (carregava o fruto da guerra que se quer tinha consciência dos motivos pelos quais se doía, que por ela se fez horroroso). Lá se foi com o seu andar agitante, de atáxica, seguindo a extensa fila de infelizes...
"É que ainda não existe psiquiatra para as loucuras e os crimes das nacionalidades"
[Trecho retirado de Os Sertões e com modificações nos parênteses].
Acredito e coloco agora em palavras minhas, que ninguém ao certo sabe o que aconteceu nesses anos, ou vagamente ouviram falar, isso mostra a falta de interesse com o que é nosso, a nossa história. Infelizmente no Brasil, com início em novembro de 1896 e término em outubro de 1897, houve um massacre, e as citações mostram parte de um relato de guerra, colocado aqui quando essas pessoas que passavam pelas fileiras de soldados ainda possuíam cabeças, pois, logo após o desfile fúnebre dos vencidos, todos, sem exceção, foram degolados.
Lembrado por Lg. às 17:47 5 ...plebiscito...
Lembrado por Lg. às 00:43 9 ...plebiscito...
A força de um Conselheiro para um povo abandonado pela pátria: “O povoado novo surgia, dentro de algumas semanas, já feito ruínas. Nascia velho. Visto de longe, desdobrado pelos cômodos, atulhando as canhadas, cobrindo áreas enormes, truncado nas quebradas, revolto nos pendores – tinha o aspecto perfeito de uma cidade cujo solo houvesse sido sacudido e brutalmente dobrado por um terreno; Era um baralhamento caótico dos casebres, como se tudo aquilo fosse construído febrilmente, numa noite, por uma multidão de loucos”.
A imagem desviada: o aldeamento efêmero dos matutos vadios, centralizados pela igreja velha, que já existia, ia transmudar-se, ampliando-se em pouco tempo, na tróia de taipa dos jagunços, canudos era o lugar escolhido por Antônio Conselheiro para realizar suas operações.Lembrado por Lg. às 03:28 8 ...plebiscito...
"O sabiá no sertão
Quando canta me comove
Passa três meses cantando
E sem cantar passa nove
Porque tem a obrigação
De só cantar quando chove"
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