Depois
daquela noite tudo tinha virado arquivo. De fato mudara, mas mudara muito. Era
como dizem: um divisor de águas. Se é para ficarmos sozinhos, que fiquemos então.
Nos apresentemos a dor do parto. Era um estranho presente de natal, mas era a
realidade e não se dá as costas a realidades. No começo era confuso entender o
projeto de mudança, depois, com nenhuma tentativa de melhora, percebera que o
enfermo estava morrendo. Era notório que o paciente apresentava pioras
evidentes. Há uma certa imaturidade em tudo isso, mas não podemos cobrar
maturidade nos momentos que não se cobra nada. Nem lágrimas. Seguimos então,
como duas pessoas que se amaram muito e se perderam em alguma esquina. Sem contato,
seguimos. Como mortos gelados que se esquecem nas mesas metálicas.
Quem sou, sinceramente, estudante de sociologia, daquelas pessoas que para sempre terão que conviver com a pergunta da vizinha: mas o que você faz mesmo? Leitora viciada e jogadora de xadrez aposentada.
Nasci para escrever. A palavra é meu domínio sobre o mundo. Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por que, foi esta que eu segui. Talvez porque para outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós.
Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas" Clarice Lispector
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