É
certo que mal acabara o livro e já existia uma vontade súbita de reler Dom
Casmurro, ou, Perto do Coração Selvagem, ou O Sofrimento do Jovem Werther. Cheguei
a buscar na estante os três, estão sobre a mesa, em uma ordem que não antecede O
Tesão e o Sonho, de Roberto Freire. O livro sempre foi um acalanto e um
instrumento de segregação, quando não deveria servir para esse último fim.
“Quanto sofrimento poderia ser evitado se as pessoas conhecessem e respeitassem
os sentimentos dos outros” (p.58), lera e de fato concordara com essas
palavras, queria era terminar logo esse livro e seria, de fato, hoje. Mas há de
existir amor: “abraçaram-se por muito tempo. Como se pretendessem que os
abraços e os beijos não dados pudessem ser resgatados num só instante” (p.94).
O amor, essa construção da humanidade tão dúbia, que há tempos afasta pessoa
por discordar disso ou daquilo, por uma interpretação inverídica de um possível
ideal, faz perder as sutilizas dos sorrisos, dos carinhos, do que de fato é o
amor. E vão construindo gaiolas (chamando aquilo de cuidado), vão erguendo
muros (chamando aquilo de proteção), vão se afastando dos outros (chamando de
ciúmes), e erroneamente dão a isso o nome de AMOR. Isso não é amor, nem pode
ser considerado um ideal platônico, isso
é possessão, é quando pensamos que o outro nos pertence, é quando os dois se
anulam em uma bolha imaginária de felicidade, fina e arriscada como bola de sabão.
Mas como perder os laços? Em uma sociedade tão flexível cujos elos são cada vez
mais raros, diria Bauman. Como esquecer os momentos felizes? Seria necessários esquecer?
“Experimentou um momento de rara felicidade, do qual nunca se esqueceria”
(p.95).
“Minhas glórias, meus amores, minhas dores eram todas singulares,
apenas eu os podia ter vivido; os outros não experimentariam sentimentos tão
profundos. Quanta ilusão! A dor é a mesma”. (p.109)
PRADO, F. Perdoa-me. Barueri, SP: Novo Século Editora, 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário