quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

.Como é engraçado a vida, muitas vezes as coisas estão a nossa frente e nós não há enxergamos.

É certo que mal acabara o livro e já existia uma vontade súbita de reler Dom Casmurro, ou, Perto do Coração Selvagem, ou O Sofrimento do Jovem Werther. Cheguei a buscar na estante os três, estão sobre a mesa, em uma ordem que não antecede O Tesão e o Sonho, de Roberto Freire. O livro sempre foi um acalanto e um instrumento de segregação, quando não deveria servir para esse último fim. “Quanto sofrimento poderia ser evitado se as pessoas conhecessem e respeitassem os sentimentos dos outros” (p.58), lera e de fato concordara com essas palavras, queria era terminar logo esse livro e seria, de fato, hoje. Mas há de existir amor: “abraçaram-se por muito tempo. Como se pretendessem que os abraços e os beijos não dados pudessem ser resgatados num só instante” (p.94). O amor, essa construção da humanidade tão dúbia, que há tempos afasta pessoa por discordar disso ou daquilo, por uma interpretação inverídica de um possível ideal, faz perder as sutilizas dos sorrisos, dos carinhos, do que de fato é o amor. E vão construindo gaiolas (chamando aquilo de cuidado), vão erguendo muros (chamando aquilo de proteção), vão se afastando dos outros (chamando de ciúmes), e erroneamente dão a isso o nome de AMOR. Isso não é amor, nem pode ser considerado um ideal platônico,  isso é possessão, é quando pensamos que o outro nos pertence, é quando os dois se anulam em uma bolha imaginária de felicidade, fina e arriscada como bola de sabão. Mas como perder os laços? Em uma sociedade tão flexível cujos elos são cada vez mais raros, diria Bauman. Como esquecer os momentos felizes? Seria necessários esquecer? “Experimentou um momento de rara felicidade, do qual nunca se esqueceria” (p.95).

“Minhas glórias, meus amores, minhas dores eram todas singulares, apenas eu os podia ter vivido; os outros não experimentariam sentimentos tão profundos. Quanta ilusão! A dor é a mesma”.  (p.109)


PRADO, F. Perdoa-me. Barueri, SP: Novo Século Editora, 2013.

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